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Cineasta foi um dos nomes centrais do Cinema Novo e dirigiu obras como Ganga Zumba, Xica da Silva, e Bye Bye Brasil
O cinema brasileiro perdeu uma de suas figuras mais emblemáticas nesta sexta-feira (14). Carlos Diegues, conhecido como Cacá Diegues, faleceu aos 84 anos no Rio de Janeiro, vítima de complicações de uma cirurgia. Diretor, roteirista e produtor, Diegues foi um dos nomes centrais do Cinema Novo e um dos maiores expoentes da cultura brasileira.
Nascido em 1940, em Alagoas, Diegues começou sua trajetória no cinema ainda jovem, em um contexto de efervescência cultural e política. Nos anos 1960, ao lado de nomes como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Joaquim Pedro de Andrade, ele ajudou a construir o Cinema Novo, movimento que buscava retratar as contradições sociais do Brasil com uma estética inovadora e engajada.
Durante o período da ditadura militar (1964-1985), Diegues produziu obras que se tornaram símbolos de resistência e crítica social. Seu primeiro longa-metragem, “Ganga Zumba” (1963), foi baseado no livro Ganga Zumba, de João Felício dos Santos, e narra a história do Quilombo dos Palmares, refletindo sobre a luta pela liberdade e a identidade negra no Brasil. O filme, feito antes do golpe militar, já anunciava o tom político que marcaria sua carreira.
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Em 1976, Diegues lançou “Xica da Silva”, um de seus maiores sucessos. O filme, estrelado por Zezé Motta, conta a história da escravizada que se tornou uma figura poderosa no Brasil colonial. A obra, que mistura drama e musical, foi um marco na representação da cultura afro-brasileira no cinema e consolidou Diegues como um diretor capaz de unir crítica social e entretenimento.
Já “Bye Bye Brasil” (1980) retrata a jornada de uma trupe de artistas mambembes pelo interior do Brasil, em um momento de transformações sociais e culturais no país. O filme, que mescla humor, poesia e crítica, é considerado um dos mais importantes da cinematografia brasileira e reflete o olhar humanista de Diegues sobre as contradições do Brasil.
Com o endurecimento da repressão durante a ditadura, Diegues foi forçado a se exilar na França em 1969. Lá, continuou produzindo e mantendo viva a chama do Cinema Novo. Retornou ao Brasil nos anos 1970, onde seguiu criando obras que dialogavam com a realidade do país, sempre com um olhar sensível e crítico.
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LEGADO
Além de seus filmes icônicos do período da ditadura, Cacá Diegues construiu uma carreira diversificada com produções que marcaram o cinema, a televisão e até mesmo a literatura.
Cacá Diegues dirigiu mais de 20 longas-metragens, muitos dos quais se tornaram referências na cinematografia nacional. Entre eles, destacam-se:
- Quilombo (1984): Um épico sobre o Quilombo dos Palmares, o filme celebra a resistência negra e a luta pela liberdade, reunindo um elenco estelar com Zezé Motta, Tony Tornado e Grande Otelo. A trilha sonora, composta por Gilberto Gil, é um marco da música brasileira.
- Tieta do Agreste (1996): Baseado na obra de Jorge Amado, o filme traz Sônia Braga no papel principal, contando a história de uma mulher que retorna à sua cidade natal após anos de ausência. A produção mistura drama, humor e crítica social, características presentes na obra de Diegues.
- Deus é Brasileiro (2003): Uma comédia que imagina Deus (interpretado por Antônio Fagundes) visitando o Brasil em busca de um santo para substituí-lo durante suas férias. O filme, que também estrela Wagner Moura e Paloma Duarte, é uma celebração das peculiaridades e da diversidade cultural do país.
Cacá Diegues também deixou sua marca na televisão brasileira. Em 1982, dirigiu a minissérie O Pagador de Promessas, adaptação da obra de Dias Gomes, que foi um marco na TV brasileira pela qualidade de sua produção e pela profundidade de sua narrativa. Além disso, colaborou com a Rede Globo em diversos projetos, incluindo especiais e séries que refletiam seu compromisso com a cultura nacional.
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
Em 2014, Cacá Diegues foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando a cadeira número 7, que pertenceu a escritores como Castro Alves e Valentim Magalhães. Sua eleição foi um reconhecimento não apenas de sua contribuição para o cinema, mas também de seu talento como escritor e intelectual. Diegues publicou diversos livros, incluindo Vida de Cinema (2014), uma autobiografia que narra sua trajetória no cinema e suas reflexões sobre a cultura brasileira.
Na ABL, Diegues foi um defensor da integração entre as artes e da valorização da cultura popular. Sua presença na instituição reforçou o diálogo entre o cinema e a literatura, duas formas de expressão que ele sempre soube unir em sua obra.
Nos últimos anos, Diegues seguiu ativo no cinema e na cultura. Além de sua carreira como cineasta, ele foi um defensor da democratização do acesso à cultura e da preservação da memória cinematográfica brasileira.
A morte de Cacá Diegues deixa um vazio no cenário cultural, mas seu legado permanece vivo em suas obras, que continuam a inspirar novas gerações de cineastas e espectadores. Como ele mesmo disse certa vez: “O cinema é a minha forma de estar no mundo e de transformá-lo.”
Cacá Diegues deixa a esposa, a produtora Renata de Almeida Magalhães, e quatro filhos. O velório será realizado no sábado (15), no Cemitério Memorial do Carmo, no Rio de Janeiro.