Alguns resultados das eleições municipais realizadas no último domingo (6), como a vitória em primeiro turno do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), sobre o bolsonarista Alexandre Ramagem (PL), e a do atual prefeito de Recife, João Campos (PSB), de lavada contra todos os seus adversários, parecem ser sintomas – particularmente este último – de que o país está em busca de boas alternativas para o seu futuro.
Mas, sem dúvida, a derrota da versão mais degenerada do fascismo, que surgiu em São Paulo, na figura do marginal condenado e preso por integrar quadrilha de golpes bancários, Pablo Marçal, foi um dos fatos mais significativos dessas eleições. Quem achava que o bolsonarismo representava o que havia de mais rasteiro na política, se deparou com algo ainda mais torpe. Algo vindo do esgoto político e da bandidagem para pregar ódio e violência contra tudo o que foi construído coletivamente no Brasil.
Marçal usou e abusou, criminosamente, de todo o instrumental digital – principalmente os ilegais – para incutir nas pessoas o individualismo mais acentuado e o ódio visceral a tudo o que significasse coletividade, cidadania e respeito ao direito e a honra das pessoas. Seu lema era se dar bem de qualquer jeito, principalmente pisando sobre os outros.
Para enriquecer – ou prosperar, como dizia o marginal – vale qualquer coisa. Não pode respeitar nada, muito menos a honra das pessoas. Precisou que ele levasse uma cadeirada na cabeça para perceber que o país não admitiria o seu criminoso “vale-tudo”.
Como disse o jornalista Luiz Carlos Azedo, ao analisar as eleições, na sua coluna publicada no HP nesta segunda-feira (7), “com Paes eleito e Marçal fora da disputa, o pior passou”. É exatamente isso o que ocorreu. Eduardo Paes derrotou Bolsonaro em seu berço político, que é o Rio de janeiro, e isso foi uma vitória importante contra o retrocesso. Mas o fato de Marçal ter ficado fora do segundo turno em São Paulo, representou uma vitória ainda maior dos brasileiros, porque impediu que o pior e mais podre da política se criasse na principal capital do país.
Acoplado ao banditismo e à falta de caráter, Pablo Marçal destilou o ódio e o anticomunismo mais viscerais surgidos nos últimos tempos no Brasil. Ele surgiu dando golpes em outras pessoas – foi preso em flagrante roubando contas bancárias – e enriqueceu assim. Por isso, qualquer coisa que significasse esforço coletivo, defesa de direitos sociais, progresso econômico ou solidariedade era apontado por ele como escandaloso e inaceitável. Qualquer um que defendesse alguns desses princípios era apontado pelo marginal como fazendo parte de um “consórcio comunista” a ser destruído.
O fato de um elemento desqualificado como ele ter obtido um apoio razoável – quase passou Guilherme Boulos – entre os eleitores de São Paulo merece uma reflexão mais profunda dos democratas brasileiros. Este clima propício à demagogia fascista e ao ódio, como o destilado por Marçal, é fruto da devastação econômica, do estímulo à jogatina financeira, do aumento da pobreza e da desesperança social provocadas pela política neoliberal no Brasil.
Este “ódio” é fruto do fechamento de indústrias, da precarização do trabalho e da consequente expansão da miséria, do medo e da fome. Isso tudo é o que leva à desesperança e ao crescimento da demagogia política.
Essa situação tem provocado uma tensão e um esgarçamento social sem precedentes. As pessoas esperam ansiosas por uma retomada do desenvolvimento e pela melhoria de sua vida. A decepção pela demora em ver atendidas essas justas aspirações tem criado nos últimos tempos um caldo de cultura para os demagogos e fascistas de todos os tipos.
Marçal e outros imbecis terem atraído mais votos dos paulistanos do que mereciam deve acender a luz entre todos nós e, principalmente, entre os apoiadores do atual governo.
É um sinal claro de que é necessário resolver com urgência os limites fiscais e juros proibitivos que amarram os investimentos e impedem o desenvolvimento nacional. É um sinal mais do que evidente de que é urgente pisar fundo no acelerador do crescimento.
O que está sendo feito, atualmente, parece não estar sendo suficiente. Só uma mudança forte na atual política econômica restritiva poderá sinalizar ao povo, reduzir a desesperança e dar um basta à demagogia fascista.
O presidente Lula sabe disso. Ele já fez algo semelhante em seu segundo mandato. As coisas estavam ruins naquela ocasião, e ele disse ao então ministro da Fazenda, Guido Mantega, que tinha que mudar tudo. Avisou que sua meta a partir daquele momento era crescer 5% ao ano. Foi dali que surgiu o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o país cresceu a 7%. Os problemas políticos acabaram. Agora, estão querendo impor a ele o máximo de 3% de crescimento do PIB. Só podem estar querendo agravar a crise.
Foi a grande esperança depositada no projeto do presidente Lula que garantiu a vitória da democracia sobre o golpismo bolsonarista na eleição presidencial de 2022. Trata-se da mesma esperança que agora está levando o candidato Guilherme Boulos ao segundo turno das eleições municipais. Essa esperança não pode ser frustrada pela insistência em se manter a qualquer custo a ditadura fiscalista que amordaça o país.
O resultado das eleições de domingo apontam que a “ditadura fiscalista” imposta pelo capital financeiro ao Brasil, mantendo o país estagnado, deve ser derrotada o mais rapidamente possível. É ela que alimenta o fascismo e a intolerância na política.
A demagogia fascista se cria na desesperança provocada pela política neoliberal que ainda persiste no país. E ela persiste apesar de todos os esforços do presidente Lula em superá-la. Ajudar Lula a derrotar os “quinta-colunas” e retomar seu projeto de fazer “40 anos em 4”, referindo-se aos “50 anos em 5” de Juscelino, será a melhor forma de enterrar de vez os “marçais”, os “bolsonaros” e todo tipo de fascismo no Brasil.
SÉRGIO CRUZ
Extremamente nocivos comentários para a PLENA DEMOCRACIA. Um simples olhar ao redor, só se vê roubos, olhares tristes e assustados. Desempregos, fome, ameaças à liberdade, rompem barreiras retroativas aos tempos dos coronéis, sim senhor!
Querem tirar o direito da resposta, não Senhor. DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA E LIBERDADE!
Nocivo é o fascismo. O problema do fascista é que ele sempre quer liberdade para si e opressão para os outros, para a maioria, para o povo, para a população. Assim foram Hitler, Mussolini – e, naturalmente (ou pervertidamente), Bolsonaro. Marçal era um candidato a führer. Ainda bem que foi escorraçado pelos eleitores.