
O militar recorreu ao silêncio que lhe é facultado pela Constituição que, em inúmeros episódios, concorreu para rasgar
Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro, preferiu calar-se diante das perguntas do ministro-relator Alexandre de Moraes, em seu interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da Ação Penal que julga os responsáveis pela trama que tinha objetivo de rasgar a Constituição, intervir na Justiça Eleitoral e impedir a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
As bravatas do general, muito conhecidas ao tempo em que era um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro, à frente do GSI, foram substituídas pelo silêncio, certamente pelo medo de se incriminar frente às evidências e indícios da participação do militar na ação golpista apresentados na inquirição de Moraes, com base na denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República (PGR), que, depois de acatada pela Corte suprema, tornou Heleno e mais 6 integrantes do governo anterior, o chamado “núcleo 1”, em reús, inclusive seu ex-chefe.
Preferiu socorrer-se na Constituição Federal que dá o direito aos réus de não produzir provas contra si, aliás, a mesma Constituição ameaçada permanente e cronicamente durante o governo Bolsonaro, com o endosso do general. Encolheu-se diante do ministro contra o qual, quando no poder, desferiu violentos ataques.
Mesmo assim, teve o desplante de sentenciar, aos ouvidos incrédulos de milhões de brasileiros que bem conhecem sua verve golpista, tanto que se tornou um decidido arauto na defesa de um presidente adulador da ditadura que infelicitou o País por 21 anos e dos torturadores de então.
“É importante que o presidente Bolsonaro colocou que ia jogar dentro das quatro linhas (da Constituição), e eu segui isso aí rigorosamente durante todo tempo em que estive na Presidência”, afirmou Heleno. “Nunca levei assuntos políticos, tinha de 800 a 1.000 funcionários no GSI (Gabinete de Segurança Institucional). Nunca conversei com eles assuntos políticos”, afirmou dissimuladamente.
A decisão do general foi comunicada logo no início da audiência pelo seu advogado, Matheus Milanez: “Ele fará uso parcial do seu direito e responderá única e exclusivamente às perguntas formuladas por sua defesa”, afirmou.
O general, enfim, preferiu responder somente às perguntas do advogado contratado por ele, as perguntas que lhe convinha responder, é claro.
Em resposta à sua própria defesa, Heleno tergiversou sobre as urnas, ao afirmar que sempre foi favorável “ao voto impresso” e que essa questão de desconfiança das urnas é “problema mundial”, mas não conseguiu apontar um único fato ou indício de que houve fraude no processo eleitoral cujo desfecho foi a derrota de seu candidato, Jair Bolsonaro, e a vitória de Lula.
No jogo combinado, o advogado perguntou, ainda, se ele contribuiu para espalhar desinformação sobre a votação em urnas eletrônicas, conforme a denúncia da Procuradoria-geral da República. “Não, não tinha nem tempo para fazer isso”, negando os robustos elementos apurados pela Polícia Federal que constam da denúncia da PGR, em face de inúmeras declarações do general incentivando a ação golpista.
Às 12h30, o julgamento foi suspenso por Alexandre de Moraes e será retomado com a interrogatório do maior interessado que o golpe tivesse sido consumado, Jair Bolsonaro.