“Obscurece o que é verdadeiramente sinistro valorizar um ex-diretor da CIA para atacar Trump”, assinalou um dos principais especialistas nas relações entre os EUA e a Rússia desde a década de 1980, o professor emérito da Universidade de Nova York e de Princeton, Stephen F. Cohen, sobre o frenesi de lideranças democratas em abraçar o ex-diretor da CIA, John Brennan, que acusou Trump de “traidor” após a cúpula deste com o presidente russo Vladimir Putin em Helsinque, e cuja credencial irrestrita para acesso à CIA foi cassada pela Casa Branca.
Cohen, que também é colaborador da revista The Nation, lembrou como, desde a década de 1950, com Eisenhower, “todo presidente americano realizou uma ou mais reuniões de cúpula com o líder do Kremlin, em primeiro lugar, para evitar erros de cálculo que poderiam resultar em guerra entre as duas superpotências nucleares. Geralmente, eles receberam apoio bipartidário para isso”.
Como destacou Cohen, a alegação de Brennan foi “sem precedentes”. “Nenhum oficial de inteligência de alto escalão jamais havia acusado um presidente em exercício de traição, ainda mais em conluio com o Kremlin. (As discussões sobre impeachment dos presidentes Nixon e Clinton, para dar exemplos recentes, não incluíram as alegações envolvendo a Rússia.)
Brennan esclareceu sua acusação : “Traição, que é trair a confiança de alguém e ajudar e encorajar o inimigo.” Vindo de Brennan, a acusação estava repleta de implicações alarmantes. “Brennan deixou claro que esperava pelo impeachment de Trump, mas em outro momento, e em muitos outros países, sua acusação sugeriria que Trump deveria ser removido da presidência com urgência por qualquer meio, até mesmo um golpe. Ninguém, ao que parece, chegou a notar essa implicação extraordinária de sua ameaça tácita à democracia americana”.
Para Cohen, a explicação “mais plausível” para o ato de Brennan é que “ele procurou desviar a atenção crescente para o seu papel como o “padrinho” de toda a narrativa da Russiagate”. No discurso de Brennan, todos os americanos são “suscetíveis a mestres fantoches russos” embaixo de suas camas, no trabalho, nos computadores, e em especial ao “Mestre dos marionetes do Kremlin”.
O resultado de intervenção da mídia e dos serviços secretos e seus ventríloquos, como advertiu, “é claro – e não menos ameaçador – criminalizar qualquer defesa de “cooperação com a Rússia”, ou détente, como Trump tentou fazer em Helsinque com Putin. Ainda mais, uma histeria russofóbica completa está varrendo o establishment da mídia política americana, de Brennan e – dependendo da evidência real contra ela – aqueles que projetaram a prisão de Maria Butina (imagine como isso ameaça os jovens americanos trabalhando em rede na Rússia) aos senadores preparando agora novas “sanções incapacitantes” contra Moscou e os editores e produtores no Times , Post, CNN e MSNBC”.
Finalmente, houve um tempo em que se poderia contar com muitos democratas, certamente democratas liberais, para resistir a esse tipo de histeria ao invés de espalhar o neomacartismo, afirmou Cohen. Mas os membros democratas do Congresso e dos meios de comunicação pró-democratas estão na vanguarda da nova histeria anti-russa, com apenas algumas exceções. Assim, um historiador geralmente liberal diz aos telespectadores da CNN que “Brennan é um herói americano. Seu mandato na CIA foi impecável. Nós lhe devemos muito”. Em outros lugares, o mesmo historiador garante aos leitores “sempre houve um espírito bipartidário de apoio desde que a CIA foi criada na Guerra Fria.” Na mesma linha, dois repórteres do Post escrevem sobre a “reputação venerada” do FBI .
“Isso é amnésia histórica liberal? É incompetência profissional? Uma pesquisa rápida no Google revelaria o registro “impecável” de Brennan, os crimes do FBI sob e depois de Hoover, bem como a investigação do Comitê Church do Senado em 1975 sobre a grave violação do poder por parte da CIA. Ou o ódio dos liberais por Trump anulou seus próprios princípios? O ditado russo diria: “todas as três explicações são piores”.