Em depoimento à Polícia Federal, o banqueiro e ex-deputado federal Ronaldo Cezar Coelho afirmou que recebeu do PSDB 6,5 milhões de euros (R$ 27,5 milhões pelo câmbio atual) em uma conta na Suíça em 2009/2010.
Segundo Cezar Coelho, o dinheiro se refere a pagamento pelo aluguel de um avião para a campanha de José Serra, do PSDB, em 2010. Ele disse que tratou do uso do avião diretamente com o então presidente do PSDB, Sérgio Guerra, que faleceu em 2014. Segundo declarou, ele indicou a Guerra uma conta de taxi aéreo para receber os pagamentos, mas o presidente do PSDB disse que providenciaria os recursos, mas os valores só poderiam pagos no exterior.
“Que Sergio Guerra afirmou que iria obter os recursos, mas que somente poderia realizar os pagamentos diretamente ao declarante [Cezar Coelho] no exterior”, registrou a PF no depoimento do banqueiro. Cezar Coelho já havia dado a informação em janeiro do ano passado, mas agora o fez em depoimento à PF, segundo jornal “O Estado de S. Paulo”. O banqueiro foi filiado ao PSDB de 1988 a 2013, agora está no PSD.
Ronaldo Cezar Coelho disse que “alimentava sua conta” em um banco suíço “através de investimentos que realizava” e que, em 2016, aproveitando-se da Lei de Repatriação, criada no governo Dilma, internalizou cerca de R$ 23 milhões.
O depoimento de Ronaldo Cezar Coelho confirma outros depoimentos de colaboração premiada de executivos da Odebrecht. Por exemplo, o ex-diretor da empreiteira, Carlos Armando Guedes Paschoal, conhecido como Cap, disse ter pago ilegalmente R$ 23 milhões para a campanha de Serra em 2010. Ronaldo Cezar Coelho foi o responsável pelo acerto de parte desse valor. Outro depoimento da investigação, que está no Supremo Tribunal Federal, é o de Benedito Barbosa da Silva júnior.
Num depoimento de 26 de junho do ano passado, o ex-executivo da Odebrecht Carlos Paschoal, o CAP, disse que os recursos referentes a acordo judicial das obras da rodovia Carvalho Pinto, em São Paulo, seriam “remetidos para o exterior” e que caberia a “Ronaldo Cezar Coelho receber no exterior os valores referentes ao acerto de 15% sobre os pagamentos do acordo entre DERSA e a CBPO”. E que, segundo relatório da PF, “Ronaldo Cezar Coelho indicou duas contas distintas para receber o dinheiro no exterior, ambas localizadas na Suíça”. E que também cabia ao Setor de Operações Estruturadas realizar pagamentos destinados a Ronaldo Cezar Coelho.
Já Benedito Júnior disse que Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, “foi nomeado diretor de engenharia da DERSA pelo governador José Serra”. E que “já que já na primeira conversa com Paulo Vieira de Souza foi solicitado pagamento de valores indevidos no montante de 0,75% sobre cada fatura paga dos contratos do RODOANEL SUL” Que conforme foi relatado por Roberto Cumplido [ex-diretor de Contratos da Odebrecht em São Paulo], Paulo Vieira de Souza afirmou que tais pagamentos eram para “sustentar as campanhas de·JOSE SERRA e ALOYSIO NUNES”.
Benedito também relatou que “pelo acordo de mercado que foi estabelecido, as construtoras Norberto Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão e Camargo Correia se reuniram e analisaram as características do edital do Rodoanel Sul com objetivo de avaliar os potenciais interessados e concorrentes; Que o valor máximo da obra foi estabelecido pelo cliente no momento da publicação do edital, não sendo possível a apresentação de propostas acima desse montante; QUE entretanto, o acordo de mercado foi danoso ao Estado de São Paulo pois eliminou a possibilidade da DERSA obter descontos sobre o preço estabelecido no edital, tendo também eliminado concorrência ao definir os ganhadores cada lote das obras do Rodoanel Sul”.
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