O governo de São Paulo entrou na manhã desta segunda-feira (18) com um pedido de autorização para uso emergencial de um novo lote da Coronavac, com 4,8 milhões de doses. Bolsonaro diz que a vacina é dele e Pazuello se confunde nos horários de voos para transportar os imunizantes
O governo de São Paulo entrou na manhã desta segunda-feira (18) com um pedido de autorização para uso emergencial de um novo lote da CoronaVac, com 4,8 milhões de doses, informou o governador João Doria (PSDB).
“A autorização para uso emergencial que a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] concedeu no domingo era exclusivamente para o lote de 6 milhões de doses da vacina, todos eles distribuídos ao Ministério da Saúde”, disse Doria, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes.
“Uma nova autorização é necessária pela Anvisa para liberação deste novo lote de 4,8 milhões de doses da vacina do Butantan. Estamos seguros de que a análise será feita com o mesmo critério, cuidado e agilidade”, completou.
O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que o pedido foi feito na manhã desta segunda por solicitação da própria Anvisa – autoridades do governo paulista adiantaram no domingo (17), após o início da vacinação no estado, que o pedido seria feito nesta manhã.
“Poderíamos ter feito os dois [pedidos de uso emergencial] lá trás. A Anvisa nos solicitou que terminássemos o primeiro processo, o que aconteceu ontem, e na sequência entrássemos com o segundo porque a documentação é muito similar”, afirmou Covas.
“Esperamos que dessa vez a decisão seja emitida no mais curto espaço de tempo visto que, do ponto de vista de documentação, os analisados no primeiro processo serão majoritariamente os mesmos já analisados nesse primeiro pedido”, completou.
Covas afirmou que esse pedido servirá para toda a produção local da CoronaVac e não apenas para o lote de 4,8 milhões de doses. “Não haverá necessidade de todo lote ser requisitado para uso emergencial. Aí sim poderemos chegar à produção adicional de 35 milhões e, eventualmente, no acréscimo já mencionado ao Ministério da Saúde de 56 milhões de doses.” Ele destacou ainda que um novo carregamento de matéria-prima para produção da CoronaVac aguarda liberação do governo da China, mas já está pronto para embarque.
GOVERNADORES PRESSIONARAM PAZUELLO PARA APRESSAR VACINAS
Os governadores de quase todos os estados pressionaram o governo federal nesta segunda-feira (18) pela liberação imediata das vacinas para que eles pudessem iniciar a imunização em seus estados.
O general Pazuello, ministro da Saúde de Bolsonaro, estava programando uma solenidade para anunciar que, somente no dia seguinte, iria iniciar a entrega das vacinas.
Os executivos estaduais, não quiseram esperar. Muitos deles nem permaneceram no ato para poderem preparar o início da vacinação de suas populações ainda nesta mesma tarde.
Eduardo Pazuello, “expert” em logística – a mesma que levou ao retardo na liberação do uso emergencial das vacinas no Brasil e às mortes em Manaus por falta de oxigênio, – continuou batendo cabeça na manhã desta segunda-feira em Guarulhos, na Grande São Paulo. Fez confusão em relação a voos e vários governadores ficaram esperando no aeroporto e os voos não saíram.
Até o final da tarde, somente três estados, Goiás, Piauí e Santa Catarina, além do Distrito Federal, tinham recebido as vacinas.
SUPREMO COBRA PLANO DE VACINAÇÃO DO PLANALTIO
Diante de tamanha incompetência, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta mesma segunda-feira (18) a intimação do ministro e da Advocacia-Geral da União para que o governo federal atualize o plano de vacinação nacional contra a Covid-19.
A primeira versão do plano foi apresentada em dezembro. A determinação ocorre depois que o governo federal foi obrigado a antecipar a vacinação para esta segunda.
No domingo (17), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso emergencial das vacinas CoronaVac, do Instituto Butantan e a da Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca.
“Reportando-me ao compromisso firmado pela União Federal de encaminhar mensalmente as atualizações do Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a Covid-19, intime-se o Senhor Ministro de Estado da Saúde e o Senhor Advogado-Geral da União para que procedam à referida atualização, inclusive no tocante ao cronograma correspondente às distintas fases da imunização”, determinou o ministro.
BOLSONARO DISSE QUE NÃO COMPRARIA CORONAVAC
Antes da aprovação das vacinas pela Anvisa, Jair Bolsonaro fez ataques a elas e disse que não compraria a CoronaVac, do Instituto Butanan, “porque era da China e do Doria”. Ele questionou diversas vezes a eficácia da CoronaVac devido à sua origem chinesa.
Em outubro, o presidente chegou a suspender um acordo entre o Ministério da Saúde e o Butantan para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. Ele também havia dito que não compraria vacina da China. Na ocasião, em uma rede social, o presidente chamou a CoronaVac “de vacina chinesa de João Doria” e disse que os brasileiros não seriam “cobaia” de ninguém.
Na primeira manifestação pública após a decisão da Anvisa de aprovar o uso das vacinas (CoronaVac e de Oxford), de criticar as recomendações de medicações sem eficácia contra a Covid-19 e desautorizar o estímulo feito pelo presidente para que as pessoas se infectem para se proteger, Bolsonaro resmungou que a vacina não era de nenhum governador. Fez questão de dizer que era dele, apesar de estar xingando esta mesma vacina há duas semanas atrás. “Vacina é do Brasil, não é de nenhum governador’, disse Bolsonaro a seus apoiadores no Alvorada.
MAIA: NA HORA DA VERDADE, A CORAGEM NÃO É TANTA
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), lembrou nesta segunda-feira (18) que Jair Bolsonaro afirmou, no ano passado, que o Brasil não compraria a vacina. Ele disse que a mudança de postura do presidente sobre a CoronaVac é porque ele não sustenta suas posições.
“O presidente da República disse várias vezes que não compraria a vacina chinesa, que quem mandava era ele, mas na hora da verdade a coragem não é tão grande, não é isso? É corajoso até uma parte da história”, afirmou Maia em uma coletiva de imprensa na Câmara.
S. C.