“O Brasil acompanha o trabalho valoroso do grupo”, disse Alexandre Silveira. Segundo ele, “a Opep+ preserva a estabilidade dos mercados de petróleo e energia”. “Esperamos nos juntar ao grupo e trabalhar com todos os 23 países nos próximos meses e anos”, destacou o ministro
O ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, reuniu-se nesta quinta-feira (30) com a direção da OPEP+ e sinalizou que o Brasil poderá aceitar o convite feito pelo grupo de países que controla 40% da produção mundial de petróleo. O convite foi feito após a visita de Lula a Arábia Saudita.
“Esperamos nos juntar a este distinto grupo e trabalhar com todos os 23 países nos próximos meses e anos”, destacou Silveira, durante o encontro com os diretores da OPEP+.
O ministro fez declarações cheias de elogios à Opep+, dizendo que o Brasil acompanha com entusiasmo o trabalho “valoroso” do grupo. Segundo ele, a Opep+ preserva a “estabilidade dos mercados de petróleo e energia”. Ele disse ainda que esta “estabilidade traz consigo benefícios não só a países produtores de petróleo, mas também aos consumidores”.
“É um momento histórico para o Brasil e a indústria energética, abre um novo capítulo na história do diálogo e cooperação no campo de energia”, afirmou o ministro brasileiro.
Na reunião, Silveira disse ainda que o presidente Lula “confirmou nossa carta de cooperação com o grupo de países produtores de petróleo a partir de janeiro de 2024”.
O ministro acrescentou que “está tudo certo, de acordo”, mas lembrou que “há uma etapa de análise detalhada pela nossa equipe técnica do documento recebido agora há pouco que faz parte do protocolo do Brasil”.
Em setembro, Lula afirmou que a adesão do Brasil ao grupo de produtores e exportadores de petróleo dependeria “da circunstância política”. Na recente visita à Arábia Saudita, maior exportador global de petróleo, Lula conversou com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, sobre o potencial das exportações brasileiras.
Desde 2017, o Brasil se destaca como o maior produtor de petróleo da América Latina, segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE).
A Petrobrás tem aumentado sua produção e, em setembro, houve recorde mensal de produção com 4,1 milhões de barris de óleo equivalente (boe), 6,8% superior a agosto. Nesse mesmo mês, o montante de óleo equivalente operado somente no pré-sal foi de 3,43 milhões de barris, quantidade que também foi recorde. No âmbito desse crescimento expressivo da indústria petrolífera brasileira, a AIE estima que a produção global de petróleo crescerá 5,8 milhões de barris por dia até 2028. Desse aumento, aproximadamente 25% será proveniente da América Latina.
Há, entretanto, uma controvérsia sobre qual deve ser a decisão do Brasil. Alguns setores não comemoram o fato do Brasil estar aumentando sua produção de petróleo e receber o convite para integrar o grupo de produtores que defende os seus preços internacionais do óleo diante das pressões exercidas por grandes consumidores liderados pelos EUA. “Essa conversa já tinha aparecido no governo Bolsonaro e felizmente foi ultrapassada”, disse a ex-diretor-geral da reguladora do setor de petróleo Magda Chambriard. “Pessoalmente, acho que só atrapalha”, completou.
O professor Ildo Sauer titular do Instituto de Energia da USP e ex-diretor da Petrobrás é um defensor da entrada do Brasil na OPEP+. Ele defendeu recentemente este ideia, em entrevista ao HP. “Há um conflito geopolítico muito claro no mundo. Os países ricos da OCDE junto com a China querem cada vez mais produção de petróleo ao menor custo, e o preço depende de uma questão geopolítica”, afirmou o professor.
“Como nós sabemos, na Arábia Saudita o custo do barril direto – custo de capital e trabalho – é cerca de dois dólares, no Pré-sal brasileiro é dez dólares, fora as transferências e os custos indiretos. Aí ele chega a 30 dólares, ou pouco mais. Mas mesmo assim, com o preço de 80 dólares, ou noventa ou setenta, o excedente econômico é enorme. São 40 a 50 bilhões de dólares em disputa por ano neste segmento, que poderia financiar a educação pública, a saúde pública, e ajudar a ter uma política de preços para transferir parte dessa riqueza para a população brasileira”, argumentou.
“O que os países importadores querem? Preços mais baixos. O que os países produtores precisam buscar? Preço equilibrado para abrir mão do petróleo agora – 60, 80 dólares por barril – e gerar excedente. Isto pode ser distribuído para a população, resgatar a dívida social – educação, saúde pública, vimos agora o papel importante do SUS (Sistema Único de Saúde) – e também favorecer os consumidores especialmente dentro daqueles segmentos de produção vinculados à modernização brasileira. Esse projeto político é fácil de ser feito. Ele está em conflito geopolítico, portanto”, acrescentou.
Ildo criticou a evasão para grupos de interesse, inclusive internacionais, do excedente econômico oriundo do petróleo brasileiro. “O excedente total, que é no mínimo, por ano, nas condições atuais, de 40 bilhões de dólares, na minha opinião, está sendo retirado da riqueza que pertence ao povo brasileiro, que, pela Constituição, é dona do petróleo”.
“Temos a Petrobrás com sua construção histórica capaz de cumprir a tarefa de retirá-lo. na trajetória adequada, para coordenar a produção brasileira de maneira soberana, com os demais produtores vinculados à Opep e à Rússia. Com isso podemos garantir um preço que compense o valor dessa riqueza. Podemos equilibrar o interesse da população geral, dona do petróleo, com o interesse dos consumidores”, prosseguiu.
“Por que isso não foi feito até agora? Não foi por falta de proposta. Foi por falta de estruturação política, de força política, de vontade política, de acordos políticos, porque foi mais fácil, ao longo das últimas décadas, sucumbir às pressões dos interesses de grupos que mantiveram substancialmente a trajetória liberalizante de 95, cujos resultados têm sido dramáticos no setor elétrico e tem sido dramático também no setor de petróleo” argumentou.