“Hoje nós temos uma janela de oportunidade, mas essa janela de oportunidade ela é curta, ela é estreita, se nós ficarmos pensando apenas em equilíbrio fiscal e alocando os recursos para essa ciranda financeira, seguramente nós vamos estar condenando o futuro”, alerta empresário
O diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, defendeu nesta terça-feira (23) no evento “A indústria no Brasil hoje e amanhã”, organizado pelo jornal “O Estado de São Paulo”, que o Brasil precisa de “uma estratégia ativa de desenvolvimento industrial”, assim como foi feito para o agronegócio, que desde 2003 tem o Plano Safra, e que neste ano conta com um aporte de mais de R$ 400 bilhões.
Ao iniciar seu discurso, Lucchesi destacou que, no momento em que o mundo vive uma nova revolução industrial, “nós vivemos também um período com uma nova geopolítica, com desacoplamento do ocidente ao oriente com profundas transformações, com tensionamentos e guerras do século 20 e 21, como é o caso da guerra da Ucrânia”.
De acordo com ele, “o Brasil pode tirar vantagens desse processo. Normalmente nesses períodos de incerteza é quando você abre oportunidades para que novas nações se posicionem. Nós crescermos há 100 anos atrás, e nos tornamos o país que mais cresceu no mundo, exatamente no período de crise de hegemonia que houve entre a primeira guerra mundial, a crise de Wall Street, e a segunda grande guerra. E o Brasil inflexionou, pensando com pensando original e foi o país que mais se desenvolveu no mundo por cinco décadas. E esse movimento nasceu aqui, nessa casa, na Fiesp, liderada pelo presidente dessa instituição Roberto Simonsen e hoje nós vivemos um momento semelhante de oportunidades para o Brasil”.
“Precisamos ter uma estratégia, ter uma missão de reindustrializar o Brasil”, ressaltou no evento realizado na sede da Fiesp em São Paulo. “O Estado brasileiro, ele custa R$ 3,3 trilhões. Nós temos um Plano Mais Produção de R$ 300 bi para 4 anos, são R$ 75 bi, na sua maioria comprometido”, constatou Rafael Lucchesi. “Mas o mundo está alocando 12 trilhões de dólares em políticas industriais”, enfatizou.
“A NIB (plano Nova Indústria Brasil) é um ótimo signo. Da mesma maneira, aqui em 2003, o governo de então criou o Plano Safra e isso se tornou um programa de Estado. No ano seguinte, em 2004, criou as LCAs, as letras de crédito agrícola, que acabam criando uma isenção fiscal e reduz o custo do investimento. Agora nós estamos criando o Plano Mais Produção. Isso não tem que ser um plano de governo, tem que ser um programa de Estado”, defendeu. “Para isso, é fundamental numa democracia moderna, uma agenda de pressão política. Da mesma maneira que estamos criando as LCDs, as letras de crédito de desenvolvimento, reduzindo o custo do investimento no país. Esse tem que ser um programa de Estado. Essa agenda será fundamental, a partir da capacidade da indústria brasileira de fazer a pressão política necessária”, declarou Lucchesi.
“Nós temos que construir um ambiente mais favorável para uma escolha de futuro, de prosperidade para o Brasil”, ressaltou o economista, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Essa escolha de futuro, para o empresário, passa pelo fortalecimento da indústria, a exemplo do que ocorreu com o agro. “O Brasil escolheu ser competitivo com o agro – com crédito agrícola, subvenção, isenção – a partir de políticas públicas, mas com limite de expressão no PIB. Temos que fazer a receita que fizemos para o agro para o desenvolvimento industrial”, defendeu.
“Não é singular que todos os países ricos enriqueceram a partir da indústria”, ressaltou Lucchesi. “Essa é uma escolha de futuro, de prosperidade, de projeto de país, de sociedade”, observou.
Segundo o empresário, “o Brasil não pode se prender ao fracasso das ideias que nós adotamos como verdade única aonde nos levou à adesão incondicional dos princípios que nortearam a agência de políticas públicas no Brasil nos últimos 40 anos. O Brasil foi o que mais perdeu, o que mais retrocedeu em complexidade produtiva nos últimos 40 anos. É lamentável, o Brasil escolheu”.
“Eles [as economias dos EUA e da União Europeia] querem construir o futuro, e é óbvio, depois desse ciclo de transição, que é a primeira das grandes características do mundo que nós vivemos hoje, eles vão nos empurrar as escadas. Eles vão reconstruir a OMC. Eles vão falar novamente de livre comércio. Eles vão é mudar o jogo. O jogo é determinado no concerto das nações porque tem mais influência de geopolítica”, lembrou o empresário, e prosseguiu.
“Hoje nós temos uma janela de oportunidade, mas essa janela de oportunidade ela é curta, ela é estreita, se nós ficarmos pensando apenas em equilíbrio fiscal e alocando os recursos para essa ciranda financeira – com esse rentismo improdutivo que não gera um prego no sabão, do ponto de vista de riqueza e prosperidade -, seguramente nós vamos estar condenando o futuro. Romper com isso não será fácil. E a união é o elemento chave de transformação. A indústria brasileira tem que estar unida. A Fiesp, Firjan e a CNI têm dado esse exemplo”, conclamou.