“Um país mais arrumado não retiraria todo o auxílio [emergencial] de uma vez”, abrevia Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central (1999-2002) durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso e um dos expoentes do neoliberalismo no Brasil.
Fraga participou de evento da Fitch, na quinta-feira (21), onde disse que, apesar de a saída sanitária estar prejudicada pela “logística e falta de entusiasmo do governo”, acredita na vitória contra o coronavírus em 2021. Contudo, a “postura reativa” do governo pode fazer com que os problemas, sobretudo econômicos, persistam até 2022.
“Mesmo as expectativas modestas de aprovação de uma PEC [proposta de emenda à Constituição] emergencial, alguma coisa que ancorasse o lado fiscal, não aconteceram”.
Citando o “risco fiscal”, o ex-presidente do BC lamenta que os investimentos no Brasil estejam prejudicados – o que trava a possibilidade de o país se recuperar.
Apesar de reconhecer que o que impede os investimentos é a insanidade e a inação do governo frente à crise, Fraga insiste na ladainha da redução do Estado. “O setor público está bastante inchado e não sobra espaço no Orçamento de 2021 para investir e isso tem um impacto enorme na capacidade do país crescer”, diz ele.
“Menos que 1% do PIB [Produto Interno Bruto] é muito pouco”, diz o atual sócio do Gávea Investimentos. O Orçamento de 2020 previa 0,3% do PIB (Produto Interno Bruto) de investimento do setor público – o que, em valores corrigidos, é menor do que a verba investida em 2004.
Nesse cenário, ele próprio reconhece que o Estado terá que aumentar seus gastos. Fraga sugere que não é possível esperar que a maior parte de investimentos venha do setor privado, que inclusive já vinha caindo desde 2019.
“A [saída da] Ford foi um extra para quem não tinha percebido que o país está parado”, disse.
Fraga afirmou, em entrevista recente, que diante do quadro atual do governo Bolsonaro, que suas propostas o colocam “à esquerda”. “Para o Brasil de hoje, as propostas que eu tenho feito, os estudos que eu tenho desenvolvido, me colocam à esquerda” afirmou.
Ele prosseguiu dizendo que “uma esquerda para valer não é uma esquerda que fica dando dinheiro para rico”. É verdade. No Brasil só quem cresceu e ganhou muito dinheiro nos últimos anos foram os bancos que usaram a dívida como sugadouro dos recursos do Orçamento.