O Brasil chegou a 600.077 mortos pela Covid-19, nesta sexta-feira (8). A informação foi divulgada pelo consórcio de veículos de imprensa. Em meio ao completo descaso do governo Bolsonaro com a população do nosso país, atingimos a infame marca de ser o segundo a superar as 600 mil mortes confirmadas por Covid-19, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
O número é atingido em um momento de arrefecimento da doença diante do avanço da vacinação, que foi sabotada pelo governo federal desde o início e só avançou graças à pressão de governadores, prefeitos e da sociedade.
Em 19 de junho havíamos atingido 500 mil mortes por Covid-19, há 111 dias. Na ocasião, o país chegou a marca apenas 50 dias depois de registrar 400 mil.
Os números colhidos desde o início da pandemia mostram ainda que o Brasil demorou 144 dias desde o primeiro óbito registrado em março de 2020 para chegar aos 100 mil mortos, depois 152 até às 200 mil vítimas, em 7 de janeiro deste ano. Após isso, o intervalo foi diminuindo. Foram 76 dias até as 300 mil mortes e apenas 36 para contabilizar mais 100 mil e atingir os 400 mil óbitos.
A marca é atingida em um momento em que estados e cidades brasileiras flexibilizam medidas de distanciamento social, com a volta de eventos e liberação quase integral de atividades econômicas. Especialistas, porém, alertam que não é hora de relaxar e recomendam a continuidade de medidas como o uso de máscaras e controle de aglomerações. O Brasil ocupa a terceira posição no ranking mundial de mortes diárias.
Protestos homenageiam as vítimas
Um ato na Praia de Copacabana lembrou, nesta sexta-feira (8), as 600 mil mortes pela Covid no Brasil. A ONG Rio de Paz estendeu em um varal na areia, em frente ao Copacabana Palace, 600 lenços brancos. A manifestação da Rio de Paz também é em repúdio ao modo como o governo federal e parte da sociedade vêm tratando a pandemia desde o início da crise sanitária.
Ao meio-dia, os 600 lenços foram entregues ao taxista Márcio Antônio, que perdeu o filho para a Covid em abril de 2020. Em um ato da ONG no ano passado, também em Copacabana, Márcio recolocou cruzes que haviam sido derrubadas por um homem contrário ao protesto.
Os lenços desta sexta serão levados por Márcio Antônio e pela ONG Rio de Paz a Brasília, no dia 19, data de encerramento da CPI da Covid. O material será entregue ao senador Randolfe Rodrigues, vice-presidente da CPI.
“Houve um morticínio no Brasil. Se queremos tirar alguma lição dessa espantosa perda de vidas a fim de que sofrimento como esse não se repita no nosso país, precisamos responder a uma pergunta central: quem são os responsáveis por esta tragédia?”, questiona o presidente da ONG Rio de Paz, Antonio Carlos Costa.
“Houve insensibilidade por parte do presidente da República, que fez piada com a agonia das vítimas”, emendou.
Na manhã desta sexta, um grupo de manifestantes promoveu ato em frente ao Palácio do Planalto, na Praça dos Três Poderes. Eles levaram cruzes em memória à marca de 600 mil mortos pela Covid-19. O ato também pediu o impeachment de Jair Bolsonaro.
Com cartazes dizendo “600 mil mortes, Fora Bolsonaro”, os indivíduos entoaram gritos pedindo a saída do presidente. Outras pautas também foram lembradas durante o protesto.
No Ceará, os médicos da rede de saúde local realizaram nesta sexta, uma manifestação em Fortaleza em homenagem às 600 mil vítimas da Covid-19 no Brasil. Os profissionais da saúde também cobraram apurações sobre a responsabilidade do Governo Federal no controle da pandemia, considerado como um “crime contra a humanidade”, diante da marca de mortes pela doença.
A manifestação foi realizada na Praia de Iracema com faixas e a colocação de cruzes na areia da praia. Sem aglomeração, esteve presente apenas um pequeno número de participantes, com distanciamento entre as pessoas e uso de máscaras.
Os médicos e médicas participantes da manifestação integram o Coletivo Rebento/Médicos em Defesa da Vida, da Ciência e do SUS, a Associação Brasileira de Médicos e Médicas pela Democracia e a Rede Nacional de Médicos Populares/Ceará.
Os manifestantes cobram a apuração das responsabilidades e a punição do Governo Federal, além do Conselho Federal de Medicina (CFM) diante de ações que consideram fatores para a ampliação dos riscos para a população brasileira e o aumento dos patamares de novos casos, internações e mortes.
Entre esses motivos, os médicos cearenses ressaltam a postura do governo de criticar o isolamento social.
“A defesa de que a população se expusesse e se contaminasse, sem isolamento social, com falsa dicotomia entre vidas e empregos, e com a defesa de medicamentos ineficazes contra a Covid-19, como tentativa de justificar o boicote mesmo de medidas básicas, como distanciamento social e uso de máscaras”, ressalta o texto dos organizadores.
Avanço da vacinação trás esperança
O avanço da vacinação contra a Covid-19 no Brasil nos dá esperança de que nosso país vencerá esta crise. Pelo menos oito estados do país registraram uma queda de 70% no número de hospitalizações por infecções com o novo coronavírus se comparado ao período auge da pandemia.
Levantamento dos dados das secretarias de Estado da Saúde mostra que com 44% dos brasileiros vacinados completamente (duas doses, ou dose única) e 70% com apenas uma dose: Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Pará, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraíba e Tocantins tiveram quedas expressivas nas internações. Os dados foram coletados pelo Jornal ‘O Globo’.
Os dados comprovam que, apesar da sabotagem e do discurso antivacina de Jair Bolsonaro, a imunização da população brasileira está colocando à vista a saída do Brasil da pandemia. Durante a Assembleia Geral da ONU, realizada em Nova Iorque no mês de setembro, Bolsonaro falou ao primeiro-ministro da Inglaterra, Boris Johnson, em tom de deboche, que não se vacinou contra a Covid-19. Já Michelle Bolsonaro se vacinou durante a viagem aos EUA, quando estava longe do marido.
CPI deve pedir indiciamento de Bolsonaro
O encerramento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado deve contar com o cantor Ivan Lins e representantes das vítimas de Covid-19. Segundo o relator do colegiado, Renan Calheiros (MDB-AL), seu parecer contará com ao menos 40 responsabilizados, mas a relatoria ainda estuda quais são os tipos penais cabíveis para cada um dos citados.
Marcada para 19 de outubro, às 9h, a cerimônia de encerramento da CPI será no mesmo dia da apresentação do relatório de Renan, que será votado no dia seguinte.
Ele e o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), conversaram com Ivan Lins, que está em Portugal, para usarem a música “Aos nossos filhos”. O artista não só autorizou o uso da canção, como se dispôs a vir ao Brasil para apresentá-la na solenidade.
Renan reforçou que o relatório final da CPI indiciará Jair Bolsonaro por crime de responsabilidade.
“Há uma definição sobre a utilização do crime de responsabilidade. Vamos responsabilizar o presidente e outras pessoas do governo e do Estado brasileiro que por omissão participaram dessa tragédia [da pandemia no Brasil]”, disse. “Vamos utilizar nessa responsabilização vários tipos de crimes comuns e, em alguns casos, crime contra saúde pública. Estamos avaliando a possibilidade de responsabilizar o presidente pelo crime de genocídio”.
O senador reforçou a importância de a sociedade seguir mobilizada, cobrando punições, responsabilizações e esclarecimentos, mesmo após a entrega do relatório final da CPI. As acusações contra o presidente serão encaminhadas para a Procuradoria-Geral da República (PGR), que tem o prazo de 30 dias para avaliação e encaminhamento. Outros processos serão direcionados para instâncias do Ministério Público Federal (MPF).
“A CPI demonstrou para o Brasil que o presidente, além de não querer comprar vacina, quando o fez foi por atravessadores, que queriam potencializar o preço. Temos que responsabilizar as pessoas que participaram desse encaminhamento”, pontuou Calheiros. “Tivemos 70% de aprovação da população sobre os trabalhos da CPI, isso é algo fantástico no Brasil e no mundo, em um momento em que parlamentos enfrentam tanto desgaste”.
Nas redes sociais, parlamentares também se manifestaram lembrando as 600 mil mortes: