No acumulado do ano até setembro, o saldo está negativo em 559 mil postos
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informou nesta quinta-feira (29) que a geração de emprego formal no Brasil em setembro foi a maior para o mês dos últimos 29 anos. Em meio à pandemia e uma crise econômica, o dado se descola por completo dos demais índices de emprego – inclusive aqueles levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – e respaldam o que pesquisadores notaram: a discrepância entre as informações pode ser um indício de subnotificação.
Os números são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que no mês passado registrou, de acordo com o MTE, um saldo de 313.564 empregos com carteira assinada. O número é a diferença entre 1.379.509 contratações e 1.065.945 demissões.
Ainda que nos últimos três meses o Caged tenha apresentado saldos positivos, de janeiro a setembro foram fechados 558.597 mil postos de trabalho com carteira quando deduzidas as contratações das demissões. Tambén, ainda não houve recuperação das perdas registradas entre março e maio deste ano – quando foram perdidos 1,594 milhão de empregos. De julho a setembro, foram abertas 697.296 vagas com carteira assinada.
Setores
De acordo com o Caged de setembro, a indústria foi o setor que mais contratou em setembro, apresentando saldo de 110.868 mil contratações. Em seguida figurou o setor de serviços, com 80.481 contratações. Embora os setores tenham recuperado as parte das perdas da pandemia nos últimos meses, ainda registram queda na comparação anual ou no acumulado de 2020. É o caso da indústria, que até agosto acumula perdas de 8,6%, o que faz não justificar-se o saldo inesperado de geração de empregos.
“Tal saldo é inesperado”, pontuou o economista Daniel Duque em nota técnica do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) sobre os resultados positivos do Caged de julho e agosto. “Mostra-se também enigmática a relação desses dados com outros. Por exemplo, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) e a PNAD Covid-19 registraram até julho queda do número de empregos formais com carteira assinada (em agosto essa última mostrou pequena recuperação). Ainda que tais pesquisas jamais tenham mostrado total equivalência, a distância entre elas aumentou expressivamente durante a pandemia”.
A nota do Ibre aponta que no período houve queda expressiva no número de empresas que notificavam o Ministério do Trabalho sobre as demissões – o que explica a tese da subnotificação. De janeiro a março, eram cerca de 850 mil empresas mandando informações ao Caged. Esse número caiu para 550 mil a partir de abril, subindo para apenas 610 mil em agosto.
O fechamento em massa de empresas durante a pandemia pode ter afetado as estatísticas de desligamentos. “Uma empresa que fechou ou ‘hibernou’ tem grande chance de ter realizado demissões, sem reportá-las ao governo”, afirma Duque. “Admitindo que tais empresas não realizaram admissões, isso implicaria que o saldo das empresas que não reportaram movimentações seria negativo”.
Além das estatísticas díspares, o pesquisador se baseou nas informações sobre solicitação do seguro-desemprego para desmontar o enigma do saldo.
“O número de pedidos de seguro de desemprego, que cresceu expressivamente mais quando acumulado nos últimos meses em relação aos desligamentos do Caged, sugere mais demissões do que reportado na segunda pesquisa”, afirma Duque.
Por avaliação final, o estudo conclui que os números do Caged podem não ser retrato fidedigno do emprego e desemprego no momento. “Eles não seriam evidência de um mercado de trabalho mais forte”.