O governo inglês foi derrotado por estreita margem em uma votação-chave sobre seu projeto de lei do Brexit após uma rebelião de 11 deputados do próprio partido da primeira-ministra Theresa May que votaram junto com a oposição, o que garantiu ao parlamento inglês a decisão final sobre o acordo com Bruxelas.
A derrota acontece na véspera de uma cúpula da União Européia que discutirá o Brexit com a presença de May. O parlamento da UE acabara de dar sinal verde para que as negociações avancem, após primeiro acerto que incluiu direitos mútuos dos cidadãos de cada parte, indenização de saída e fronteira suave na Irlanda.
Jocosamente chamada de Theresa Maybe [“Talvez”] por seus críticos, a primeira-ministra alegava que isso iria comprometer suas chances de conseguir a assim chamada “saída suave” da União Europeia. Tentativa de última hora fazer concessões aos dissidentes fracassou, e a alteração ao projeto de lei foi aprovada por 309 votos a 3005 depois de oito horas de acalorados debates.
Os ministros de May asseveraram que o “recuo menor” não impedirá a Grã Bretanha de sair da UE em 2019. Dos deputados conservadores que votaram contra o governo, oito são ex-ministros. O vice-presidente conservador, Stephen Hammond, foi demitido da função logo após a votação. O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, considerou a derrota do governo May “humilhante”.
May se declarou “desapontada” pelo resultado, que é sua primeira derrota no Brexit, e reiterou ter oferecido “fortes garantias”. O ex-líder do partido UKIP, Nigel Farage, afirmou que nas negociações com a UE May “entregou tudo”.
A mudança no projeto de lei, de autoria do ex-procurador-geral Dominic Grieve, foi defendida também por ativistas pró-permanência na UE. Repetiram-se as denúncias sobre a tentativa de “frustrar o Brexit” e de amarrar as mãos do governo inglês nas negociações.
Confirmada a derrota de May, o ex-ministro Nicky Morgan comemorou: “o parlamento esta noite assumiu o controle da saída da UE”. Dois deputados trabalhistas votaram com May e um conservador se absteve.
O ministro da Justiça, Dominic Raab, afirmou que a derrota não deterá o Brexit. “É um revés, mas é um recuo bastante menor, não frustrará o processo da Brexit”, disse ele, acrescentando: “Não vai parar a saída da UE em março de 2019.”
Conforme o Guardian, “os ministros prometeram repetidamente aos deputados um “voto significativo” [sobre o acordo negociado]; mas não estava claro quando isso aconteceria – e alguns rebeldes temiam que o governo pudesse renegar sua promessa se não fosse consagrada em lei”. Os deputados só teriam a opção de “aceitar ou rejeitar o acordo”, com o governo insistindo em que a única alternativa possível seria “sair sem um acordo”. Na visão de alguns deputados, qualquer governo que tenha perdido um voto tão crucial está na iminência de lutar para sobreviver e ser forçado a antecipar eleições.