
Banco de Brasília comprou por R$ 2 bilhões 49% das ações ordinárias e 100% das preferenciais do Master, mas os dois bancos seguem existindo e separados. Daniel Vorcaro continua à frente do banco vendido. Sindicato dos Bancários de Brasília manifestou preocupação
O Banco de Brasília (BRB), pertencente ao governo do Distrito Federal, anunciou na sexta-feira (28) que comprou 49% das ações ordinárias (com direito a voto) do Banco Master, que tem operações concentradas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Além disso, o BRB adquiriu 100% dos papéis preferenciais, totalizando a fatia de 58% do capital total da instituição. O atual dono do banco Master é Daniel Vorcaro.
O Master, conhecido por atuar em operações de risco, que envolvem precatórios e CDBs (Certificados de Depósito Bancário), passará por uma reestruturação societária, em que participações detidas pelo banco serão segregadas da estrutura. Na venda, entrarão o banco múltiplo, a fintech Will Bank e a securitizadora Maximainvest. Daniel Vorcaro continuará como controlador do Master, que se tornaria BRB Banco de Investimentos, com 51% de participação com direito a voto. O BRB terá poder de veto em determinados temas.
Parte importante do patrimônio que garantia a solidez do banco era composto por precatórios (títulos de disputas judiciais contra governos), que são de recebimento incerto e tinham tratamento equivalente a títulos públicos no balanço. O Master também tem uma carteira grande de empréstimos corporativos feitos a empresas classificadas como em “situações especiais”, ou seja, dificuldades financeiras. Esses empréstimos são feitos diretamente ou via fundos ligados ao operador financeiro Nelson Tanure. São operações com baixa liquidez, com risco carregado para o banco.
O valor da operação, segundo o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, gira em torno de R$ 2 bilhões a R$ 3,5 bilhões, soma que só poderá ser confirmada após a auditoria dos ativos e passivos do Master, um dos requisitos para fechar o negócio.
“O Banco Master e o BRB, após as devidas autorizações, continuarão operando com CNPJs em separado. Daniel deixa de ser presidente executivo e vira presidente do conselho do Banco Master. A governança do banco BRB continua integralmente sob controle do Distrito Federal, como um banco público”, diz Paulo Henrique Costa.
O Sindicato dos Bancários de Brasília alertou em nota para a falta de transparência na transação. “O Sindicato dos Bancários de Brasília manifesta sua profunda preocupação com a possibilidade de atos que podem caracterizar uma possível gestão temerária da atual diretoria do Banco de Brasília (BRB), diante da compra do banco master, no que tange diretamente o interesse público e a segurança econômica da instituição”, diz a nota.
A operação de compra do Master pelo BRB dependerá do parecer favorável do Banco Central (BC), além da autorização do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Os representantes do mercado financeiro na mídia já afirmam que essa será a decisão mais importante e o maior desafio do atual presidente do BC, Gabriel Galípolo, desde que chegou à autarquia em 2023. O BC tem o prazo de 360 dias para dar seu parecer.
O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Capelli, em rede social chamou de “escândalo a tentativa do governador Ibaneis Rocha de comprar por 2 bilhões de reais, através do BRB, um banco insolvente que quase foi vendido para o BTG por 1 Real”. “Há pouquíssimos anos atrás, o patrimônio do Banco Master era de 15 milhões”, disse. “Rapidamente, este patrimônio saltou para 2,5 bilhões. Milagre? “Operação” em precatórios? E Ibaneis, através do BRB, compra por 2 bilhões. [Isso] faz sentido? Dinheiro do povo salvando banqueiro”.
O Master vem pagando pelos CDBs – investimentos de renda fixa – taxas bem acima do que os bancos tradicionais usualmente pagam. Em alguns casos o Master paga 140% do CDI. Esses títulos são assegurados pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que protege investimentos até o valor de R$ 250 mil. Especula-se que o Master tenha emitido cerca de R$ 50 bilhões em CDBs, o que corresponderia a quase metade da capacidade total do FGC (R$ 107 bilhões).
O BTG do banqueiro André Esteves chegou a oferecer R$ 1 pela compra do Master, segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo. André Esteves e Daniel Vorcaro (ambos controladores do BTG) estavam em negociação desde dezembro de 2024, mas as negociações não avançaram devido à falta de consenso entre os grandes bancos, que controlam o FGC.
O que falta explicar na transação:
1- Por que o BRB comprou um banco envolvido em tantas polêmicas?
2- Por que as operações serão independentes, apesar de ficarem sob uma única bandeira?
3- Por que Daniel Vorcaro, fundador e principal executivo do Master, permanece como controlador da instituição?