
O Brasil atingiu em 2024 o maior número de feminicídios já registrado desde o início da série histórica do Mapa da Segurança Pública, divulgado pelo Ministério da Justiça nesta quarta-feira (11). Foram contabilizados 1.459 assassinatos de mulheres motivados por razões de gênero. O número representa uma média de quatro mortes por dia e um aumento de 0,69% em relação a 2023, quando foram registrados 1.449 casos. A alta reverte a tendência de queda observada no ano anterior e confirma a pior marca já documentada no país.
Em média, cerca de quatro mulheres foram assassinadas por dia no ano passado devido à violência de gênero, em contextos domésticos, familiares, ou por menosprezo e discriminação relacionados à condição feminina.
Além dos assassinatos consumados, as tentativas de homicídio contra mulheres também cresceram expressivamente. Em 2024, foram 8.648 registros — uma alta de 16,1% em comparação ao ano anterior. O aumento mostra que a violência letal contra mulheres não é um evento isolado, mas parte de um ciclo contínuo de agressões que, muitas vezes, só não terminam em morte por circunstâncias externas.
O Centro-Oeste aparece como a região mais crítica do país. Enquanto a média nacional é de 1,34 feminicídio para cada 100 mil mulheres, a região alcança a taxa de 1,87. O dado reforça a necessidade de políticas públicas regionais focadas na prevenção da violência de gênero.
O cenário se agrava ainda mais com os números relacionados aos crimes sexuais. Em 2024, o Brasil registrou 83.114 casos de estupro — o maior número dos últimos cinco anos — com média de 227 ocorrências diárias. A maioria das vítimas, 86%, é do sexo feminino. Em 2023, haviam sido registradas 82.204 vítimas, o que comprova uma escalada contínua do problema.
A Região Sudeste concentrou o maior número absoluto de casos, com 29.007 vítimas. No entanto, em termos proporcionais, o destaque negativo é da Região Norte, que lidera com 62,44 casos por 100 mil habitantes. O Centro-Oeste aparece em seguida, com taxa de 57,73. A Região Nordeste apresentou a menor taxa do país, com 29,01 ocorrências por 100 mil. Entre os estados, São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro foram os que apresentaram os maiores números absolutos de vítimas.
QUEDA DOS HOMICÍDIOS DOLOSOS
Enquanto a violência de gênero avança, outros tipos de crime apresentaram retração em 2024. Os homicídios dolosos — que consideram mortes com intenção — somaram 35.365 casos no ano, o que representa uma queda de 6,3% em relação ao ano anterior. Ainda assim, a média permanece alta: 97 homicídios por dia.
“Essa queda reafirma que as políticas públicas estão no caminho certo para garantir mais segurança à população. Também obtivemos reduções importantes nos crimes patrimoniais, além da diminuição da violência letal por intervenção de agentes do Estado”, destacou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski.
No lançamento do levantamento, o ministro pontuou que o Governo Federal repassou, por meio do Fundo Nacional de Segurança Pública, mais de R$ 2,4 bilhões, entre 2023 e 2024, para investimentos na melhoria da capacidade operacional de estados e municípios. “Seguiremos avançando para construirmos juntos um Brasil mais seguro, mais justo e mais solidário e um Brasil onde a criminalidade não tenha mais vez”, frisou.
Também houve redução nos latrocínios (roubos seguidos de morte), que passaram de 972 em 2023 para 956 em 2024 — uma queda de 1,65%. As mortes decorrentes de intervenções policiais caíram de 6.391 para 6.134, recuo de 4%. No entanto, o total de tentativas de homicídio no país cresceu 7,47%, com 40.874 ocorrências — uma média de 112 vítimas por dia.
Nos crimes patrimoniais, o relatório aponta queda em todas as categorias analisadas. O roubo de carga teve redução de 13,6%. O furto de veículos caiu 2,6%, enquanto os roubos de veículos apresentaram queda de 6%. Já os roubos a instituições financeiras tiveram a maior retração, com 22,5% a menos em comparação a 2023.
No enfrentamento ao tráfico de drogas, o levantamento destaca que as apreensões de maconha aumentaram 10%, somando 1,4 mil toneladas — uma média de 3,8 toneladas confiscadas por dia. Esse é o maior volume registrado nos últimos dois anos, embora os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro não tenham enviado seus dados, o que pode indicar que os números reais sejam ainda maiores.
Os dados apresentados no Mapa da Segurança Pública de 2025 escancaram a urgência de enfrentar a violência de gênero com políticas públicas mais eficazes, integradas e regionais. Enquanto a criminalidade em diversas frentes recua, a persistência e o crescimento da violência contra mulheres demonstram que o Brasil ainda falha na proteção de metade da sua população.