
“Gente, eu tô muito aliviado, sabia?”, disse o ex-governador do Rio, Sergio Cabral, enquanto detalhava para o Ministério Público Federal o esquema de propina em sua gestão. O depoimento, de 21 de fevereiro, veio a público nesta terça-feira, dia 26.
Foi a primeira vez que Cabral confessou os crimes que cometeu enquanto governador do Rio – embora esteja preso desde novembro de 2016 e condenado a cumprir 198 anos e 6 meses de pena pelo recebimento de milhões em troca de contratos de serviços públicos.
No depoimento, solicitado pela defesa de Cabral, o ex-governador citou especialmente a participação do seu ex-chefe da Casa Civil Régis Fichtner e do também ex-governador (e então vice de Cabral) Luiz Fernando Pezão no esquema de propinas.
“Eu tirava os meus proveitos nos meus combinados. Eu quero x%, 2%, 3% da obra e o Régis fazia o acordo, se beneficiava também dessa caixa única aqui”, disse.
Questionado pelo procurador se houve entrega e repasse de dinheiro ilícito dentro do Palácio Guanabara, Cabral disse: “Houve entregas dentro do palácio, houve várias vezes. Para o Pezão, para o Régis”. O esquema teria começado já no primeiro ano de gestão, em 2007.
Boa parte dos acordos era feito a partir de contratos na área da saúde, como já era conhecido. Cabral confirmou a participação ativa do então secretário da pasta, Sérgio Cortês.
“Conheci Sérgio Cortês na campanha de 2006 mais proximamente. Quando acabou a eleição eu falei para o Cortês que tinha um contrato com o Arthur Soares [empresário conhecido como Rei Arthur] e combinamos uma propina de 3% para mim e 2% para você. Antes nos governos anteriores Arthur disse que a propina era de 20%”. A propina durante a sua gestão correu nas licitações para tudo quanto é equipamento: “escadas magirus, carros de bombeiros, caminhão da ressonância, tomógrafo”. Enquanto isso, a saúde no estado passava por uma das situações mais calamitosas do país.
Ainda diante do Ministério Público, Cabral classificou o roubo como um “erro de postura” e “vício” pessoal.
“Esse foi meu erro de postura, apego a poder, dinheiro… é um vício”. “
Ele também detalhou irregularidades nas obras do Maracanã, quando o grupo recebeu propina da Odebrecht; na licitação da linha 4 do metrô – para qual “o valor da obra poderia ter sido menor, se não houvesse a combinação com as empresas”; e no Porto de Açu, que para a sua construção ele confessou ter recebido US$ 16 milhões da empresa de Eike Batista.