O jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Eugênio Bucci, afirmou em artigo que se Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes e Lula “souberem unir forças, a maioria dos brasileiros vai segui-los”.
“E vai frear o fascismo”, completou, em artigo publicado no Estadão.
O jornalista lembra a campanha das Diretas Já. “Em 1984, políticos tão diferentes como Ulysses, Tancredo, Brizola, Montoro e Lula se uniram na campanha das Diretas Já. Perderam, mas apressaram o fim da ditadura”, frisou.
Para Eugênio Bucci, a escalada autoritária de Bolsonaro é uma ameaça real à democracia e precisa de uma união ampla para impedi-la. Ele abre o artigo alertando que “cada dia mais, o presidente deixa de lado os disfarces e escancara suas pretensões autoritárias”.
“No sábado [dia 7 de março] passou a convocar oficialmente o ato público do próximo dia 15”. “Nas redes sociais a convocação destila ódio, clama por “intervenção militar já”, calunia ministros do Supremo Tribunal e faz apologia da violência e da censura. E tudo o que o chefe de governo mais adora”, continua.
“Viciado em praticar bullying estatal contra as redações independentes”, prossegue, “ele pressiona empresários que anunciam em jornais, discrimina os órgãos de imprensa que lhe desagradam e faz o que pode (e, principalmente, o que não pode) para quebrar empresas jornalísticas e humilhar jornalistas. Para ele, quanto mais desaforado for o dia 15, melhor”.
“Os chamamentos do presidente brasileiro para um evento cuja propaganda está repleta de ofensas ao Legislativo e ao Judiciário não têm nada de democráticos. São, isso sim, indícios de fascismo”, diz.
Para Eugênio Bucci, o objetivo de Bolsonaro “é desmoralizar as instituições do Estado Democrático de Direito. É para isso que vai servir o dia 15”.
O professor da ECA se diz chocado com o que ele chama de “apatia das oposições” diante dos indícios golpistas “clamorosos” apresentados pelo governo bolsonarista.
“E agora? Por que é que Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes não convocam o País para dizer “não” ao arbítrio que se insinua no horizonte?”, questiona.
Bucci, que foi presidente da Radiobrás entre 2003 e 2007, considera que não é fácil essa união por causa das diferenças entre eles, mas avalia em seu texto que “os três são as maiores lideranças democráticas do Brasil: nunca flertaram com o arbítrio nem atentaram contra a imprensa, contra as artes, contra a ciência e contra a universidade. Com esse denominador comum, acima das diferenças legítimas que os dividem, eles têm uma base para se acertar”.
“A liberdade e os direitos fundamentais estão sob ameaça no Brasil e, como escreveu a historiadora Heloisa Starling, “o que protege a liberdade é uma coisa só: nossa capacidade de mobilizar as pessoas em sua defesa”. A democracia precisa de Lula, FHC e Ciro – juntos”, conclui.