
Membro da Coalizão Frota da Liberdade, Thiago Ávila ainda foi ameaçado pelos carcereiros israelenses de ser mantido sem contato por sete dias numa cela escura e pequena. Todos integrantes presos denunciam imundície do sistema carcerário israelense, infestado de percevejos e sem água potável
Após ser preso em águas internacionais por tropas israelenses, o brasileiro Thiago Ávila foi jogado numa solitária, onde os sionistas ameaçam mantê-lo sete dias sem contato – inclusive com a defesa – numa cela escura e pequena. A denúncia foi repassada à advogada dele, que divulgou a postura do governo Netanyahu para a família, na manhã desta quarta-feira (11).
Conforme a Coalizão Frota da Liberdade, responsável pelo Maddlen, em greve de fome e sede há dois dias, Thiago se encontra na penitenciária de Ayalon e foi “tratado agressivamente pelas autoridades prisionais, embora isso não tenha evoluído para agressão física”.
Nesta terça-feira (10) o Ministério das Relações Exteriores do Brasil divulgou um comunicado em que cobra a libertação de Ávila e pede que Israel “zele pelo bem-estar e pela saúde” do ativista.
RECEIO SOBRE A PROCEDÊNCIA DOS ALIMENTOS
“Thiago entrou em greve de fome e sede para pressionar pela sua liberação. Não sabemos também se há receio dele sobre a procedência dos alimentos”, declarou a irmã de Thiago Ávila, a policial civil Luana Ávila, frisando que o brasileiro se negou a assinar um documento para sua deportação.
A divergência explicitada por Thiago é que ao concordar com a autodeportação assumiria culpa sobre uma suposta entrada ilegal no território de Israel, delito que inexiste. O fato, assinalou Luana, é que os integrantes da embarcação de solidariedade “estavam em águas internacionais numa embarcação civil desarmada com autorização para navegar”. Além do que, a própria Faixa de Gaza não é território israelense e sim palestino, agora sob agressão, invasão e ocupação. Quem está ilegalmente em Gaza são as tropas de Israel e não as organizações humanitárias que buscam romper o cerco também ilegal do ponto de vista das leis interncionais e das resoluções da ONU.
Entre outros, encontravam-se a bordo da Frota da Liberdade ativistas de sete nacionalidades como a ambientalista sueca Greta Thunberg; a francesa de origem palestina, Rima Hassan, jurista e deputada do Parlamento Europeu; o jornalista francês Yanis Mhamdi, autor do documentário “Netanyahu: retrato de um criminoso de guerra”; o engenheiro espanhol Sergio Toribio, reconhecido por suas ações de resgate de imigrantes; e a ativista alemã Yasemin Acar, que assessorou o Senado na gestão da crise de refugiados no país.
Além do brasileiro, outras sete pessoas foram mantidas no país após se recusarem a assinar o documento. Todas descreveram as péssimas condições do sistema carcerário israelense, que inclui infestação de percevejos e água da torneira completamente imprópria para o consumo.
Responsável pela Frota, Rima Hassan foi colocada em isolamento “sob condições desumanas” na cadeia de Neve Tirza, após escrever “Palestina livre” na parede da cela que ela ocupava na prisão de Givon, para onde retornou após o período na solitária.
Foi expedida nesta quarta a decisão judicial que determina a expulsão de Thiago do país e retorno ao Brasil.
GOVERNO BRASILEIRO CONDENA “APREENSÃO ILEGAL“
O governo brasileiro acompanha com atenção a atual situação do nacional Thiago Ávila, que estava a bordo do veleiro “Madleen”, da Coalizão Flotilha Liberdade, interceptado por forças israelenses, com detenção de seus tripulantes, enquanto se dirigia à Faixa de Gaza com itens de ajuda humanitária.
Embaixadas do Brasil na região haviam sido colocadas em alerta para a presença de nacional na embarcação com vistas à célere prestação de assistência consular, caso necessário.
Após a interceptação, a Embaixada do Brasil em Tel Aviv comunicou-se com as autoridades locais para imediata prestação de assistência consular ao ativista brasileiro. Manteve contato, ainda, com sua família, transmitindo informações atualizadas. Em Brasília, a Secretária-Geral das Relações Exteriores recebeu a esposa de Thiago Ávila, Lara Souza, acompanhada das Deputadas Federais Erika Kokay e Natália Bonavides e do Deputado Distrital Fábio Félix.
Com a chegada do navio a Israel, agentes consulares da Embaixada em Tel Aviv foram destacados para deslocar-se até o aeroporto e acompanhar o nacional durante o processo de deportação para o Brasil. Tendo em vista sua recusa em ser imediatamente deportado, o ativista brasileiro foi levado a centro de detenção israelense. A Embaixada do Brasil acompanhou o depoimento de Thiago Ávila à Juíza do Tribunal de Revisão de Detenção e continua a prestar-lhe assistência.
Ao reiterar sua firme condenação à interceptação, em águas internacionais, por forças israelenses, da embarcação “Madleen”, em flagrante transgressão ao direito internacional, o Brasil clama pela libertação de seu nacional e insta Israel a zelar pelo seu bem-estar e saúde.
Em contexto de gravíssima situação humanitária na Faixa de Gaza, onde há fome e desnutrição generalizadas, o Brasil deplora a continuidade de severas restrições, em violação ao direito internacional humanitário, à entrada de itens básicos de subsistência no Estado da Palestina.