Totalizando 53.457 mortos desde o começo da pandemia do novo coronavírus no ano passado, a Califórnia, Estado mais populoso dos EUA, reservará 40% do próximo lote de vacinas para pessoas que vivem em regiões mais empobrecidas, numa tentativa de atenuar a crescente desigualdade exposta pela pandemia.
“As famílias que ganham mais de 120 mil dólares [por ano] têm o dobro do acesso às vacinas do que as comunidades de latinos e negros, que foram desproporcionalmente impactadas. “É isso que temos que reequilibrar. Temos que admitir isso”, afirmou o governador democrata Gavin Newsom.
O fato é que os moradores das regiões mais pobres da Califórnia receberam, até agora, tão somente 1,6 milhão de doses de vacinas das 10 milhões administradas – ou seja, 16% – em um Estado com 40 milhões de habitantes.
“Há uma desproporcionalidade na comunidade latina no Estado da Califórnia, na comunidade afro-americana também, mas é ainda mais desproporcional na comunidade latina”, reconheceu o governador Newsom.
Recente reportagem do New York Times intitulada “Morrer de Covid em um hospital de Los Angeles” descreve a tragédia vivida por quem mais precisa nesta grande cidade californiana. Segundo o jornal, oito de cada dez pessoas falecidas no hospital Martin Luther King eram latino-americanas, uma comunidade que tem as mais altas taxas de infecção pelo coronavírus em Los Angeles, seguido dos negros. “Os residentes mais pobres da cidade, muitos dos quais vivem próximos do hospital, morrem quatro vezes mais por esta doença que as pessoas com maiores recursos econômicos”, registrou.
Conforme a enfermeira Michelle Goldson, a questão é que muitos pacientes não agem e se calam, por verem com desconfiança o sistema hospitalar periférico, só buscando socorro quando estão desesperados e extremamente enfermos. Goldson explicou que a pouca estrutura leva à falta de confiança e isso faz com que as mortes não se limitem aos casos graves. “Aqui, muitos estão morrendo”, conclui.