O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse, em depoimento, que seu vice-governador e sucessor, Luiz Fernando Pezão, participou da criação do esquema de corrupção e o manteve em seu governo.
“O [então] vice-governador Pezão participou da estruturação dos benefícios indevidos desde o primeiro instante do nosso governo”, declarou Cabral.
“Eu estabeleci junto com Pezão o percentual de 5% [sobre o valor total da licitação]: 3% para o meu núcleo, 1% para o núcleo dele, que era a Secretaria de Obras, e 1% para o TCE [Tribunal de Contas do Estado], para aprovação das licitações”, afirmou Cabral, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, no âmbito da Operação Boca de Lobo, que levou Pezão à cadeia.
Segundo Cabral, foi Pezão o inventor da “taxa de oxigênio”, que é justamente os 5% cobrados sobre as licitações e depois distribuídos entre os secretários e subsecretários. “Pezão estabeleceu isso porque dizia que tinha que abastecer as subsecretarias dele”.
Além do percentual, Pezão recebia uma mesada de R$ 150 mil. “Recebeu durante os 8 anos os pagamentos extras”, disse. O operador financeiro de Cabral, Sérgio de Oliveira Castro, deu a mesma informação durante um depoimento anterior, e acrescentou que Pezão recebia 13º da mesada.
Sérgio Cabral admitiu que recebia uma mesada de R$ 500 mil da Fetranspor, que cuidava do transporte público do Rio, e que Pezão passou a receber este valor quando assumiu a governança.
“Essa situação [da mesada de R$ 500 mil] ficou 4, 5 meses em 2015”.
A Fetranspor, disse Cabral, deu R$ 30 milhões para a campanha de Pezão a governador do estado.
“Foram R$ 30 milhões [da Fetranspor] para o governador Pezão para sua estrutura [de campanha] e R$ 8 milhões para meus deputados a quem eu tinha interesse de ajudar. Quando chegou em 2015, Pezão me procurou para me ajudar financeiramente, ele se ofereceu. (…) A campanha dele chegou a R$ 400 milhões, então teve sobra de caixa e ele me ofereceu”, relatou Cabral.
Segundo ele, “o Pezão tinha um estilo de vida muito simples. Então dava a impressão de que esses benefícios [de propina] não corriam, mas eu sabia que corriam e até sabia como fazia uso de algumas mordomias, porque era um estilo mais low profile”.
Por seu lado, Pezão, em depoimento logo depois de Cabral negou tudo. Ele declarou que só conheceu a existência da propina chamada de “taxa de oxigênio” pela imprensa: “Me surpreende muito nos depoimentos o ex-governador dizer que eu fui o criador dessa taxa”.
“O senhor (juiz Marcelo Bretas) me desculpe o desabafo, mas é a primeira vez que tenho chance da falar. Fui tirado dali do Palácio Laranjeiras e jogado na cadeia. E minha família passando por isso tudo. É uma inverdade, uma mentira grande (o que o Cabral disse)”, falou Pezão após as acusações de Cabral.
Pezão ainda apontou contradições no depoimento de Sérgio Cabral. “Acabei de ver as reportagens. Cabral diz que a Fetranspor me deu R$ 30 milhões. Há dias atrás, ele diz que eram R$ 20 milhões. Ele diz que minha campanha custou R$ 400 milhões. Ele que cuidou da campanha inteira!”, desabafou.
De acordo com Cabral, os governos anteriores aos seus também mantinham um esquema de corrupção. “Antes, eram 15% a 20% pagos aos governos anteriores da Rosinha e [Anthony] Garotinho”.
Garotinho rebateu, afirmando que “seu ressentimento em relação a mim e a Rosinha ficou evidente ao afirmar que ‘diminuiu a taxa de corrupção antes praticada’. Se tem alguma prova contra mim, deve entregá-la ao Ministério Público, como fiz em relação a ele seus comparsas. Não respondo a nenhum processo na Lava Jato, apenas ações movidas pela Justiça de Campos, por perseguições de grupos locais”.