Na quinta-feira (4) o ex-governador Sérgio Cabral admitiu, de viva voz, que investiu US$ 2 milhões na compra de votos, em 2009, para a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016. O dinheiro foi cedido pelo “empresário” foragido Arthur Soares – o Rei Arthur.
Cabral disse também, diante das câmeras, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal, que o ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, indicou o presidente da Federação Internacional de Atletismo, o senegalês Lamine Diack, para operar o propinoduto.
O laço já estava sendo apertado pela Operação Unfair Play, um desdobramento da Lava Jato, que chegou a prender Nuzman e seu braço-direito Leonardo Gryner em outubro de 2017. Ambos foram recolhidos à cadeia pública de Benfica, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e soltos semanas depois. Nuzman e Gryner, não por acaso, aparecem em diversas fotos da tristemente célebre “farra do guardanapo”, realizada em Paris, também no ano de 2009, para exibir o sucesso de Sérgio Cabral no uso generalizado da corrupção como método de governo.
Cabral confirmou o que se sabia e deu detalhes, inclusive que informou ao ex-prefeito Eduardo Paes e ao ex-presidente Lula – seus aliados na época – sobre a compra desses votos. Falou pelos cotovelos.
Ao recolocar Nuzman no noticiário policial, o ex-governador pode ter, ainda que involuntariamente, posto em destaque laços mal explicados entre um corrupto de carteirinha e um general que virou ministro de Bolsonaro.
O presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, contratou o general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, em agosto de 2011, como diretor cultural, com um salário ilegal, superior ao dos ministros do STF.
O general alega que o salário era legal, “por ser pago por entidade privada”. Mas pela Lei 9.615/1998, entidades privadas que recebem dinheiro público – o COB recebe um repasse de 1,7% das loterias federais – têm que pagar salários que não ultrapassem o valor de 70% do teto constitucional do poder executivo.
Como o teto era de R$ 33,9 mil em 2017, o limite seria de R$ 23 mil. O salário pago a Heleno pelo COB, na mesma data, era de R$ 59 mil.
O general Heleno permaneceu no COB até a prisão de Nuzman pela Operação Unfair Play e sua renúncia em outubro de 2017.
O general Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que ora se faz de honesto, é o mesmo que declarou que a apreensão de 39 kg de cocaína pela polícia espanhola no avião da escolta de Bolsonaro foi “falta de sorte”, e que os índices de desmatamento da Amazônia, que apontam um salto de 60% em junho deste ano, “são manipulados”.
(SÉRGIO RUBENS)