“O credor virou as costas para o devedor 7 anos atrás. Fechou aqui, inclusive, a embaixada”, afirmou o ministro Paulo Teixeira. Foi reaberta a negociação e vários projetos de cooperação foram assinados
O encontro do presidente e Lula com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, após a Cúpula de Chefes de Estado e Governo do G77 + China, realizado em Havana no fim de semana, sinalizou para a retomada de relações normais entre os dois países depois da hostilidade com que Jair Bolsonaro tratou o país caribenho. Foram assinados memorandos de cooperação nas áreas de saúde, ciência e tecnologia e desenvolvimento agrário.
Não só houve um avanço nos projetos de cooperação entre os dois países nas áreas de Saúde, Ciência & Tecnologia e na área de desenvolvimento agrário, como abriram-se os canais para se discutir um plano para a retomada do pagamento da dívida de Cuba com o BNDES.
Em entrevista, o ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, avaliou que o impasse no pagamento da dívida poderá ser superado com a normalização das relações entre os dois países. “O credor virou as costas para o devedor 7 anos atrás. Fechou aqui, inclusive, a embaixada. Acho que se trata agora de retomar esse debate, retomar essa negociação”, disse o ministro.
Na área de Ciência e Tecnologia, foi reativado o Comitê Gestor Brasil-Cuba de Ciência, Tecnologia e Inovação. A intenção é que o comitê volte a se reunir no prazo de 60 dias para discutir cooperação científica e tecnológica entre os 2 países, com prioridade em biotecnologia, bioeconomia, biorrefinarias, biofabricação, energias renováveis, ciências agrárias, soberania, segurança alimentar, clima, sustentabilidade, redes de ensino e pesquisa.
“Nós queremos retomar, não só na área do complexo industrial de saúde, mas em outras áreas mais abrangentes, como a bioeconomia. Queremos fazer uma nova reunião do comitê em 60 dias. É uma relação em que a gente aprende e aquilo que a gente tem mais expertise a gente oferece, a gente procura uma lógica de cooperação e parceria saudável, que faz com que a gente encontre soluções pro Brasil e pra Cuba”, afirmou a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, que acompanhou Lula na viagem.
Na área de saúde, foi assinado um protocolo de cooperação que prevê a troca de tecnologias e conhecimento em temas como doenças crônicas, vacinas, biotecnologia e biodiversidade, doenças transmissíveis e negligenciadas. O protocolo também prevê o desenvolvimento de produtos inovadores.
“A importância desse acordo é que o Brasil se beneficia de um conhecimento de ponta que Cuba desenvolveu, investimentos de anos nessa área. Nesse desenvolvimento conjunto, o Brasil entra com sua expertise em pesquisa clínica e a sua capacidade de produzir em escala, em laboratórios públicos e laboratórios privados”, disse a ministra da Saúde, Nísia Trindade.
O documento inclui ainda uma associação entre a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e a Biocubafarma. Essa associação vai possibilitar transferência de tecnologia para a produção nacional do NeuroEpo, um medicamento inovador usado para retardar os efeitos do Alzheimer e da eritropoietina, além de utilizado no tratamento de anemia por insuficiência renal, leucemia e outras doenças.
O ministro Paulo Teixeira assinou um convênio com o governo cubano para o estabelecimento de um programa de cooperação na área agrícola, que contempla as áreas de agricultura, pecuária, agroindústria, governança da terra, soberania e segurança alimentar e nutricional.
Teixeira aponta a cooperação técnica em sementes e mudas, bioinsumos e fertilizantes, agricultura de conservação, agricultura urbana e periurbana, produtos alimentares prioritários para consumo humano e animal, reprodução de espécies agroalimentares prioritárias, uso eficiente da água, cadastro e gestão da terra e abastecimento agroalimentar.