O Brasil está buscando parceria com a China no serviço de internet via satélite que, se implementada, irá reduzir a dependência brasileira aos satélites do bilionário Elon Musk, seguidor de Trump.
O governo brasileiro quer concorrência no setor de satélites em órbita baixa para ampliar o acesso à internet às famílias, escolas e empresas que estão localizadas em regiões rurais e remotas no país.
A estratégia prevê a entrada da empresa chinesa de satélites SpaceSail no mercado brasileiro. No mês passado, o ministro de Comunicações Juscelino Filho e o secretário de Telecomunicação da pasta, Hermano Barros Tercius, visitaram a sede da fabricante de satélites, em Shanghai, na China.
“Conheci as instalações da empresa, incluindo a fábrica e o centro de controle. Queremos ampliar a oferta de satélites de baixa órbita no Brasil e, assim, contribuir para a expansão da conectividade e levar internet a mais brasileiros, principalmente aqueles que vivem em áreas remotas”, escreveu o ministro, em sua rede social.
A SpaceSail ainda depende da aprovação do governo chinês para atuar no Brasil. Barros Tercius explica que o Brasil deve assinar memorandos de entendimento sobre o assunto com o gigante asiático, durante a visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao país, que ocorrerá em 20 de novembro deste ano, após reunião de cúpula do G20.
“Estamos tentando avançar nessa parceria”, disse o secretário de Telecomunicações, em entrevista nesta semana à Bloomberg News. “Com Xi Jinping no Brasil, tentaremos tornar isso viável de alguma forma, na tentativa de conseguir que ele autorize”.
Segundo a reportagem da Bloomberg, o governo brasileiro também teria oferecido o Centro de Lançamento de Alcântara, no Estado do Maranhão, para uso de testes pela SpaceSail.
“Independentemente da questão envolvendo a Starlink, é importante ter outra empresa para que haja concorrência, uma opção para os brasileiros”, defendeu Tercius, em outra entrevista, ao jornal “O Globo”.
Hoje, a Starlink de Elon Musk é a principal fornecedora de internet via satélite no Brasil, com uma participação de mercado de 46%. Em 2022, Jair Bolsonaro (PL) entregou ao norte-americano a região amazônica para exploração de serviços de internet, com a justificativa de levar internet para 19 mil escolas do Amazonas. Mas, ao invés de atender estudantes, o que se viu até agora, são denúncias de que as antenas da Starlink estão sendo usadas pelo garimpo ilegal, segundo uma investigação feita pelo Ibama.
Musk é conhecido por desrespeitar as leis dos países em que suas empresas atuam. Recentemente, o bilionário teve sua plataforma de comunicação X, antigo Twitter, retirada do ar no Brasil, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), que entendeu que a rede agiu para instituir um ambiente de “terra sem lei”.
“[Após] os reiterados, conscientes e voluntários descumprimentos das ordens judiciais e inadimplemento das multas diárias aplicadas, além da tentativa de não se submeter ao ordenamento jurídico e ao Poder Judiciário brasileiro, para instituir um ambiente de total impunidade e ‘terra sem lei’ nas redes sociais brasileiras, inclusive durante as eleições municipais de 2024”, escreveu o ministro Alexandre de Moraes, em decisão que suspendeu a atuação da plataforma no Brasil.