
“Estamos agora testemunhando uma mudança extremamente perigosa: o uso de tarifas como instrumento de tentativa de interferência nos assuntos internos de terceiros países”, disse o Itamaraty na OMC
O Brasil denunciou na Organização Mundial do Comércio (OMC) que as taxas impostas pelos Estados Unidos contra produtos de outros países são ataques “sem precedentes ao sistema multilateral de comércio” e também “instrumento de tentativa de interferência nos assuntos internos de terceiros”.
A declaração, feita em uma reunião da OMC na quarta-feira (23), recebeu o apoio de cerca de 40 governos, como China, Canadá, Rússia e União Europeia.
“Negociações baseadas na lógica do poder são um atalho perigoso rumo à instabilidade e à guerra”, considerou o representante brasileiro.
Segundo ele, “negociações baseadas na lógica do poder são um atalho perigoso rumo à instabilidade e à guerra. Diante da ameaça de fragmentação, a defesa consistente do multilateralismo é o caminho a seguir”.
No caso do Brasil, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs taxas de 50% sobre todos os produtos e pressionou pelo fim do processo contra Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado. Contra o México e a União Europeia, por exemplo, as taxas foram de 30%.
“Para além das violações generalizadas das regras do comércio internacional – e ainda mais preocupante –, estamos agora testemunhando uma mudança extremamente perigosa: o uso de tarifas como instrumento de tentativa de interferência nos assuntos internos de terceiros países”, falou o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, embaixador Philip Fox-Drummond Gough.
“Tarifas arbitrárias, anunciadas e implementadas de forma caótica, estão desorganizando as cadeias globais de valor e ameaçam lançar a economia mundial em uma espiral de preços elevados e estagnação”, continuou.
As tarifas impostas de forma unilateral “representam uma violação flagrante dos princípios centrais que sustentam a OMC e que são essenciais para o funcionamento do comércio internacional”.
“Essas medidas ameaçam permitir que o comércio global volte a ser regido pela lógica da força, criando desequilíbrios particularmente prejudiciais aos países em desenvolvimento”, destacou. “Neste momento de grave instabilidade, é imperativo que todos trabalhemos juntos em defesa de um sistema multilateral de comércio baseado em regras”, defendeu o embaixador. Ele ainda defendeu a união das “economias em desenvolvimento” pelo multilateralismo no comércio.