“Responsáveis pelo crime têm que ser exemplarmente punidos”, defendeu o parlamentar, ex-presidente da CPI que apurou a criminosa ação da mineradora privatizada e resultou na morte de 270 pessoas
O deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG), que foi presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o crime, afirmou que com as novas revelações “fica claro como a Vale e a empresa de consultoria Tüv Süd foram omissas e irresponsáveis diante do risco latente da queda da barragem” de Brumadinho.
“Não foi acidente. Não vou cansar de dizer que o rompimento da barragem B1, do Córrego do Feijão em Brumadinho (da mineradora Vale) é um triste exemplo de como a ganância e o interesse econômico se sobrepõe ao que temos de mais precioso, a vida”, comentou Delgado, ao completar um ano (25 de janeiro) do rompimento que causou 270 mortes.
Documentos revelados no sábado (25) mostram a ação criminosa da Vale e da empresa alemã de consultoria Tüv Süd.
Funcionários da Vale alertaram seus superiores dos riscos de rompimento. Engenheiros da Tüv Süd disseram para seus chefes de forma literal que os laudos de segurança da barragem B1 em Brumadinho não poderiam ser assinados, mas que o fariam por pressão da contratante.
O Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) denunciou 16 ex-diretores e ex-funcionários das duas empresas por homicídio duplamente qualificado e crimes ambientais.
“As autoridades estão avançando nas investigações, e eu tenho muita esperança que a Justiça será feita de forma exemplar”, disse o deputado Júlio Delgado.
O parlamentar elogiou a denúncia do Ministério Público e disse esperar rapidez na responsabilização dos culpados. “Não fizemos um trabalho concorrente, mas sim um trabalho complementar. Tenho certeza de que a apuração da CPI ajudou a denúncia do Ministério Público, assim como o Ministério Público, em todo momento, nos ajudou com suas informações”, afirmou.
Para ele, o trabalho dos políticos “é fundamental para que os irresponsáveis respondam criminalmente, à luz da lei, pelo que foi causado”.
“Além disso, temos a oportunidade de fazer desta tragédia um marco para mudanças estruturais que norteiem a exploração mineral em nosso país”.
“Espero que a Justiça seja feita e que o assunto não caia no esquecimento e que todos os danos sejam reparados às famílias atingidas, devidamente indenizadas e os responsáveis pelo crime exemplarmente punidos”, conclamou o deputado.
A estatal Vale do Rio Doce foi fundada em 1942, por Getúlio Vargas. Foi privatizada em 1997, quando se tornou Vale S.A. Desde então foi responsável pelo rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho, que causaram centenas de mortes e danos ambientais irreparáveis.