Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o ministro explicou a posição brasileira sobre a expansão do bloco econômico e revelou, ainda, quais as prioridades para a presidência brasileira do grupo em 2025
O chanceler brasileiro Mauro Vieira participou, na última segunda-feira (10), de encontro de chanceleres do BRICS, bloco econômico composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África, entre outros, em Nizhny Novgorod, na Rússia.
Segundo ele, o grupo converge quanto ao conflito Israel-Palestina, já que “todos pedem pela cessação das hostilidades, pela negociação da paz e, sobretudo, para que o auxílio humanitário e a libertação dos reféns sejam realizados o mais rápido possível”.
Para o chanceler brasileiro, esses passos são fundamentais para que “se criem as condições para 2 Estados autônomos, independentes e vivendo lado a lado, de acordo com as fronteiras de 1967”.
“Esta reunião ocorre em um mundo em desordem. Um mundo que não conseguiu superar a fome e a pobreza, que está caminhando para um ponto de inflexão no aquecimento global e que não evitou a eclosão de conflitos e desastres humanitários”, disse Vieira.
E acrescentou, que “as Nações Unidas e outras instituições multilaterais estão marginalizadas ou paralisadas, e o direito internacional, incluindo princípios humanitários básicos, está sendo flagrantemente desconsiderado, como estamos testemunhando em Gaza”.
CRESCENTE INFLUÊNCIA DO SUL GLOBAL
No entanto, apontou ele, “contra todas as probabilidades”, o BRICS “materializa a crescente influência do Sul Global nos assuntos internacionais”.
“Com relação à questão da Ucrânia, acredito que todos os países [do Brics] querem o início de conversas completas, que envolvam os 2 lados. O Brasil está mais do que disposto a defender, promover ou participar de todas as iniciativas que sejam realmente efetivas. Iniciativas que contem com os 2 lados, nas quais se possa conversar séria e abertamente sobre essa questão”, declarou o chanceler.
CÚPULA DE JOANESBURGO 2
“A Declaração da Cúpula de Joanesburgo 2 [de 2023] fornece uma base sólida para avançarmos. Estou confiante de que a cúpula de Kazan reafirmará os principais princípios de nossa frutífera colaboração sob os 3 pilares: segurança política; cooperação econômica e financeira; e cooperação cultural e entre povos.”
“Primeiro, nossos líderes pediram que os ministros de Finanças e os presidentes dos bancos centrais considerassem a questão das moedas, dos instrumentos de pagamento e das plataformas locais”, afirmou o ministro Vieira
“Esse é um tema que foi levantado pelo presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva] em Joanesburgo e no qual o Brasil espera que os novos membros estejam totalmente engajados. Certamente também será um tópico importante da presidência brasileira do BRICS no próximo ano”, acrescentou.
REFORÇO DO MULTILATERALISMO
Mauro Vieira pediu igualmente o reforço do multilateralismo, particularmente nas Nações Unidas, e sugeriu “categoria de associação ao Brics”, que, segundo ele, “responderia ao crescente interesse de muitos países do Sul Global em participar do Brics”.
“Nossos sherpas [representantes] têm discutido possíveis princípios orientadores, padrões, critérios e procedimentos. Acreditamos que chegaremos a um consenso até a cúpula de Kazan, em outubro de 2024”, disse.
“Tenha certeza de que o Brasil continua totalmente comprometido em trabalhar de forma construtiva sob sua orientação para concluir a tarefa que nos foi confiada. O Brasil valoriza o Brics, que se tornou indispensável para o avanço dos interesses do Sul Global. Continuaremos total e construtivamente engajados no reforço dessa plataforma. Muito obrigado”, concluiu o alto responsável brasileiro.
No encontro, o ministro felicitou a presença dos países como Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.