Um conselheiro da Comissão de valores mobiliários chinesa, Dong Shaopeng, revelou ao jornal chinês em língua inglesa, Global Times, que as mudanças consecutivas no alto escalão do HSBC estão provavelmente relacionados com a prisão de Meng Wanzhou, diretora-tesoureira da Huawei, no Canadá.
Conforme já havia relatado a Reuters em fevereiro, foi o HSBC – cujo maior acionista era então o megafundo norte-americano Blackrock – que subsidiou as acusações de Washington contra a Huawei e Meng, enquanto buscava fechar um acordo com o Departamento de Justiça (DOJ) dos EUA para ser excluído das acusações de violação de sanções norte-americanas.
Em menos de uma semana, caíram o principal executivo do banco e chefe dos principais negócios na China, John Flint, depois de 18 meses no cargo e quase três décadas no banco, e a presidente executiva da HSBC Holdings, Helen Wong, no banco desde 1992.
Maior banco da Europa e principal agente financeiro em Hong Kong, o HSBC tem mais de US$ 2,5 trilhões em ativos – além de uma insuspeitada quantidade de derivativos zumbis nas masmorras do banco.
As cabeças rolaram em meio ao que a Reuters chamou de “sólido aumento” de 15,8% nos lucros antes dos impostos para US $ 12,4 bilhões nos primeiros seis meses de 2019. Desde novembro, a posição de maior acionista foi assumida pela Ping An Insurance, que desbancou o Blackrock.
Uma fonte próxima ao assunto disse ao Global Times que a maneira pela qual o HSBC ajudou o Departamento de Justiça dos EUA a obter documentos contra a Huawei foi “antiética”, já que forneceu informações confidenciais de seus clientes em troca de vantagens próprias.
Para Dong, a assistência do HSBC à acusação dos promotores dos EUA contra a Huawei, ultrapassou em muito a esfera normal de negócios, demonstrando sua sujeição à chamada “jurisdição de braços longos” dos EUA. Comportamento que – acrescentou – trouxe grandes danos “à integridade e moralidade do HSBC”.
A China – considerou – tem sido consistente em sua abertura ao receber investimentos de capital estrangeiro, mas “aqueles que desfrutaram dos dividendos dessa política nas últimas décadas e voltaram as costas, ou trabalharam contra os interesses nacionais da China, merecem críticas e punições”.
Os mais diversos círculos da China vêm pedindo a inclusão do HSBC na lista de entidades não-confiáveis em preparação em Pequim, em resposta simétrica à lista negra do regime Trump.
Ao ser indagada sobre a questão em uma coletiva de imprensa no início de agosto sobre a possibilidade de o HSBC ser adicionado à lista negra, a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying, limitou-se a declarar que a lista ainda está sendo submetida a “procedimentos relevantes”.
Já o HSBC asseverou que são “rumores infundados” os relatos que ligavam as demissões de executivos à pressão de acionistas quanto “a assuntos externos” – no caso, de que partira da Ping An Insurance a exigência. Esta asseverou que não se envolve nas “operações diárias e administração” do HBSC, e que seu investimento é “puramente financeiro”.
Enquanto isso, o HSBC sublinhou que a mudança de gestão no topo “não tem relação” com a questão da Huawei e garantiu que irá continuar “contribuindo para a prosperidade econômica do continente chinês e da Região Administrativa Especial de Hong Kong”.