
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que o Brasil vai aderir “em breve” à ação movida pela África do Sul acusando Israel de cometer genocídio contra a população palestina na Faixa de Gaza.
Em entrevista ao jornal Al Jazeera, sediado no Catar, Mauro Vieira apontou que a tradição diplomática brasileira demonstra a importância do multilateralismo e das negociações.
Questionado sobre por que o Brasil não apoiou formalmente a ação contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), Vieira respondeu: “nós iremos”.
“Nós estamos trabalhando nisso e você receberá boas notícias em breve”, continuou.
Segundo ele, o Brasil fez “um grande esforço para tentar convocar negociações e os últimos desenvolvimentos dessa guerra nos fez tomar a decisão de aderir à ação da África do Sul no CIJ”.
Desde outubro de 2023, Israel já assassinou mais de 58 mil palestinos na Faixa de Gaza. O governo israelense tem falado publicamente que deseja expulsar os palestinos da região.
Os que desejarem ficar em sua terra, de acordo com o plano de Israel, serão colocados em um campo de concentração. O local será fechado e ninguém poderá entrar ou sair.
O conflito na região também escalou quando Israel e os Estados Unidos decidiram bombardear instalações nucleares no Irã.
A África do Sul acusa Israel de estar cometendo um genocídio porque pretende “destruir uma parte substancial do grupo nacional, racial e étnico palestino”.
O crime consiste em “matar palestinos em Gaza, causar sérios danos físicos e mentais e lhes impor condições de vida calculadas para causar sua destruição física”.
BRICS: MULTILATERALISMO E COOPERAÇÃO
Mauro Vieira declarou que o Brasil acredita no multilateralismo e olha para o BRICS “exatamente uma forma de aprimorar e desenvolver iniciativas multilaterais”. Para ele, “apenas através de iniciativas multilaterais nós podemos combater guerras comerciais ou defender os interesses de nossos próprios interesses. A armas dos países subdesenvolvidos é o multilateralismo. Isso é algo que nós sempre fizemos e é marca de nossas relações externas”.
Vieira destacou que o BRICS não é um organismo criado para enfrentar o “ocidente”, mas para fortalecer as posições de países em desenvolvimento e impedir ações unilaterais, como as taxas de 50% impostas por Donald Trump contra todos os produtos brasileiros.
Vieira destacou que o Brasil é um “país de discussão, de conciliação e cooperação. Essa é a marca de nossa política externa. Nós tentamos discutir e, então, esperamos conseguir atingir nossos resultados”.
Uma das ferramentas mais importantes do BRICS é o Novo Banco do Desenvolvimento, que foi criado por “países em desenvolvimento para promover o desenvolvimento destes mesmos países”.
O Banco “já aprovou US$ 45 bilhões em empréstimos para áreas específicas como desenvolvimento de infraestrutura, saúde, educação e outras. Eu acho que esse é um exemplo muito bom do que os países do BRICS significam e estão buscando. Exemplo da qualidade dos programas que queremos levar à frente”, explicou o chanceler. O “Banco do BRICS”, mesmo assim, “ainda é um bebê” e tem muito espaço para crescer, disse.
Sobre a participação da China no BRICS enquanto país com a economia mais forte, Mauro Vieira apontou que o país tem muito a compartilhar e com os demais membros.
“A China, quando tudo começou, em 2008 e 2009, e todo o mundo eram totalmente diferentes. Acredito que o desenvolvimento que a China promoveu é algo que pode ser compartilhado e utilizado por outros países. Eles podem compartilhar o conhecimento e a experiência, assim como podemos em outras áreas com outros membros do BRICS”, disse.