“A taxa de investimento no segundo trimestre foi de 16,8% do PIB, muito abaixo do necessário para sustentar um crescimento de 5% ao ano. Estudos mostram que, para atingir essa meta, precisamos de uma taxa entre 24% e 25% do PIB”, diz o presidente do Conselho de Administração Gino Paulucci, no 9º Congresso da ABIMAQ
A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) realizou seu 9º Congresso no dia 17 de setembro, sob o tema “Política industrial, produtividade e desenvolvimento”. O evento reuniu lideranças do setor e especialistas e contou com a participação especial do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
Gino Paulucci Jr., presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ, assim como do sindicato patronal (SINDIMAQ), ao abrir o evento destacou que desde o Consenso de Washington o Brasil realizou inúmeros programas de incentivo à indústria, mas que não impediram o processo de desindustrialização do país.
“Durante a última década, depois do Consenso de Washington, a defesa do tema política industrial tornou-se polêmica. O Consenso entre os economistas era de que os países precisavam ter um bom controle da inflação e dos gastos do Estado, privatizações das empresas estatais e maior abertura econômica para atingir o equilíbrio fiscal e assim propiciar crescimento. O Brasil, apesar disso, ainda lançou o programa de Política Industrial e Tecnologia e de Comércio Exterior em 2004, a política de Desenvolvimento Produtivo em 2008 e o plano Brasil Maior em 2011, além de algumas políticas setoriais como o Promin e o Inovar Auto”.
“Todas as políticas estavam focadas em incentivos fiscais e subsídios, porém não combinadas com ações macro econômicas. Sem metas claras e sem a resolução de nossos problemas sistêmicos, apesar deles, acabamos com forte processo de desindustrialização precoce”, ressaltou Paulucci.
O presidente da Abimaq ressaltou os incentivos que outros países vêm realizando para fortalecer sua indústria. “Recentemente, no mundo, diversos países, em especial os mais desenvolvidos, têm lançado mão de investimentos em política industrial, como o Made in China 2025, Inflex Reducion Act e o Chip Since Act nos Estados Unidos e na União Europeia com o Chip Act e o Green Deal Industrial”.
Segundo ele, “a dúvida é se os benefícios da implantação dessas políticas suplantarão os desequilíbrios fiscais nesses países”, e se políticas assemelhadas aqui no Brasil, como a Nova Indústria Brasil (NIB), poderão atingir o “equilíbrio fiscal” e assim propiciar crescimento.
Em relação aos investimentos, Paulucci chamou atenção para o baixo percentual de formação bruta de capital fixo no Brasil.
“A taxa de investimento no segundo trimestre foi de 16,8% do PIB, muito abaixo do necessário para sustentar um crescimento de 5% ao ano. Estudos mostram que, para atingir essa meta, precisamos de uma taxa entre 24% e 25% do PIB”, defendeu o presidente da ABIMAQ, reafirmando que para que o Brasil atinja seus objetivos da neoindustrialização é necessário que a indústria recupere o protagonismo como impulsionador de serviços sofisticados, sustentando o crescimento de novas bases.
GERALDO ALCKMIN
O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, em seu discurso, defendeu a reindustrialização do Brasil como caminho para o desenvolvimento sustentável, ressaltando a necessidade de políticas industriais robustas, focadas em inovação tecnológica e na transição energética.
“Gostaria de destacar a importância da ABIMAQ nas suas propostas e da indústria de máquinas, que é a indústria que faz o país crescer, a indústria do desenvolvimento”, afirmou Alckmin.
O vice-presidente também mencionou a importância da Nova Indústria Brasil (NIB) e destacou alguns programas que beneficiarão a indústria nacional, como o Brasil Mais Produtivo, voltado para melhorar a eficiência de pequenas e médias empresas, com um orçamento de R$ 2 bilhões e a meta de alcançar aproximadamente 300 mil empresas.
Além disso, Alckmin mencionou a importância da Lei do Bem, que irá gerar R$ 5,5 bilhões em créditos tributários anuais, além da Lei da Informática e PADIS, com R$ 7 bilhões por ano de incentivos fiscais. “Isso traz previsibilidade e segurança para novos investimentos”.
Em seu discurso, Geraldo Alckmin destacou ainda a relevância do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para o fortalecimento e competitividade da indústria nacional; o programa MOVER (Mobilidade Verde), com R$ 3,5 bilhões em créditos para a indústria automotiva, impulsionando a inovação e a descarbonização; a importância de pautas para o setor de máquinas e equipamentos, como a desoneração da folha de pagamento, e a depreciação acelerada para compra de máquinas e equipamentos, estimulando novos investimentos e modernização industrial; e anunciou o Reintegra de transição, com foco inicial em pequenas empresas, para incentivar a exportação.
RAFAEL LUCCHESI
Representando a Confederação Nacional da Indústria (CNI) Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial da entidade, iniciou sua intervenção ressaltando que o Brasil fez uma grande escolha quando apostou no Agro no primeiro governo Lula, quando o Brasil escolheu a criação do plano safra, que obteve excelentes resultados. “Não começou com o tamanho que tem hoje: R$ 475 bilhões de Plano Safra, com R$ 17 bilhões para a equalização da taxa de juros, direto do Tesouro Nacional”.
“No ano seguinte criou as LCAs, que tem um estoque, aí, perto de R$ 500 bilhões, sendo que esse ano foram R$ 108 bilhões e isso impulsionou muito o agronegócio brasileiro”, completou.
“Qual é o tamanho da agricultura e da pecuária, hoje, no PIB brasileiro: 7,1%, paga 0,8% da carga fiscal total brasileira Se pegarmos o quanto o Agro – agricultura e agropecuária paga de tributos é R$ 12 bilhões. Quanto a agricultura e a pecuária recebem de isenções e incentivos se aproximam de 100 bilhões. Se nós pegarmos os últimos 20 anos, a média está em torno de 5, hoje está em 7. Foi importante para Brasil. Tem uma competitividade muito importante e foi uma escolha de futuro”, disse Lucchesi.
“Mas, se nós olharmos os últimos dez anos, o crescimento da última década, ele é absolutamente medíocre. O crescimento do PIB brasileiro é 0,5% ao ano, A agricultura cresceu 3,3% ao ano. Serviços teve um crescimento de 0,8% e a indústria de transformação teve um decréscimo de 1,8% ao ano”.
“É uma demonstração cabal de que nós precisamos completar uma agenda de construção do futuro, não apenas escolhendo o Agro. Ele não vai empurrar um projeto de país, da dimensão de um país continental como o Brasil, com mais de 200 milhões de habitantes, com uma renda per capita média e com os ganhos de produtividade necessária. A indústria é o setor que é mais sofisticado, que assegura o maior progresso técnico, que paga os melhores salários e a que empurra a agenda de maior complexidade produtiva pra cima”, reforçou o diretor da CNI.
Segundo Lucchesi, “o que aconteceu nos últimos anos, aonde o Brasil teve uma desindustrialização precoce e massiva é uma demonstração clara que as ideias que nós abraçamos, como sociedade, como país, em torno do Consenso de Washington são inservíveis”.
“Todos os países que adotaram o Consenso de Washington na América Latina e no Leste Europeu, a própria Rússia é um exemplo disso, o PIB da Rússia hoje é a metade do que era da União Soviética em 1990, que também adotou esse receituário restritivo do choque. Uma única sociedade não adotou isso, que foi a China, cresceu 100 vezes”.
Lucchesi cita que quando Deng Xiaoping visitou os EUA em 1979, o PIB da China frente aos Estados Unidos era de 1%. “Por paridade de compra do poder da moeda, em 2017 a China se torna a maior economia do planeta. No ano anterior, por comparação ao Brasil, a China superou o Brasil em renda per capita”.
“A propósito, em 1980 a produção industrial brasileira era maior do que a China e a sul-corena somadas. Na história de um país, 40 anos é muito pouco. Então, podemos dizer que a China fez tudo certo e nos consagramos fazendo tudo errado, do ponto de vista de destruição de complexidade produtiva”, disse. ““O Brasil é o que mais perdeu, então nós temos, obviamente, que abandonar o processo. Ter coragem de abandonar o fracasso!”
De acordo com o diretor da CNI, “o Brasil não tem que abandonar o Agro. Não há uma contradição séria, seria uma estupidez colocar a indústria contra o Agro. Eles se somam. O que a indústria precisa fazer, e a sociedade brasileira, porque essa é uma percepção de desenvolvimento, é construir uma ideia superior de desenvolvimento sustentável”.
Uma das ações chave para mudar essa situação, aponta Lucchesi é a política industrial, “ela ainda é pequena, os valores são modestos, pode-se ter mais ousadia”.
Sobre o “equilíbrio fiscal”, Lucchesi diz que essa é uma discussão importante e precisa ser melhor discutida e afirmou que “o Brasil paga hoje uma taxa básica de juros excessiva, isso pune o setor produtivo como um todo, particularmente a indústria”.
O Congresso da Abimaq ocorreu às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetário do Banco Central que elevou a taxa básica da economia Selic em 0,25 ponto percentual para 10,75% (18/9), com o Brasil, mantendo o país em segundo lugar no ranking mundial de juro real.
VITOR LIPPI
O deputado federal e presidente da Frente Parlamentar da Indústria de Máquinas e Equipamentos (FPMAQ), Vitor Lippi, também presente no evento, defendeu a importância de políticas industriais para o crescimento do Brasil, destacando que o país tem crescido abaixo da média mundial devido à desindustrialização acelerada.
Apesar disso, celebrou o aumento de legislações favoráveis à industrialização e à inovação no Brasil em 2024, destacando a retomada do Ministério da Indústria.
O deputado citou o projeto de criação da LCD (Letra de Crédito de Desenvolvimento). “Nós já temos LCD do agronegócio e do setor imobiliário, e hoje eles movimentam mais de R$ 100 bilhões. Isso deverá acontecer também com a LCD, que será exclusivo para a indústria e para setores de desenvolvimento. Isso vai dar resultados daqui a um ou dois anos, quando teremos mais recursos no BNDES, que está ampliando o financiamento para a indústria”.
J.AMARO
O vídeo com o conteúdo completo do Congresso encontra-se no Yuotube: https://www.youtube.com/live/5qgJd_ogOgk
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