O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), foi ouvido na segunda-feira (13) pelo juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal, em processo decorrente da Operação Unfair Play, que apura compra de votos para o Rio sediar a Olimpíada. O ex-governador voltou a admitir o uso de recursos não contabilizados, mas negou que “tenha agido como corrupto”.
“Fiz uso de caixa 2. Não estou dizendo que é um mal menor. Não é estratégia de defesa”, disse. “O que eu não fiz foi pedir propina, agir como corrupto. Eu nunca cheguei ao Arthur Soares para pedir isto ou aquilo”, continuou Cabral.
Segundo ele, os recursos de campanha que recebeu e não foram contabilizados nunca foram acompanhados de promessas ou garantias de contratos durante seus governos.
Mas seu ex-secretário de Saúde, Sérgio Côrtes, que também é réu na ação penal, prestou depoimento logo depois do ex-governador e disse o contrário. Ele declarou que a versão da contribuição sem um interesse por trás é “querer se enganar”. “Não tenho dúvida nenhuma que esse acerto está correlacionado”, disse.
Ele afirmou que editais eram manipulados para que empresas de Arthur Soares sempre os vencessem e que isso acontecia mediante pagamento de propina. “Ele [Cabral] quer se enganar. Não consigo distinguir recebimento não declarado para campanha e propina. Para que a doação aparecesse, a ‘coisa tinha que acontecer’”, apontou.
“O Arthur tinha conhecimento prévio das cláusulas restritivas de cada licitação. Ele mesmo chegava a sugerir algumas regras a fim de vencer”, contou o ex-secretário de Saúde, que não negou que o esquema funcionasse na pasta.
Cabral alegou que Arthur Soares, conhecido como “Rei Arthur” e que tinha alguns dos principais contratos com o governo do Estado do Rio, colaborou com sua campanha nas eleições de 2002 (ao Senado), 2006 e 2010 (governo do Estado), além de doar também, a pedido de Cabral, a aliados nos pleitos municipais de 2004, 2008 e 2012. “Recebi em torno de R$ 5 milhões”, calcula.
Na semana passada, o ex-governador foi ouvido a respeito da compra de votos de membros africanos do Comitê Olímpico Internacional. Desta vez, o ex-governador foi ouvido a respeito das propinas pagas por Arthur Soares.
Alvo de 24 processos, o ex-governador já foi condenado na Operação Lava Jato – no Rio e em Curitiba – seis vezes. As penas do peemedebista somam mais de 100 anos de reclusão.