No ano passado, segundo o Caged, foram geradas 75.883 vagas e não 142.690 celebradas por Guedes e Bolsonaro
Após uma revisão no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o número de empregos com carteira assinada criados em 2020 no Brasil desabou quase pela metade, por conta da subnotificação de demissões.
Segundo o divulgado e comemorado pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, em meados de janeiro deste ano, o país tinha gerado em todo o ano passado 142.690 empregos com carteira assinada. No entanto, esse número, que já foi considerado por muitos como desastroso, conseguiu ficar ainda pior para o ministro Guedes, que passou o ano todo aventando pelos quatro cantos que a economia brasileira estava se recuperando em V (explosivo).
A verdade é que no ano passado foram criadas apenas 75.883 vagas com carteira de trabalho, de acordo com a revisão feita pelos técnicos do Ministério da Economia.
Esse resultado representa uma queda de 46,81%, na comparação com o número divulgado pelo governo em janeiro.
Quando divulgado, o Caged de 2020 acumulava 15,166 milhões de admissões e 15,023 milhões demissões. Agora, após 10 meses de revisões mensais, o número de admissões subiu para 15,437 milhões, uma correção de 1,78%, apontou o Uol. Por outro lado, a quantidade de demissões aumentou para 15,361 milhões, um ajuste de 2,25%.
No ano passado, o governo realizou uma mudança na metodologia do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o que gerou a desconfiança do público em geral, que passou a ver notícias de geração recorde de empregos de carteira assinada, quando a economia encolhia com o desemprego em alta e a fome batendo na porta.
O fato era que o governo comparava os dados do antigo CAGED com o novo sistema, cujas bases são incompatíveis, como explicou a diretora adjunta do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Patrícia Pelatieri.
“As séries (do antigo Caged com o novo) não são comparáveis, e o que está dando confusão é o próprio Ministério estar fazendo comparação entre coisas que não são comparáveis”, disse Pelatieri ao HP, destacando, ainda, que Paulo Guedes estava ignorando as subnotificações das demissões.
“Nós temos uma ampliação no registro de admissões e uma subnotificação no registro das demissões. Isto já foi detectado pelos técnicos do Ministério”, disse Pelatieri, completando que os dados sobre demissões podiam estar sendo represados por empresas que já fecharam suas portas e entraram na Justiça com pedido de falência.
“Nós detectamos um aumento no número de pedidos de falência, e há também um aumento enorme no número de processos judiciais, por parte dos trabalhadores, de não recebimento das rescisões trabalhistas. O que nos leva a crer que há subnotificações por conta das empresas que estão falindo, ou nem pediram falência, mas acabaram fechando, não estão registrando demissões”, explicou.
Guedes e Bolsonaro tentaram esconder a triste realidade que atinge milhões de brasileiros, agravada com a pandemia da Covid-19. No ano passado, a economia desabou 4,1% e os índices de desemprego atingiram níveis recordes.
Segundo os últimos dados do IBGE, divulgados em outubro deste ano, o número de desempregados no país atinge cerca de 14 milhões de pessoas e 37 milhões estão na informalidade, no trabalho precário. A renda desabou 10% em um ano.