Mentiras e difamação para impedir debate
Derrubou o crescimento do Brasil de 36º no mundo em 2010 para 182º, em 2014
(HP 01/10/2014)
No Brasil, há muito – mesmo quando os governantes não podiam ter mais que um mandato – as eleições sempre foram consideradas um balanço do governo que se encerrava. Exceto, obviamente, a monarquia e a ditadura, sempre foi assim. O “julgamento das urnas” é uma ideia tão enraizada na cultura nacional, que a expressão tornou-se um lugar comum, e não houve um único presidente, com exceção da atual, que não apelasse a esse tribunal – às vezes com bons resultados, às vezes com péssimos – ao se dirigir ao povo. É natural que assim seja, pois não é possível construir o futuro, sem julgar o passado.
Dilma assumiu o governo de um país que crescia a +7,5% ao ano, com a produção (física) industrial expandindo-se a +10,5% e o PIB industrial a +10,1%. Chega ao final do governo com um crescimento médio no patamar do maldito governo Collor, inferior ao de todos os outros governos da República – quase com certeza com um “crescimento” negativo neste ano –, a produção industrial com uma queda média de -0,3% e o PIB industrial (ou seja, valor adicionado pela indústria) em 0,75, com a perspectiva de se tornar negativo até dezembro.
O crescimento brasileiro, que era o 36º do mundo em 2010, passou para 182º – entre 189 países – em 2014.
O investimento, que crescia a +21,3% em 2010, foi derrubado para -6,5% em 2014. Quanto à taxa de investimento (o investimento em termos de PIB), que Lula tirou do pífio patamar de 16,4%, do governo Fernando Henrique, e elevou para 19,5% do PIB (2010), Dilma derrubou-a outra vez, para 16,5% do PIB.
A outra conversa fiada – a de que o crescimento com base no aumento do consumo estava esgotado – serviu para derrubar quase pela metade o crescimento médio anual do consumo das famílias, em relação aos oito anos anteriores.
Assim, um país que crescia baseado no investimento e no consumo, ficou sem os dois.
Não é por acaso que a linha da miséria foi rebaixada, por decreto, para menos da metade (disse, na época, o sr. Marcelo Nery, um cortesão que Dilma nomeou para um Ministério e para a presidência do IPEA, no lugar de Márcio Pochmann: “de fato, a média da linha da FGV é pouco mais do que o dobro do valor oficial escolhido” – o valor oficial escolhido foi R$ 70 de renda familiar per capita. É assim que se fabricam “novas classes médias” que moram em favelas e têm como “simbolo” a carteira de trabalho).
O mais importante no que Dilma prometeu fazer em 2010, foram exatamente as questões em que fez o contrário: as privatizações, a entrega do petróleo do pré-sal, o recuo na expansão do ensino público, o fim do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Em suma, estamos diante da fraude promovida à política de Estado. Outra vez, a única comparação possível, é com o governo Collor.
Dilma é um dos poucos presidentes que deixará um país pior do que aquele que recebeu de seu antecessor.
Sabe-se o que Getúlio ou Juscelino ou João Goulart – e, inclusive, o que Sarney ou Itamar – fizeram no governo. Qualquer um deles fez algo – ou mais do que algo – para melhorar o Brasil.
Não é o caso de Dilma. Essa é, precisamente, a questão da qual quer fugir, abafando os outros – isto é, o povo – sob uma campanha de infâmias contra suas adversária.
Daí, essa campanha suja, que esparge lama sobre gente honrada, sem nenhuma consideração moral ou conexão com a realidade – exceto o objetivo de enganar o próximo para continuar no poder – sem nenhum apego à verdade, sem nenhum caráter, totalmente escassa de valores humanos como a honra, a dignidade, sem preocupação alguma (ao contrário, com desprezo) com a coletividade, a Nação, o povo.
Esta é a primeira vez, em toda a trajetória política do país em que uma campanha (e uma campanha de alguém que é presidente) não discute, sequer minimamente, os problemas do país, o que o governo realmente fez ou deixou de fazer. Em vez disso, temos aquela situação aludida por Rui Barbosa:
“A falsidade, que se articula direta e francamente, é um bote de serpente, que se apara, e se repele, evitando as presas do ofídio. Mais grave e mais perigosa do que isso é a mordedura envenenada do inseto, que embebeu o ferrão num vírus pestífero, e com a picada pode empeçonhar uma existência, e gafar uma reputação. A calúnia instilada por suspeitas, por alusões, por meias frases pertence a este ínfimo grau de perversidade e de torpeza. O agente, que a propaga, arranhando a pele da vítima com a farpa ervada contra ela, reserva-se astutamente o subterfúgio de negar a intenção de feri-la, e apontar na indignação do ofendido, no seu grito de dor, a contraprova da veracidade da infâmia que a revoltou” (Rui Barbosa, Obras Completas, V. 20, t. 4, Rio de Janeiro, p. 200, 24/08/1893).
Não estamos, bem entendido, atribuindo ao PT semelhante aberração. Para que Dilma tenha alguma chance de reeleger-se, ela está afundando o partido em quase todo o Brasil.
O peculiar é que não consegue decidir a eleição, mesmo com uma tremenda disparidade de recursos (tempo na televisão, partidos e candidatos a outros cargos que a apoiam, e, claro, dinheiro) em relação à Marina Silva.
Aliás, foi a própria Marina que observou, ao responder, sobre uma pesquisa:
“Vocês acham que com dois minutos de TV, com as estruturas que nós temos, andando esse país inteiro de manhã, de tarde e de noite, chegar onde chegamos, vendo os dois maiores partidos e seus auxiliares tremendo de medo, vocês não acham que é para ficar feliz, para comemorar?“.
Então, a questão é: por que esse fenômeno, que desafia toda a lógica comum ou vulgar?
O fato é que o país está cansado dessa putrefação em que se tornou a vida política no Brasil – e, de resto, a vida incubada pela mídia antinacional, cujas campanhas “moralizadoras” são apenas a podridão maior dessa vida política.
VALE-TUDO
Desde 1990, o neoliberalismo, no Brasil, instalou um vale-tudo por dinheiro que sufoca o país pela mais abjeta falta de princípios. O repúdio a isso é a nossa própria sobrevivência como Nação, pois, sem princípios, sem solidariedade e sem reconhecer em outros uma parte do mesmo todo, não existe Nação.
Dilma tornou-se, exatamente, um espécimen do polo oposto. Aquele em que giram os incapazes de acreditar que o Brasil é uma Nação. Aquele que pretende, com privilégios ao banditismo monopolista externo, tornar o Brasil uma bela colônia fornecedora de matérias-primas e produtos agrícolas para os países imperialistas – ou, ainda, uma estação turística para americanos, europeus ou japoneses. Quanto aos brasileiros, constituirão uma criadagem de primeira ordem. Que mais podem ser? Segundo Dilma, temos de entregar até os aeroportos, porque não temos capacidade de gestão – apesar de termos construído todos esses aeroportos.
Mas existem as eleições e o povo não está satisfeito com esse destino de lacaio – nem com a candidatura de Dilma ao posto de feitora, pois é assim que ela entende a Presidência da República.
CARLOS LOPES