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A Liga Árabe alertou o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) que a pretendida transferência da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém poderá prejudicar as relações brasileiras com os países árabes. A carta dirigida a Bolsonaro, assinada pelo secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, foi entregue ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil e veio a público nesta terça-feira (11). O governo que se prepara para assumir dá sinais de que vai seguir um alinhamento automático e burro aos EUA sem nenhum benefício para o país e em prejuízo dos interesses políticos, estratégicos e comerciais brasileiros.
Embaixadores de países árabes se reunirão em Brasília para discutir a intenção de Bolsonaro de seguir a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém e, desta forma, reconhecer a cidade dividida entre israelenses e palestinos como a capital de Israel. A Assembleia Geral e o Conselho de Segurança condenaram a decisão de Trump pois é uma transgressão das leis internacionais, em especial das resoluções da própria ONU. (v. ONU derrota posição de Trump sobre Jerusalém por 128 a 9 e Por 14×1, ONU reprova no CS Jerusalém ser capital de Israel).
O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Zeben, afirmou que as intenções do governo brasileiro em mudar sua embaixada são lamentáveis. “Jerusalém é uma cidade ocupada. As Nações Unidas não reconhecem a soberania israelense sobre a cidade. E é uma tradição do Brasil, desde 1947, respeitar o direito internacional e não dar esse reconhecimento. Isso não é linha do PT, da direita ou da esquerda, mas uma tradição diplomática”, afirmou o embaixador. “Teremos a maior boa vontade de explicar ao futuro governo brasileiro a posição palestina”, completou Zeben.
O reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel por Trump, em dezembro de 2017, foi criticado pela União Europeia e por países árabes porque rompe com o consenso internacional de não reconhecer a cidade como capital da Palestina ou de Israel até que um acordo de paz seja firmado entre as duas partes. O mundo inteiro respeita essa decisão, com exceção apenas dos EUA e Guatemala. “Dar um passo como esse não apenas atingiria os interesses palestinos, mas também reduziria drasticamente as oportunidades de alcançar uma paz mais ampla”, diz trecho da carta de Aboul Gheit. Ele pediu que Bolsonaro “considere o ponto de vista árabe como uma maneira de preservar a duradoura amizade”.
A carta entregue ao Itamaraty diz que transferência da embaixada para Jerusalém poderia prejudicar relações do Brasil com países árabes, que representam valioso mercado para exportações brasileiras. Juntos, os países árabes são o segundo maior comprador de proteína animal brasileira. Em 2017, as exportações somaram US$13,5 bilhões e o superávit para o Brasil foi de US$ 7,17 bilhões. O Brasil é um dos maiores exportadores de carne Halal do mundo – carne preparada conforme prescrito pela lei muçulmana.
As relações comerciais entre os países árabes e o Brasil, contudo, não se limitam à venda de carnes Halal. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, de janeiro a setembro deste ano, o Brasil exportou para o Oriente Médio — excluído Israel — um total de 9,6 bilhões de dólares em produtos. O Irã foi o sexto maior comprador de bens brasileiros, com 4,6 bilhões dólares.
O Brasil será muito prejudicado com essa decisão de mudar a embaixada apenas para mostrar obediência aos EUA e seguir cegamente seus conflitos internacionais. Como disse Fernando Henrique Cardoso, “eles querem fazer a guerra dos EUA sem ser os EUA”. Os exportadores de carne também pressionaram Bolsonaro, que aparentava ter mudado de ideia. Mas o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito, disse que a mudança da embaixada “não é questão de se, mas de quando”, em uma declaração depois de visitar recentemente o conselheiro e genro de Trump, Jared Kushner, na Casa Branca.
A Liga Árabe é uma organização de Estados árabes fundada em 1945 com o objetivo de reforçar e coordenar os laços econômicos, sociais, políticos e culturais entre os seus membros. A organização conta com 22 membros: Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Qatar, Comores, Djibouti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Palestina, Síria (suspenso), Omã, Somália, Sudão e Tunísia.
O anúncio da mudança da embaixada para Jerusalém foi elogiado como sendo “histórico” pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que planeja participar da posse presidencial de Bolsonaro, segundo a equipe de transição do governo. O comércio com Israel computou um déficit de 419 milhões de dólares em negociações em 2017. Israel importou 256 milhões de dólares do Brasil no mesmo período, o que coloca o país no posto de 64º maior mercado brasileiro.
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