
Acompanhados de centenas de líderes políticos, sindicais, sociais, escritores, o cônsul-geral de Cuba em São Paulo, Pedro Monzón; do embaixador de Cuba no Brasil, Adolfo Curbelo e do presidente do Memorial da América Latina, em São Paulo, Jorge Damião, foi descerrado, no pátio do Memorial, o busto do escritor, poeta e patrono da libertação de Cuba, José Marti.
O busto, escultura doada por um dos mais prestigiados escultores cubanos, Alberto Lescay, foi inaugurado neste sábado (28), com a execução dos hinos nacionais de Cuba e do Brasil. Ao pé do busto um arranjo de flores com a inscrição em letras de ouro: “Pátria é Humanidade”.
Ao saudar o acontecimento, o cônsul cubano destacou uma crônica de José Marti:
”Contam que um viajante chegou um dia a Caracas ao anoitecer, e sem sacudir a poeira do caminho, não perguntou onde se comia nem se dormia, senão como se ia e onde estava a estátua de Bolívar. E contam que o viajante… chorava em frente a estatua, que parecia que se movia, como um pai quando um filho se aproxima. O viajante fez bem, porque todos os americanos devem querer a Bolívar como a um padre. A Bolívar, e a todos os que brigaram como ele para que a América‚ fosse do homem americano…”
“Isto explica”, declarou Monzón, “por que nos deixa muito felizes que este busto de Martí esteja localizado a poucos metros do Libertador, Simón Bolívar”.
“José Martí, segundo um célebre escritor cubano, é ‘esse mistério que nos acompanha todos os dias e que nos dá forças para seguir adiante’. Esse insólito qualificativo expressa a influência excepcional que teve este cubano universal sobre todo o povo e a política cubana, por mais de cem anos”, prosseguiu o cônsul, para quem, em todo o processo de libertação de Cuba, desde o processo revolucionário “até o dia de hoje, se tem caracterizado, especialmente, por ter uma influência martiana abrangente e autêntica”.
O embaixador cubano, Adolfo Curbelo destacou que “aos 170 anos do nascimento de José Marti, se instala o busto de um dos maiores escultores vivos de Cuba, Alberto Lescay, ainda mais quando isso se dá em território idealizado por grandes amigos, como Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer. Apreciamos o caráter simbólico de estar o busto localizado nas proximidades da escultura de Bolívar”.
“Nos alegra que esta inauguração se dê em um momento em que o Brasil está impulsionando a integração da América Latina, com sua incorporação à Celac [Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos]”, prosseguiu o embaixador
“Marti foi e é um nome essencial para Cuba, o mais universal dos cubanos, cuja obra impacta a todos os âmbitos da vida nacional de nosso país, sua visão abrangente política e literária, impacta a toda a América Latina, tudo isso torna esta inauguração um fato muito importante”, destacou Curbelo.
O presidente do Memorial da América Latina, Jorge Damião, saudou os representantes cubanos e as lideranças e autoridades presentes, afirmando: José Marti, ao recusar-se a compreender a realidade e os acontecimentos da região através da ótica dos colonizadores e do imperialismo, buscou uma forma revolucionária de abordar a história, a cultura e a identidade latino-americana e de produzir literatura para o povo cubano e para toda esta região. Acreditou e foi mártir da independência de Cuba no seio de uma América Latina unida”.
O escritor Fernando Morais, autor do conhecido livro sobre a vida e o sistema político cubano, A Ilha, lembrou que foi secretário de Cultura em São Paulo e que foi designado para receber a estátua com a cabeça do libertador Simón Bolívar e que “agora é com alegria que participamos da inauguração do busto do protomártir da libertação das Américas”.

Representando o Sindicato dos Escritores de São Paulo, o advogado Durval de Noronha Goyos sublinhou que “José Martì é o pai espiritual da nação cubana e um dos expoentes intelectuais latino americanos a reforçar os ideais humanísticos tão caros à experiência civilizatória. Ele logo vislumbrou os desafios postos pelo imperialismo e a necessidade de união das nações latino-americanas em defesa do bem comum, da justiça e da dignidade dos povos da região”.
“A ocasião marca o retorno do Brasil ao convívio internacional e ao seio da comunidade latino-americana, onde é o seu lar”, disse ainda o diretor do SEESP.

O diretor de Responsabilidade Social do Corinthians, Adilson Monteiro Alves, destacou a “importância da instalação do busto de José Marti que, através de sua atuação política e artística contribuiu de forma destacada para a integração latino-americana, nada mais justo do que passarmos a ter, através dessa bela escultura, a presença do poeta cubano à entrada do Memorial da América Latina”.
A ex-vereadora e uma das fundadoras da Confederação da Mulheres do Brasil, CMB, Lídia Correa, observou que mais do que o maior escritor cubano, José Marti foi um dos pontos altos da literatura latino-americano e que percebeu na união dos povos da América Latina a necessidade de defender, através da luta por independência, as riquezas do continente em favor dos povos deste imenso e rico território”.
“Inaugurar o busto de Marti, aqui no Memorial da América Latina, além de uma justa homenagem ao grande herói e poeta cubano, é um reforço a suas ideias de luta pela apropriação das riquezas da região, através de um desenvolvimento independente de cada uma das nações deste continente e pelo seu desenvolvimento cultural próprio e popular. Cuba resiste ao absurdo bloqueio perpetrado ainda hoje pelos Estados Unidos porque aplica na prática política de cada dia a solidariedade ao povo e entre as pessoas do povo que pontuou este líder e herói e que agora, com seu busto, próximo ao de Simón Bolívar dá um complemento importante a aprofunda o significado deste complexo histórico desenhado por Oscar Niemeyer”, afirmou Jamil Murad, presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz, Cebrapaz e dirigente do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
“Fidel Castro em um memorável discurso em Santa Clara, falando do triunfo da revolução, disse que foram 100 anos de luta, que começou com José Martí, prócer da independência da Ilha e de Nossa América. Martí foi o primeiro a identificar que o inimigo real estava no expansionismo do imperialismo ianque”, afirmou Paulo Cannabrava, editor do portal Diálogos do Sul. Paulo é um dos fundadores da Agência de Notícias Prensa Latina.
Também registramos a presença de Beatriz Cannabrava, que viveu em Cuba e integrou o movimento de renovação da música, Nova Trova.
Veja o vídeo com detalhes da concorrida inauguração:
Segue a íntegra do pronunciamento do cônsul Pedro Monzón:
José Martí, Apóstolo da Independência de Cuba e de Nossa América, segundo o escritor José Lezama Lima, é “aquele mistério que nos acompanha todos os dias e que nos dá força para seguir em frente”. Um qualificativo tão insólito do famoso escritor só pode ser compreendido por um estrangeiro que for capaz de perceber a excepcional influência que essa personalidade exerceu sobre o povo e a política cubana por mais de cem anos, fenômeno que promete ser eterno.
Para manter viva a obra de José Martí na memória dos povos, no dia 28 de janeiro será inaugurado no Memorial da América Latina, em São Paulo, um busto do herói, criado pelo escultor cubano Alberto Lescay.
Não há período de nossa história em que as ideias de Martí não tenham sido utilizadas para justificar políticas, elaborar programas educativos e culturais, conceber conteúdos de comunicação, e não raro de forma demagógica. Contrariamente, o processo que levou ao triunfo da Revolução Cubana em 1º de janeiro de 1959, e tudo o que aconteceu desde então na ilha até os dias atuais, caracterizou-se por uma autêntica influência martiana.
O próprio grupo que concebeu o primeiro grande golpe contra a ditadura que governava o país antes do triunfo revolucionário, o assalto ao Quartel Moncada, em 1953, se autodenominava Geração do Centenário, aludindo ao fato de que naquele ano se completavam 100 anos do nascimento do Apóstolo. Em sua defesa, que assumiu pessoalmente perante o tribunal que o julgou por liderar os acontecimentos de Moncada, Fidel se referiu a ele como seu guia e afirmou enfaticamente que “o único autor intelectual do assalto ao Quartel Moncada é José Martí”.
A doutrina do Apóstolo tornou-se sustento, exemplo de conduta e encorajamento da necessidade de fazer em Cuba uma revolução pela independência, contra a injustiça, pela honra e dignidade nacional. Em um discurso em janeiro de 1960, um ano após o triunfo, Fidel afirmou: “Finalmente, Maestro, a sua Cuba que você sonhou está se tornando realidade!”
A Revolução Cubana é essencialmente martiana, assim como fidelista e socialista: talvez se deva dizer que é socialista justamente por ser martiana e fidelista.
Procure-se agora em Cuba vestígios de injustiça social, de miséria, de gente morando na rua, de discriminação, de analfabetismo, de fome, de crianças abandonadas, de ignorância, de pessoas sem assistência médica; de dependentes químicos… e o que se encontrará será uma sociedade justa, sã, educada, estável e segura; uma sociedade governada pela doutrina martiana.
Procure-se na Cuba contemporânea sinais de subordinação e humilhação nacional, de políticas mediadas por interesses estrangeiros e encontrará, ao contrário, um povo unido em torno dos firmes princípios soberanos e anti-imperialistas exigidos pelo pensamento de Martí.
Não se pode negar que Cuba paga caro por esta atitude rebelde, suportando mais de seis décadas de agressões e bloqueios por parte dos Estados Unidos, mas somos encorajados e sustentados pelos princípios apresentados pelo Apóstolo: “A liberdade é muito cara, e é necessário ou resignar-se a viver sem ela, ou decidir comprá-la por seu preço. Grandes direitos não se compram com lágrimas”, disse ele.
A magnitude da solidariedade internacional cubana não tem precedentes históricos. Expressa-se no apoio à luta pela independência nacional em diversos países e na oferta massiva e fraterna de médicos e educadores pelo mundo. “Pátria é Humanidade”, concepção cardinal da doutrina de Martí sobre as relações entre as nações e os povos, está em perfeita coerência com essas políticas.
Os profissionais de saúde cubanos que percorreram o mundo, inclusive o Brasil, com sua conduta beneficente, inspiraram-se nesses valores martianos e não em interesses egoístas, materialistas e comerciais.
Os motivos da presença de Martí em Cuba e na América Latina são muitos, difíceis de apreciar em toda a sua magnitude e impossíveis de relatar plenamente, apesar de sua morte precoce no campo de batalha contra o colonialismo espanhol, aos 42 anos.
O princípio de solidariedade de Martí está intimamente ligado à aspiração de uma América Latina unida, uma região que ele descreveu como Nossa América, ante as potências estrangeiras que a desprezam e procuram dominá-la. “Nossa pátria é uma só, começa no Rio Grande e termina nas montanhas lamacentas da Patagônia.”
Quem se assombra com as posições resolutas de Cuba e a capacidade de resistência de seu povo frente às políticas agressivas e ao pretenso domínio dos Estados Unidos deve buscar também as fontes genéticas, a explicação no pensamento e na ação de Martí. Ele foi capaz de vislumbrar que a libertação do jugo do império espanhol era uma forma de “impedir a tempo com a independência de Cuba que os Estados Unidos se espalhassem pelas Antilhas e caíssem, com mais força, em nossas terras da América”.
O Apóstolo, e depois a direção do governo revolucionário, sempre confiou na força e nos anseios humanistas: “um princípio justo do fundo de uma caverna pode ser mais que um exército”, convicções que orientam nossa luta até hoje.