Brasil quer ficar bem com a China, com os EUA e com todo o resto do mundo, diz Lula

Lula em entrevista na Malásia (reprodução)

“Não queremos uma nova guerra fria”, destacou o líder brasileiro. O presidente aproveitou a estada na Malásia para declarar apoio à entrada do país asiático no BRICS (grupo dos principais países do Sul Global)

O presidente Lula concedeu entrevista coletiva à imprensa em Kuala Lumpur, capital da Malásia, nesta segunda-feira (28), no encerramento de sua visita oficial ao país. Na entrevista, o presidente Lula fez um balanço da viagem e destacou que ela foi um grande sucesso. Ele aproveitou para declarar apoio a entrada da Malásia no BRICS (grupo dos principais países do Sul Global)

Lula lembrou que ele foi o primeiro chefe de Estado brasileiro a participar da Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), onde celebrou a entrada de Timor-Leste como 11º membro do bloco. Segundo o presidente, “o Sudeste Asiático é o epicentro do crescimento global e polo de inovação tecnológica, prioridades da política externa brasileira”.

“Nós passamos muito tempo achando que os Estados Unidos iam resolver os problemas do Brasil. Depois achávamos que era a União Europeia que resolveria os problemas da miséria e da fome que atingem a população do país. Agora sabemos que não é nada disso. Quem vai resolver os problemas do Brasil são os brasileiros”, disse Lula, relatando a reunião que teve com o presidente dos EUA, Donald Trump. Lula disse que informou a Trump que o país tem déficit comercial com os EUA e cobrou a reversão das punições a membros do Judiciário.

Lula destacou ainda o interesse estrangeiro no modelo energético brasileiro: “Há muita disposição em conhecer o que é a transição energética que o Brasil está pensando. Um país que tem quase 90% da sua energia elétrica renovável e que defende o fim dos combustíveis fósseis.” Questionado por uma jornalista britânica sobre o papel da China no cenário global, Lula afirmou que o Brasil “não tem preferência por países” e defendeu equilíbrio: “Queremos manter belíssima relação com os Estados Unidos e belíssima relação com a China. Não aceitamos uma nova guerra fria.”

“Se depender de mim e de Donald Trump chegaremos a uma acordo”, disse Lula. “Assim que ele suspender as tarifas, iniciaremos as negociações. Eu disse a Trump que queremos fazer um bom acordo e ele disse também que quer fazer um bom acordo com o Brasil. Então acho que chegaremos a um acordo favorável ao Brasil. Tenho certeza que em poucos dias chegaremos a um acerto que seja bom para o povo brasileiro e para o povo americano”, destacou o presidente.

“Estou muito otimista com a reunião de ontem e tenho certeza que chegaremos a um bom termo. Nós somos um dos poucos países que têm déficit comercial com os EUA”, disse Lula, observando que Bolsonaro é coisa do passado. “Eu disse a ele tudo o que ocorreu no Brasil. A tentativa de golpe e de assassinato de autoridades, etc. Expliquei que o ex-presidente teve um julgamento justo e todo o direito de defesa, coisa que eu não tive”, disse Lula, destacando que o presidente Trump ouviu com muita atenção.

Em tom descontraído, Lula lembrou que completou 80 anos durante a viagem. “Eu nunca me senti tão vivo e com tanta vontade de viver. Espero chegar aos 120”, brincou. Ele avaliou que a visita foi “mais uma viagem exitosa do governo brasileiro ao exterior” e elogiou o primeiro-ministro malaio, Anwar Ibrahim, a quem chamou de “figura extraordinariamente agradável, que gosta do Brasil e quer ter uma relação muito forte com o povo brasileiro”.

Assista a entrevista de Lula na Malásia

O presidente ressaltou que o comércio do Brasil com Indonésia e Malásia, hoje em torno de US$ 12 bilhões, “é muito pouco diante do potencial econômico desses países”. Ele cobrou mais ousadia dos ministros e empresários brasileiros: “Ao invés de ficar no zap todo dia, tem que viajar o mundo para vender o que o Brasil produz.” Lula também destacou a importância da presença de empresários brasileiros nas missões internacionais: “O presidente da República não faz negócio. Ele apenas abre as portas para que os homens de negócio façam negócio.”

A coletiva encerrou a agenda de Lula na Malásia, que incluiu a participação na cúpula da Ásia do Leste e um jantar oferecido em sua homenagem pelo primeiro-ministro Anwar Ibrahim. O presidente retorna ao Brasil após três dias de compromissos na Ásia e com a perspectiva de novos acordos comerciais e cooperação tecnológica. Lula concluiu a entrevista reafirmando a defesa da paz e da diplomacia. “O Brasil é paz e amor. Não queremos guerra, queremos negociação. Não queremos confusão, queremos resultado.” Ele ainda destacou o papel do país na busca por soluções diplomáticas para conflitos como o da Venezuela e da Ucrânia, propondo “diálogo e mediação, não a lógica das armas”.

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