Uma família brasileira que está presa em Gaza e espera para poder ser resgatada pelo Brasil relatou o terror psicológico imposto pelos bombardeios noturnos de Israel. Toda a vizinhança, na cidade de Gaza, foi destruída.
“Nós odiamos as noites, porque é de noite que as bombas caem”, disse Mohammad Farahat.
Mohammad Farahat é palestino, mas sua esposa, Hadil Yusuf El Duwaik, e os quatro filhos, de 11 a 18 anos, têm dupla nacionalidade e aceitaram a proposta de repatriação do governo brasileiro.
Eles moravam na cidade de Gaza, ao norte da Faixa de Gaza, mas foram para o sul, próximo à passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, onde esperam a abertura.
Em entrevista ao g1, Mohammad disse que “quando você ouve os bombardeios ao redor de onde vivemos agora, você vê que sua vida pode acabar em cada minuto”.
“Nós odiamos as noites, porque é de noite que as bombas caem. Têm muitas bombas. Nós só ouvimos as bombas”, relatou.
Ele ainda contou que “temos falta de água para beber, para lavar, para limpeza, para nossa comida. Esses serviços são cruciais, assim como medicação, porque o sistema de saúde está destruído em Gaza”.
“No caso de não sermos mortos nos ataques com bombas, você pode morrer por fadiga psicológica. Nós sentimos tudo, sentimos medo, terror, todas essas questões que nos rodeiam afetam e se refletem no nosso psicológico. Estamos morrendo dia após dia quando vemos essas cenas traumáticas, pessoas mortas, machucadas, quando vemos as vulnerabilidades aumentando entre as pessoas. Isso é insuportável”, continuou o palestino.
Inicialmente, Mohammad e Hadil tinham decidido permanecer na Faixa de Gaza, mas eles mudaram de ideia e agora estão na lista do governo federal para repatriação.
O governo deverá trazer para o Brasil 32 pessoas, sendo 17 crianças, 9 mulheres e 6 homens.
“Eu decidi mudar minha decisão para viajar ao Brasil com a minha família porque o governo brasileiro prometeu providenciar ajuda no custo de acomodação no Brasil, segurança, cuidados com a saúde, e também a voltar quando a situação estiver calma em Gaza. Estamos procurando por segurança, por dignidade de moradia. Estamos saindo por ameaças reais, riscos que ameaçam nossa vida em Gaza”, apontou Mohammad.
“É muito difícil, porque temos uma forte relação com as pessoas que moram aqui, com nossos amigos, os lugares aqui. Tivemos cenas traumáticas de pessoas mortas, casas destruídas. É nossa vida aqui, será muito triste deixar Gaza”, continuou.
Os bombardeios que estão sendo feitos por Israel contra a Faixa de Gaza têm como objetivo expulsar a população do território, o que configura limpeza étnica.
Após a entrevista com o g1, Mohammad informou que “um bombardeio acabou de acontecer perto de mim”.
A operação de resgate ainda não ocorreu porque a passagem de Rafah, que liga Gaza ao Egito, está sendo bombardeada por Israel e não pode ser aberta. O Itamaraty já confirmou que toda a operação está pronta para ocorrer, desde os carros para o resgate até a aeronave presidencial no Egito.
O presidente Lula disse que Israel não está realizando uma guerra, mas um genocídio contra o povo palestino. “Não é uma guerra, é um genocídio que já matou quase 2 mil crianças”, falou.
BRASILEIRA DE 18 ANOS
A brasileira Shahed Al Banna, de 18 anos, que está em Gaza há um ano e meio gravou um vídeo para denunciar a situação caótica em que Israel deixou a região com seus bombardeios.
Ela é uma das 30 pessoas que tentam deixar a região e voltar ao Brasil pela passagem de Rafah.
Segundo ela, cavalos estão sendo usados pelos palestinos para transportar tanques de água.
“A gente comprou água hoje. Compramos um tanque de gás [bomba] para transferir a água de um tanque para outro, que vamos usar dentro da casa. Como não tem transporte, então a gente usou um cavalo para buscar o tanque com a água. É muito difícil achar água. Muito difícil”, relatou ao g1.