
As candidatas laranjas do PSL de Pernambuco disseram em depoimento à Polícia Federal que o dinheiro gasto em gráfica fantasma também foi para rodar materiais para a campanha de Jair Bolsonaro.
Nas eleições de 2018, o PSL organizou candidaturas falsas para desviar dinheiro do fundo eleitoral e driblar as cotas femininas nas chapas. Em Pernambuco, três candidatas receberam R$ 781,6 mil e tiveram apenas 3.330 votos. Em Minas Gerais, quatro candidatas receberam R$ 279 e tiveram 2.084 votos.
Os gastos em Pernambuco aconteciam junto à gráfica Itapissu, que, quando averiguada, não tinha nenhuma máquina para impressão em larga escala em seus endereços.
O escândalo, que veio a público em fevereiro, fez com que Gustavo Bebianno, que presidiu o PSL nacionalmente durante as eleições, deixasse de ser ministro com menos de dois meses de cargo.
Uma das ex-candidatas em Pernambuco, Maria de Lourdes Paixão, que recebeu R$ 400 mil do fundo eleitoral para fazer uma campanha que resultou em 274 votos, afirmou em depoimento à PF que “era estratégia do partido a distribuição de material de campanha dos candidatos proporcionais que contivessem a imagem do candidato a presidente”.
“Todos os candidatos do partido produziram material para Jair Bolsonaro”, disse outra candidata.
Os R$ 400 mil foram entregues à campanha de Maria no dia 3 de outubro, ou seja, quatro dias antes das eleições. No mesmo dia Maria contratou junto à Gráfica Itapissu R$ 380 mil em adesivos.
De acordo com as regras aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a comprovação dos gastos deve ser feita pelo candidato que o fez, mas todos os beneficiários devem registrar os valores das operações em suas prestações de contas.
Na prestação de Jair Bolsonaro não há registro de material de campanha produzido em Pernambuco.
As ex-candidatas Érika Siqueira, assessora de imprensa ligada a Luciano Bivar, e Mariana Nunes também participaram do esquema de candidaturas falsas. A primeira gastou R$ 250 mil e recebeu 1.315 votos, enquanto a segunda gastou R$ 131,5 mil e recebeu 1.741 votos.
A maior parte dos gastos das candidatas foi junto à Gráfica Itapissu.
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que em caso de candidaturas laranjas será cassada toda a chapa no estado. Além de Pernambuco, o PSL também organizou um laranjal em Minas Gerais. Ao todo, seriam sete deputados cassados.
O ministro do Turismo de Jair Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio, que presidiu o PSL em Minas Gerais durante as eleições, distribuiu R$ 279 mil entre quatro candidatas que conseguiram, juntas, apenas 2.084 votos. São elas Lilian Bernardino, Milla Fernandes, Débora Gomes e Naftali Tamar.
A ex-candidata a deputada estadual Talita Caldas disse ter sido usada pelo PSL em Pernambuco com o único objetivo de preencher cotas de gênero e fazer campanha para o então presidente da legenda pernambucana.
“Só quero que as pessoas sejam punidas e que Luciano Bivar seja preso”, disse Talita em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo.
Luciano Bivar é presidente nacional do PSL e foi eleito deputado federal por Pernambuco.
Ela não faz parte do grupo de pessoas investigadas, mas foi ouvida pela Polícia Federal e deu seu testemunho de que o laranjal ocorreu. Talita contou que sofreu pressão para apoiar Bivar e, depois, foi retaliada por discordar da dobradinha.
Ainda sobre o PSL, o jornal revela que o ex-ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) disse em depoimento à Polícia Federal que Bolsonaro (PSL) chancelou um acordo para repassar 30% do fundo eleitoral do PSL (cerca de R$ 2,7 milhões) para o diretório do partido em Pernambuco.
Ao ser questionado porque o diretório de Pernambuco foi beneficiado com as maiores cifras, Bebianno disse que no começo de 2018 Bolsonaro e o deputado Luciano Bivar fecharam um acordo para que o então pré-candidato presidencial entrasse no PSL.
“Perguntado sobre quem seria o responsável pela definição das contas relativas aos fundos partidário e especial [eleitoral] para cada estado e seu correlato repasse para os candidatos durante o processo eleitoral, [Bebianno] respondeu que na forma do acordo político celebrado entre Jair Bolsonaro, Luciano Bivar, Fernando Francischini [então deputado federal pelo Paraná e aliado de Bolsonaro], Antônio Rueda [braço-direito de Bivar], Eduardo Bolsonaro [filho do presidente] e o declarante, parte relevante do fundo eleitoral, em torno de 30%, seria destinado para o estado de Pernambuco, estado original da fundação do PSL, e que os 70% restantes seriam distribuídos de acordo com o peso eleitoral de cada estado”, diz a transcrição de parte de seu depoimento.
Bebianno depôs no inquérito dos repasses de dinheiro do fundo eleitoral às candidatas laranjas de Pernambuco, que saíram do diretório nacional do PSL, na época em que era presidido por ele.