Não gerou emprego como propagandeou o ministro Guedes
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta terça-feira (30) pelo Ministério do Trabalho, mostram que, ao contrário do propagandeado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em 2020, no primeiro ano da pandemia, o Brasil fechou 191.502 vagas de empregos com carteira assinada e não gerou empregos.
Com os dados ajustados, o saldo negativo do emprego formal no Brasil é resultado de 15.619.434 admissões e 15.810.936 demissões.
Em janeiro, Guedes dizia que o Brasil crescia em “V” e que na pandemia, ao contrário de outros países, gerou empregos com saldo positivo de 142.690 vagas, a diferença de 15.166.221 admissões e de 15.023.531 desligamentos. “Em um ano terrível em que o PIB caiu 4,5%, criamos 142 mil novos empregos”, comemorou o ministro na época.
Em setembro, os números revisados do Caged já desmascaravam o desastre que o ministro de Bolsonaro tentava esconder. O número de empregos com carteira assinada criados no país em 2020 divulgado na época foi a metade do que vinha sendo divulgado e comemorado pelo governo. Ao contrário do saldo de 142 mil novos empregos, o resultado foi derrubado em 46,8% e o número de postos com carteira assinada caiu para um saldo de 75.883 vagas de emprego formal.
Guedes desdenhou o impacto da revisão do Caged afirmando que 66,8 mil pessoas empregadas a menos não representa “nenhuma mudança do ponto de vista qualitativo”. Para ele pouco importa o número de brasileiros que estão revirando as caçambas de supermercados em busca de restos de comida. Ou ainda a inflação galopante corroendo o orçamento das famílias, com os preços dos alimentos, da energia elétrica e do gás de cozinha na Lua.
São 13,5 milhões de desempregados; 39 milhões no trabalho precário; 25,5 milhões de brasileiros se virando como podem, por conta própria e vivendo de “bico”; 11,7 milhões no setor privado sem carteria de trabalho; 19 milhões na extrema pobreza e a renda média desabando 11,1%.
O que importa para Guedes é a manipulação com os números para dizer que o país só desabou 4,1% na pandemia e que a economia está crescendo em “V”, quando no máximo, após o tombo do segundo trimestre de 2021, a economia está mais para raiz quadrada, e já não consegue resultados positivos nem na comparação com as bases deprimidas verificadas durante a pandemia em 2020. As previsões para o terceiro trimestre de 2021 são de uma economia estagnada.
Este ano, a produção industrial ficou no vermelho em sete de nove meses e encerrou o terceiro trimestre em queda, assim como as vendas do comércio varejista. O setor de serviços ficou no vermelho em setembro. As previsões de instituições financeiras para o próximo ano já estimam um país em recessão.
Com Guedes e Bolsonaro o que crescem no Brasil são a inflação, os juros – os maiores do mundo -, o dólar, a fome e a miséria, as queimadas na Amazônia, os cortes nos investimentos em Ciência e Educação, o ódio, a cizânia e os ataques à democracia.
E crescem também as aplicações de Paulo Guedes em torno de R$ 50 milhões que esconde em paraísos fiscais.
Mas, para o “guru” de Bolsonaro, gerar ou não gerar empregos significa “muito barulho”. “Não há mudança, do ponto de vista qualitativo, se ao invés de 3 milhões e 50 mil empregos, você cria 3 milhões de empregos, são 50 mil a menos”, enfatizou na época, insistindo em pintar uma realidade fantástica onde o Brasil estaria em plena recuperação econômica.
Enquanto mente para a população e para o mundo, fazendo propaganda de sua gestão, Bolsonaro não faz nada para minimizar uma crise que levou o desemprego a níveis recordes, milhões de trabalhadores para informalidade e fez a miséria crescer.
Em nota divulgada junto ao anúncio da revisão em setembro, o Ministério do Trabalho informou que a diferença no saldo de empregos criados em 2020 se deve a um aumento no número de declarações de contratação e demissão realizadas fora do prazo pelas empresas e que essa alta é provocada pelo processo de transição das declarações para o eSocial. Metodologia mudada por Guedes em 2020 e que especialistas já apontavam para o risco de subnotificação dos dados, especialmente no número de empresas que, sem apoio do governo e sem acesso ao crédito, fecharam as portas durante a pandemia e não informaram o número de demissões.
“Nós temos uma ampliação no registro de admissões e uma subnotificação no registro das demissões. Isto já foi detectado pelos técnicos do Ministério”, disse Patrícia Pelatieri, diretora adjunta do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Segundo a diretora do Dieese, os dados sobre demissões podiam estar sendo represados por empresas que já fecharam suas portas e entraram na Justiça com pedido de falência. “Nós detectamos um aumento no número de pedidos de falência, e há também um aumento enorme no número de processos judiciais, por parte dos trabalhadores, de não recebimento das rescisões trabalhistas. O que nos leva a crer que há subnotificações por conta das empresas que estão falindo, ou nem pediram falência, mas acabaram fechando, não estão registrando demissões”, alertou em entrevista ao HP na época.