Carlos Miranda confirmou ao juiz federal Marcelo Bretas que era um dos operadores do esquema do ex-governador Sérgio Cabral e que movimentou mais de R$ 500 milhões para a quadrilha.
O ex-assessor Carlos Miranda, apontado como operador financeiro da organização criminosa instalada no Rio de Janeiro durante os governos de Sérgio Cabral (PMDB), afirmou que o esquema de corrupção recebeu em torno de R$ 500 milhões, a maior parte encaminhada para o exterior.
A declaração foi dada na última segunda-feira (11), em depoimento ao juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, responsável pelos desdobramentos da Operação Lava-Jato no Rio. O magistrado também ouviu outros 4 acusados.
Segundo Carlos Miranda o dinheiro pago pelos empresários também entrava no financiamento de campanhas políticas de aliados de Cabral. Somente a Carioca Engenharia, de acordo com Miranda, repassou cerca de R$ 30 milhões para a organização.
Miranda admitiu controlar todas as contas do ex-governador, inclusive as pessoais, desde a década de 1990. “Eu cuidava das despesas pessoais do governador, inclusive da movimentação em suas contas” admitiu e destacou que cuidava, inclusive, da declaração de Imposto de Renda do peemedebista.
Como operador do esquema, Miranda reconheceu receber R$ 150 mil por mês e disse que ex-secretários do governo Cabral Wilson Carlos e Régis Fichtner recebiam o mesmo valor.
“Tirávamos cerca de R$ 150 mil por mês. Também havia prêmios no fim do ano, como uma espécie de décimo-terceiro ou decimo-quarto salários. Tudo era pago em dinheiro”, contou o operador de Cabral.
Miranda confirmou que a organização era controlada por Cabral e que os pagamentos aconteceram até 2016, às vésperas da prisão do ex-governador. Segundo ele, Wilson Carlos era o responsável pelos contatos com as empresas, e Fichtner cuidava do andamento do esquema dentro da estrutura do governo.
Também ouvido nesta segunda, o sócio da construtora Carioca Engenharia Ricardo Pernambuco confirmou que a propina paga pela empresa para a organização liderada por Cabral aumentou de R$ 200 mil para R$ 500 mil por mês com a obra da Linha 4 do metrô do Rio.
De acordo com Miranda, toda a movimentação de dinheiro de propina era registrada em uma planilha, dividida em duas partes e armazenadas no e-mail dele. As senhas de acesso eram trocadas com frequência. Ao verificar o avanço das investigações da Operação Lava-Jato sobre o grupo comandado por Cabral, Miranda contou que decidiu destruir o documento.
Para o procurador da República Sérgio Pinel, os depoimentos desta segunda-feira confirmam o funcionamento da organização criminosa chefiada pelo ex-governador. “Funcionou por um longo período uma organização criminosa aqui no Rio de Janeiro. Uma das empreiteiras pagou propina, não só para o ex-governador, mas também para outros agentes públicos. A realização dessas obras acabou sendo escolhida pelo governo do estado unicamente pelo interesse em receber propinas”, afirmou.
Depois de Carlos Miranda, o ex-subsecretário de Transportes Luis Carlos Velloso e o ex-diretor da Riotrilhos, Heitor Lopes de Souza Junior, também detalharam o esquema de pagamento de propina por parte de empresários a agentes públicos ligados a Cabral. Além da Linha 4 do metrô, a Carioca Engenharia também foi responsável por obras no Maracanã, o Arco Metropolitano e o PAC das Favelas.
Velloso, que teve o acordo de colaboração com o Ministério Público Federal homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal, também disse ter recolhido R$ 4,5 milhões em propinas com as empreiteiras que faziam parte do consórcio de metrô da Linha 4 e esse valor foi repassado ao deputado federal pelo Rio Julio Lopes (PP), então secretário de Transportes.
Cerca de R$ 3,5 milhões foram depositados em uma conta “não-oficial” na corretora Advalor Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda. A maior parte desses valores, disse o ex-subsecretário, eram depositados pelo ex-diretor de contratos da Odebrecht Marcos Vidigal do Amaral, que seria o responsável por recolher a propina entre as outras empreiteiras do consórcio.
A conta teria como principal objetivo financiar a campanha à reeleição de Lopes, mas ao menos R$ 1 milhão, segundo Velloso, foi destinado ao pagamento de despesas pessoais do deputado. O ex-subsecretário disse ainda ter repassado mais R$ 1 milhão em espécie, pagos pelo ex-diretor de contratos da Odebrecht para Julio Lopes que teria repassado o valor para o empresário Georges Sadala.
Doleiros serão extraditados do Uruguai
Operadores do esquema de lavagem de dinheiro do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), os doleiros Vinícius Claret Vieira Barreto, conhecido como Juca Bala, e Cláudio Fernando Barbosa serão extraditados para o Brasil. Os dois foram presos preventivamente em março em Montevidéu, no Uruguai, e agora irão aguardar o julgamento detidos no Rio de Janeiro.
De acordo com o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, do Ministério da Justiça, o governo uruguaio já autorizou a realização da extradição e solicitou duas vagas em presídios nacionais. As ordens de prisão foram assinadas pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal do Rio, responsável na 1ª instância pelos processos da Operação Lava Jato no Estado.
Segundo os irmãos Renato e Marcelo Chebar em colaboração na Operação Calicute, braço da Lava Jato, eles só falavam com Vieira Barreto através do programa de mensagens Messenger, usando um sistema de criptografia. Renato admitiu ter se encontrado com ele em ao menos três ocasiões, sempre no hotel onde se hospedava em Montevidéu. Segundo os irmãos Chebar, Cabral mantinha US$ 100 milhões escondidos no exterior.