Dois meses e oito dias após o primeiro caso confirmado, o Brasil chegou a 7.321 mortes pelo novo coronavírus e 105.222 registros da Covid-19, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde nesta segunda-feira (4).
Segundo o governo, foram 296 novas mortes confirmadas nas últimas 24 horas, além de 4.075 novos casos.
A taxa de letalidade — que compara os casos totais registrados pelos números de óbitos confirmados — no Brasil é de 6,9%, segundo a atualização do governo.
No total, as mortes em decorrência do coronavírus confirmadas em cada estado são:
Acre (28); Alagoas (72), Amapá (49); Amazonas (585); Bahia (134); Ceará (691); Distrito Federal (33); Espírito Santo (116); Goiás (30); Maranhão (249); Mato Grosso (13); Mato Grosso do Sul (10); Minas Gerais (90); Pará (330); Paraná (94); Paraíba (62); Pernambuco (691); Piauí (28); Rio Grande do Norte (62); Rio Grande do Sul (74); Rio de Janeiro (1065); Rondônia (25); Roraima (11); Santa Catarina (52); São Paulo (2.654); Sergipe (17); Tocantins (6).
Representantes da pasta reconhecem que há uma tendência de agravamento na crise pela Covid-19 no país, mesmo que nesta segunda-feira, o índice tenha sido menor do que o registrado até o final da semana passada. Uma média de 400 mortes por dia
O registro de 7.288 mortes também já é maior do que estimavam aliados do presidente Jair Bolsonaro. Em março, o empresário paranaense Junior Durski, dono da rede de restaurantes Madero, compartilhou um vídeo em que dizia que o número de mortes no Brasil não seria tão grande quanto o desemprego. Ele dizia que não passaríamos de 5 mil a 7 mil mortes.
Quarto maior em número de mortes nos últimos 14 dias
Mesmo antes da divulgação dos dados desta segunda-feira, o Brasil já havia se tornado preocupação mundial. Dados divulgados, no domingo (3), pelo Centro de Prevenção e Controle de Doenças da Europa indicam que o país já é quarto com maior número de casos registrados por Covid-19 nos últimos 14 dias.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o Brasil já registrou o quarto maior número de mortes no mundo em 24 horas, considerando números entre sábado e domingo.
Os novos números da agência oficial da União Europeia confirmam esse temor. Em 14 dias (considerando até o dia 3 de maio), foram 59,9 mil novos casos confirmados no Brasil. No total, o país registrava 96,5 mil. Nos últimos 14 dias, a liderança é dos EUA, com 397 mil novos casos. A Rússia vem em segundo lugar, com 87 mil, contra 68 mil no Reino Unido.
Nos organismos internacionais, a postura do governo Bolsonaro, disputas políticas e atitudes para negar a gravidade da pandemia são avaliadas como fatores agravantes.
No dia em que o Brasil passou das 7 mil mortes, Bolsonaro voltou a provocar aglomerações e descumprir orientações das autoridades sanitárias. Ele participou de mais um ato a favor do governo e de medidas antidemocráticas, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
Os manifestantes pediram intervenção militar e criticaram a Câmara dos Deputados, o Supremo Tribunal Federal e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro – que acusa o presidente de tentar interferir politicamente na Polícia Federal para proteger seus filhos e a si mesmo.
Sem máscara, Bolsonaro foi para a frente do Palácio do Planalto, de onde acenou para manifestantes que se aglomeravam em frente ao prédio.
No sábado, Bolsonaro também provocou aglomerações, repetiu críticas aos governadores por causa do isolamento social determinado nos estados, seguindo a recomendações dos especialistas em saúde. Ele e sua comitiva viajaram para a região da cidade de Cristalina (GO).
ONU
As atitudes de Bolsonaro diante da pandemia são criticadas em programas de TV no exterior, artigos em alguns dos principais jornais do mundo e duro questionamento por parte de especialistas e pela ONU.
A OMS indicou que estava “profundamente preocupada” com a aceleração de casos na América do Sul. Michelle Bachelet, alta Comissária da ONU para Direitos Humanos e ex-ministra de Saúde no Chile, lamentou que o governo brasileiro não admita a pandemia no país.
Dois relatores da ONU, com o apoio de outros cinco especialistas da entidade, denunciam as “políticas irresponsáveis” de Bolsonaro durante a pandemia da Covid 19.
Os relatores condenaram a política de colocar a “economia acima da vida”, apesar das recomendações da OMS. “Economia para quem?”, “não pode se permitir colocar em risco a saúde e a vida da população, inclusive dos trabalhadores da saúde, pelos interesses financeiros de uns poucos”, insistiram. “Quem será responsabilizado quando as pessoas morrerem por decisões políticas que vão contra a ciência e o aconselhamento médico especializado?”, questionaram.
Bolsonaro ainda motivou um protesto por parte de deputados do Parlamento Europeu. Um grupo formado por Miguel Urbán Crespo, Marisa Matias, Helmut Scholz e Katerina Konecná enviou uma carta ao representante da UE para Assuntos Exteriores, Josep Borell, criticando Bolsonaro e alertando que sua atitude poderia ter agravado a crise..
“Em geral, os apelos do presidente para que os brasileiros ignorem as medidas de isolamento estão empurrando o país para uma nova polarização entre apoiadores e detratores do presidente, mas esta pandemia não é uma questão de ideologias, é um problema de saúde pública”, indicaram. “Consideramos que aproveitar este momento de angústia nacional para politizar um drama no qual está em jogo a vida de milhares de pessoas pensando em sua reeleição é um crime contra a humanidade pelo qual ele poderia ser julgado em tribunais internacionais”, completaram os deputados, que pediram que a União Europeia “censure e rechace energicamente a atitude do presidente Bolsonaro”.