Isso não é “problema fiscal”. É pura agiotagem. Só em outubro foram R$ 111,6 bilhões. Um aumento de 80,3% em comparação com o mesmo mês de 2023, quando o pagamento de juros foi de R$ 61,9 bi. A dívida cresce fundamentalmente por conta dos juros escandalosos
No exato momento em que são divulgados os dados do Banco Central, na sexta-feira (29), dando conta de que o país pagou R$ 869,3 bilhões só de juros nos últimos 12 meses até o mês de outubro deste ano, o mercado financeiro e seus porta-vozes radicalizam a pressão sobre o governo para que se efetivem cortes mais profundos nos recursos destinados à população mais pobre do país.
Houve um crescimento de R$ 50 bilhões em relação ao período terminado em setembro, quando a soma dos juros chegou a R$ 819 bilhões. Só no mês de outubro foram pagos de juros R$ 111,6 bilhões. Um aumento de 80,3% em comparação com o mesmo mês de 2023, quando o pagamento de juros totalizou R$ 61,9 bilhões.
A taxa básica de juros reais que o Brasil paga atualmente está entre as três mais altas do mundo. A mídia dos bancos faz um grande estardalhaço de que a dívida pública atingiu a casa de R$ 7 trilhões. Mas não diz que isso ocorre centralmente por conta dos juros estratosféricos. A dívida não cresce por conta de investimentos e/ou projetos sociais grandiosos, mas sim pelos juros lunáticos pagos pelo governo por seus títulos.
Fazem esse estardalhaço todo, mas a verdade é que esse valor da dívida pública brasileira é perfeitamente administrável. Desde que, é claro, a taxa de juros não seja este escândalo que é atualmente. A dívida pública dos Estados Unidos, por exemplo, é dezenas de vezes maior do que a dívida do Brasil. Ela está atualmente em US$ 36 trilhões (R$ 216 trilhões), ou 122% do PIB americano, enquanto a do Brasil está em R$ 7,073 trilhões e representa 84,6% do PIB.
Mas, os juros da divida americana são bem menores do que os praticados pelo Banco Central brasileiro nos últimos tempos. Por isso, o Tesouro Americano gasta proporcionalmente muito menos com juros em relação ao PIB do que o Brasil. O nosso país está pagando 5,96% do PIB de juros ao ano, enquanto os EUA pagam apenas 3% do PIB de juros. (Veja tabela abaixo)
O Japão é outro exemplo desta discrepância, como pode ser observado na tabela acima. Tem uma divida que é 252% de seu PIB e paga apenas 0,11% deste PIB de juros. A relação dívida/PIB do Brasil está estável e abaixo de um bom número de países. Se for levado em conta a dívida líquida (64% do PIB), a situação é ainda mais estável.
Eles alardeiam uma falsa crise fiscal no país para exigir mais arrocho e cortes sobre os recursos da sociedade. E é este arrocho, promovido para encher os cofres dos bancos, que está impedindo o país de crescer de forma sustentada e de reduzir a drástica desigualdade social.
É óbvio que o Brasil não está vivendo crise fiscal alguma, como alardeiam os bancos, sua mídia e seus “analistas” de aluguel. O que temos no país é uma crise de agiotagem. Uma ciranda desenfreada.
Os neoliberais são useiros e vezeiros na fabricação de falsas “crises fiscais”. Tanto a versão original, da década de 90, quanto o bolsonarismo agem como sanguessugas do povo. Eles esfolam a população e o setor produtivo desde que se instalaram no país. Desmantelam o Estado, vendem estatais lucrativas e desregulam o câmbio. Praticam políticas que favorecem a importação desenfreada causando a desindustrialização do país e a explosão do desemprego. A indústria era 30% do PIB em 1980 e hoje ela é menos de 11% do PIB.
Alardeiam que são paladinos do saneamento das finanças mas, na verdade, só querem se apoderar dos recursos e do patrimônio da população. São operadores de grandes negociatas, de preferência com empresas públicas. Sempre acabam endividando a economia e obrigando o país a se submeter à ciranda financeira. Tudo para cobrir os seus “rombos eternos”, rombos estes provocados por eles mesmos.
Foi assim com FHC e com Bolsonaro. Eles deixaram o Brasil quebrado e endividado. Bolsonaro, além de agravar o desemprego e a fome, de vender e destruir as empresas públicas, estimulou o ódio fascista na sociedade. A única saída para o país é romper com essa política, com a ciranda financeira, retomar os investimentos públicos, promover o crescimento sustentado da economia e enterrar de vez essa tralha fascista e neoliberal.
Para isso é fundamental a queda dos juros e a garantia de investimentos. Mas, ao contrário de reduzir os juros, como exige qualquer análise sensata do problema, o Banco Central, representando exclusivamente os interesses gananciosos do mercado financeiro, está subindo ainda mais a Selic, que já está em 11,25% nominal. Eles já falam até em aumento de um ponto percentual na próxima reunião do Copom (Conselho de Política Monetária) do Banco Central que se realiza na semana que vem.
Ao mesmo tempo que forçam a subida dos juros, os integrantes do mercado e sua mídia fazem uma pressão violenta e sem escrúpulos por cortes nos recursos orçamentários que deveriam ser destinados para a área social e para os investimentos públicos. Diante dessa criminosa pressão, Fernando Haddad, que assimila toda essa visão rentista, acabou anunciando, na noite de quarta-feira (27), um pacote de cortes nos direitos sociais e investimentos pelos próximos seis anos.
Os cortes atingiram a recuperação do salário mínimo, o BPC, o abono salarial, o Fundeb, os investimentos públicos, fundos constitucionais, etc. O pacote anunciado pelo ministro representa uma tesourada de R$ 327 bilhões até 2030, sendo R$ 71 bilhões nos próximos dois anos. Deste total, o mais atingido foi a política de Lula de recuperação do poder de compra do salário mínimo. Ela sofrerá uma redução de R$ 109,8 bilhões. Ou seja, um terço de todo o arrocho fiscal recaiu sobre as costas dos trabalhadores.
SÉRGIO CRUZ