O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, assumiu que pediu dinheiro ao empresário Flavio Werneck, dono da FW Engenharia, mas negou que fosse propina. Em depoimento ao juiz Marcelo Brêtas, na última segunda-feira (18), no Rio, o ex-governador disse “[Flavio] iria me ajudar em campanhas eleitorais, eu abri mão de ajuda de campanha para essa ajuda a mim”.
Segundo Cabral os recursos não eram caixa dois para campanha, explicação que tem sido a linha central de sua defesa para responder à acusação de ser o líder de uma organização criminosa antes e durante seu mandato como governador.
O ex-governador estimou em R$ 5 milhões a “ajuda” de Flavio Werneck e disse que o valor poderia ter sido muito maior, mas que o pedido foi mais baixo do que os demais empresários porque Werneck era um amigo de infância. Os pais do empresário eram amigos de seus pais, e ambos cresceram juntos no Engenho Novo e depois no Leblon.
Já, Flavio Werneck, que prestou depoimento antes de Cabral afirmou que pagava ao ex-governador propina de 5% sobre cada contrato que sua empresa assinava com o Estado do Rio. “Em diversas obras que fizemos para o governo do Estado havia o compromisso de 5% [do valor total da obra]”, destacou.
Segundo Werneck, o valor total da propina ficou entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões, pois na época seu faturamento com serviços ao Estado foi de aproximadamente R$ 400 milhões. A propina era paga através de notas fiscais frias para empresas do irmão de Cabral, Maurício Cabral, sua ex-mulher Susana Cabral e o operador financeiro do esquema, Carlos Miranda.
“Ninguém inventou nada. Acho que vem de tempos atrás. Simplesmente concordamos, erradamente, em participar deste tipo de situação até para exercer nossa profissão” disse Flavio ao confirmar a existência de propina.
CINEMA
Também na última segunda-feira, o Ministério Público do Rio de Janeiro pediu a transferência de Cabral para o Complexo Penitenciário Gericinó, em Bangu, e a suspensão do diretor do presídio de Benfica em investigação sobre “cinema” na cadeia. Em uma sala foram instalados uma TV de 65 polegadas e um home theater, com aparelho Blu-ray com cerca de 160 filmes. O termo de doação dos aparelhos era falso e foi feito dentro da unidade prisional em um computador da secretaria.
Os equipamentos foram encomendados pelo governador e outros presos, em nome de uma senhora de 70 anos que trabalha na capela prisional. Eles disseram para a senhora que fizeram uma vaquinha e que os filmes que assistiriam teriam conteúdo religioso evangélico. O nome de duas igrejas foi usado para simular uma doação. Segundo o MP-RJ a direção da prisão “está fazendo de tudo para obstaculizar a investigação”.