Brasil não deve ser refém do dólar, nem dos EUA, diz presidente da Frente Parlamentar do BRICS

Deputado Fausto Pinato (PP-SP), presidente das frentes parlamentares do BRICS e da China (Foto: Renato Araújo - Câmara dos Deputados)

Deputado Fausto Pinato reforça a necessidade de sistema de pagamento próprio do bloco. Ideia é dar ênfase à utilização de moedas locais e limitar a interferência de moedas estrangeiras

“Não podemos desistir, principalmente os países mais pobres, em desenvolvimento, pois eu entendo que chegou a hora de dar um grito de socorro, um grito de ‘queremos direitos iguais’. Eles [os Estados Unidos] não podem tirar nossa capacidade de desenvolvimento, não podem querer dar as cartas – se um país ou outro quer investir ou quer fazer negócio conosco”, disse o deputado Fausto Pinato (PP-SP).

Pinato disse isso no 2º Fórum do Brics de Valores Tradicionais, com o tema “Unindo tradições, fortalecendo nações”, organizado pela Frente Parlamentar do Brics no Congresso Nacional e pela Aliança de Mulheres do Brics.

O evento, realizado na Câmara dos Deputados, se encerra nesta quinta-feira (17), e discute temas como desdolarização, turismo sem visto entre países do bloco, preservação da cultura, inovação, saúde e meio ambiente.

O deputado Fausto Pinato (PP-SP) é da bancada ruralista e preside, desde 2015, as frentes parlamentares Brasil-China e do Brics.

Trata-se, o BRICS, de foro de articulação político-diplomática de países do Sul Global e de cooperação nas mais diversas áreas. É formado por 11 países membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.

DESENVOLVIMENTO DO BRICS PAY

Novo cenário no setor de pagamentos internacionais começa a tomar forma com o desenvolvimento do Brics Pay. A plataforma visa atender à necessidade crescente de facilitar transações entre os países membros do BRICS. Assim, a ideia é dar ênfase à utilização de moedas locais e limitar a interferência de moedas estrangeiras, como o dólar.

Tal iniciativa surge num contexto em que a busca por alternativas ao sistema financeiro tradicional se intensifica, especialmente diante de mudanças geopolíticas e desafios econômicos globais.

O Brics Pay surge fundamentado em modelo de mensagens descentralizadas para operações transfronteiriças. Esse sistema, que nasceu na Universidade de São Petersburgo (Rússia), estrutura-se para reunir diferentes tecnologias modernas de transferência.

Entre essas o SBP, da Rússia, que apresenta base diversificada e alcance significativo no cenário bancário daquele país. A proposta da nova ferramenta não é apenas integrar os mercados financeiros dos países do bloco, mas também garantir maior autonomia e segurança nas operações realizadas.

COMO FUNCIONARÁ O BRICS PAY

O funcionamento do BRICS Pay se apoia em rede independente dos modelos tradicionais, como o Swift, que utiliza abordagem descentralizada.

Assim, a plataforma permitirá que transferências entre bancos de diferentes países ocorram de modo direto. O objetivo é reduzir etapas burocráticas e eliminar a conversão obrigatória de moedas em dólares. Segundo especialistas do setor, isso resultará em operações mais ágeis, econômicas e seguras.

Além disso, haverá integração entre diferentes sistemas. Destaque importante é a pontual inclusão do mecanismo brasileiro PIX, que passa a ser adaptado para o exterior por meio do Brics Pay.

Isso significa que operações feitas com PIX poderão sair do Brasil e chegar a outros países membros, como Rússia, China, Índia e África do Sul, sem o trâmite habitual de conversão cambial em dólares.

QUAIS OS OBJETIVOS E BENEFÍCIOS

Entre os benefícios previstos pelo novo sistema, destaca-se a redução dos custos de transação. Afinal, as múltiplas conversões monetárias, exigidas pelo uso do dólar como moeda intermediária, frequentemente aumentam as despesas de empresas exportadoras e importadoras.

Ao viabilizar o câmbio direto entre moedas nacionais, o BRICS Pay simplifica o processo e diminui taxas bancárias, incentivando o crescimento das trocas comerciais entre os países envolvidos.

Redução de custos e taxas: menor dependência de bancos intermediários internacionais.

Maior segurança: estrutura descentralizada que dificulta sanções e interferências externas.

Facilidade operacional: integração de ferramentas populares, como PIX e SBP, ampliando a praticidade.

Autonomia financeira: promove o uso de moedas locais e a independência em relação ao dólar.

Além dos benefícios para os governos e grandes empresas, microempreendedores e usuários finais também podem ser favorecidos por processo menos custoso e mais ágil, inclusive em pagamentos de valores menores e na remessa de dinheiro entre familiares.

HEGEMONIA DO DÓLAR

Uma das principais discussões em torno do BRICS Pay é potencial impacto dessa plataforma sobre a predominância do dólar nas operações de comércio global.

Desde o século passado, a moeda americana é referência nas transações internacionais, servindo como meio de troca e reserva de valor para diferentes nações. Com a entrada de sistema próprio do BRICS, que opera à margem das principais redes financeiras ocidentais, existe expectativa de enfraquecimento progressivo dessa hegemonia.

As transações passam a ser realizadas diretamente em moedas locais. Os bancos e sistemas dos países do bloco mantêm controle sobre dados e operações. E reduz-se, significativamente, a exposição a medidas como bloqueios ou sanções econômicas.

DESCENTRALIZAÇÃO NA INFRAESTRUTURA

A descentralização na infraestrutura e a integração com métodos já consolidados, como o PIX, tendem a consolidar o BRICS Pay como alternativa viável tanto para pequenas quanto para grandes operações internacionais.

O reforço da parceria entre os integrantes do bloco pode resultar em novas dinâmicas no sistema financeiro mundial ao longo dos próximos anos.

O lançamento do BRICS Pay marca não apenas resposta às demandas dos países do bloco, mas também tentativa estratégica de reposicionamento no mercado global.

Inovação, busca por maior autonomia e cooperação financeira são os pilares que devem orientar os próximos passos dessa nova plataforma, cujos impactos começam a ser sentidos já a partir do lançamento em setembro de 2025.

(Com informações da Câmara dos Deputados)

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