“O país adota uma política monetária contracionista, que já se estende desde fevereiro de 2022, impactando o crescimento econômico. Cada ponto percentual a mais na Selic representa cerca de R$ 40 bilhões por ano em despesas com juros”
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, afirma que “não há mais espaço para novos aumentos da Selic”. “Com os sinais de desaceleração da inflação e o cenário global de cortes nas taxas de juros, o Brasil deve aproveitar o momento para reduzir a Selic”, defendeu o empresário, na última quinta-feira (12).
A declaração de Alban vem em confronto às pressões que o mercado financeiro tem feito para que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) eleve a taxa básica de juros (Selic), com o objetivo de travar o “aquecimento” da economia sob a justificativa de conter a inflação. O Copom irá se reunir na próxima semana para definir o rumo da Selic, hoje em 10,50% ao ano.
Para Alban, “a manutenção de uma política monetária tão conservadora coloca o país em uma posição desfavorável na competitividade global e penaliza o crescimento econômico”.
“O país adota uma política monetária contracionista, que já se estende desde fevereiro de 2022, impactando o crescimento econômico. Cada ponto percentual a mais na Selic representa cerca de R$ 40 bilhões por ano em despesas com juros”, destaca a CNI.
Em 12 meses até julho deste ano, o setor público (União, estados/municípios e estatais) gastou R$ 869,8 bilhões (7,73% do PIB) com o pagamento de juros, segundo dados do BC. Isso é dinheiro extraído de toda sociedade brasileira, recursos que deixaram de ser transformados em investimentos para serem transferidos aos bancos, especuladores e rentistas – que não produzem sequer um prego neste país.
TERCEIRO MAIOR JURO REAL DO PLANETA
A CNI denuncia que “o elevado custo do crédito no Brasil é, em grande parte, consequência de uma taxa básica de juros real muito alta, agravada por um spread bancário expressivo”.
Conforme nota da entidade, publicada na quinta-feira (12), com “a Selic fixada em 10,5% ao ano e a inflação esperada de 3,83% nos próximos 12 meses, a taxa de juros real brasileira alcança 6,42%, significativamente superior à taxa de juros neutra estimada pelo Banco Central, de 4,75%”.
“O acesso ao crédito no Brasil é uma barreira significativa para empresas e consumidores, uma realidade marcada por altos custos e oferta escassa. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) alerta que esse cenário impede o avanço de projetos cruciais para o desenvolvimento econômico do país, afetando especialmente o setor industrial, onde cadeias produtivas mais longas sofrem com o acúmulo de custos financeiros ao longo das etapas produtivas. O resultado é um encarecimento do produto final, comprometendo a competitividade brasileira”.
A entidade cita que o Brasil ocupa a terceira posição no ranking mundial de juro real (descontada a inflação), totalmente distante da “realidade de outros países em desenvolvimento, como África do Sul, Índia e China, que possuem taxas de juros reais consideravelmente mais baixas (3,89% a.a., 2,16% a.a. e 1.15% a.a., respectivamente)”.
“Essa diferença também se verifica quando comparamos o Brasil a economias desenvolvidas. O Reino Unido, por exemplo, apresenta uma taxa de juros real de 2,39% ao ano”, cita também a CNI.
NA CONTRAMÃO DO MUNDO
A CNI também alerta que com “a tendência global de redução das taxas de juros, o Brasil corre o risco de se distanciar ainda mais do cenário internacional se mantiver sua Selic nos patamares atuais”.
“Recentemente, países como China e México reduziram suas taxas básicas, enquanto economias desenvolvidas, como o Reino Unido e o Canadá, também seguiram o mesmo caminho”, lembra a CNI.
Entre junho e setembro, o Banco Central Europeu (BCE) cortou a taxa de juros em 0,50 ponto, fixando-a nos atuais 3,50%. Nos Estados Unidos, há sinalização pelo Federal Reserve (BC estadunidense) de um possível corte na taxa de juros.
SPREAD BANCÁRIO MAIS ALTO DO PLANETA
A CNI também aponta que junto com o alto nível nocivo da Selic, o Brasil também enfrenta “um dos spreads bancários mais altos do mundo, atingindo 27,4%, segundo o Banco Mundial”.
“Essa diferença é acentuada quando comparada a países como o Peru, onde o spread é de apenas 7,8%. A elevada concentração bancária no Brasil contribui para essa distorção. Em 2021, cinco bancos dominavam quase 80% dos ativos do sistema bancário, o que limita a competitividade e eleva o custo do crédito para as empresas”, critica a CNI.
“Em junho de 2024”, também ressalta a entidade, “as empresas brasileiras se financiavam, em média, a uma taxa de 20,94% ao ano. Pequenas empresas, contudo, enfrentam condições ainda mais duras, com taxas quase duas vezes superiores à média”, denuncia a CNI.