Na madrugada desta sexta-feira, o ator Sérgio Mamberti nos deixou. Com sua saída de cena, aos 82 anos, em um hospital na capital paulista, o Brasil perde não só um grande ator, mas também um dos mais atuantes artistas em prol da cultura e do país.
“Sou gente da cultura”, afirmou em uma entrevista recente ao Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé. “Porque a cultura é alimentadora dessa utopia que temos de construirmos um Brasil mais justo”, disse.
Assim falava e assim atuava, não apenas nos palcos, nas telas de cinema, na TV, como produtor ou dramaturgo, mas na vida, como cidadão, onde emprestou sua fama, sua voz articulada e seu carisma à luta do povo brasileiro e ao fomento das políticas culturais em todos os momentos de sua longa carreira.
Paulista da cidade litorânea de Santos, Sérgio Mamberti começou sua vida artística no teatro, atuando ou dirigindo, com importantes nomes, como Ruth Escobar, Antônio Abujamra, Paulo José, Glauce Rocha, Plínio Marcos e Paulo Autran, entre tantos outros.
No cinema, participou de mais de 30 filmes, entre eles, “O Homem do Pau Brasil”, de Joaquim Pedro de Andrade; “A Hora da Estrela”, de Suzana Amaral; “O Baiano Fantasma”, de Denoy de Oliveira, e “Toda Nudez Será Castigada”, de Arnaldo Jabor. Assim como no teatro, recebeu inúmeras premiações por suas atuações.
Sua estreia na TV aconteceu ainda na década de 60, onde teve intensa participação em novelas, séries e telecines. Alguns de seus papéis mais marcantes na telinha foram o mordomo Eugênio, em “Vale Tudo”, de Gilberto Braga, na TV Globo, e o carrasco nazista Dionísio na novela “Flor do Caribe”, também na Globo. Mas o personagem mais querido que interpretou na televisão foi o Dr. Victor, no programa infanto-juvenil Castelo Rá-Tim-Bum, da TV Cultura.
A atuação de Sérgio Mamberti como articulador cultural começou ainda nas décadas de 60 e 70, quando abria as portas de seu apartamento em São Paulo para receber artistas vindos de fora que precisavam de abrigo, como o grupo musical Novos Baianos e o grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, entre outros.
Na década de 1980, foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), e ocupou diversos cargos no Ministério da Cultura e conselhos culturais nos governos do PT.
Mas sua participação na vida política do país não se deu apenas na área da administração pública e no fomento cultural. Era aberto, solidário e atuante em todas as questões que envolviam a luta contra os desmandos, a favor da educação e de melhores condições de vida para o povo.
Um acontecimento ocorrido em 2015 ilustra bem a disposição do artista em se colocar sempre ao lado do povo e das iniciativas em prol do país.
Morador do Bixiga, bairro tradicional da capital paulista, Sérgio Mamberti não se furtou em participar de um movimento organizado por uma das mais atuantes entidades estudantis do país, a União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), com sede no bairro, quando os estudantes do Ensino Médio ocuparam centenas de escolas de São Paulo contra a tentativa de fechamento de 200 unidades em todo o estado.
Na Escola Estadual Maria José, localizada na Rua 13 de Maio, no Bixiga, houve uma tentativa de desocupação forçada por policiais. Os estudantes resistiram à ação truculenta e contaram com o apoio dos moradores do bairro, que foram para a frente do colégio em solidariedade à reivindicação dos estudantes.
Dentre eles estava Sérgio Mamberti. O ator fez questão de ir para a porta da escola para manifestar solidariedade aos estudantes e chamou vizinhos e amigos para fazer uma vigília em frente ao colégio.
Este foi e sempre será o grande artista que ficará nos nossos corações. O mesmo que, na entrevista ao jornalista Altamiro Borges, do Barão de Itararé, citada no início desta matéria, também afirmou, referindo-se aos difíceis tempos atuais do desgoverno Bolsonaro: “Nunca fui de perder a esperança, sempre fui da resistência”.
Salve, salve, Mamberti!
ANA LUCIA