Sem patriotismo, sem honra, sem voto
Mentir e difamar é o que resta a quem quebrou o Brasil com os juros altos e a desnacionalização
(HP 24 e 25/09/2014)
Dilma, como já dissemos outro dia, não tem um voto de seu – com a provável exceção do próprio. Os votos são de Lula – e é assim, com votos que não são seus, apelando a que votem nela não por si, mas por outro, que tem a pretensão de se reeleger.
O que não a impede de, frequentemente, descarregar em cima de Lula os problemas que são seus, isto é, os problemas do governo Dilma – ou diluir, nos oito anos de Lula, o desastre que provocou, como se fosse o mesmo governo.
Não é o mesmo governo – e não é por acaso que, depois de três anos e nove meses no Planalto, Dilma não tenha angariado um voto a mais de seu do que tinha em 2010. Com um governo desastroso, com o menor crescimento da História da República, com os juros mais altos do mundo, com a entrega do campo de Libra, com a volta das privatizações e da submissão pronunciada a Washington, que voto mais ela poderia conquistar?
A decorrência é que sua campanha tornou-se um chavascal de baixarias, uma produção em série de difamações, um esgoto de mentiras a céu aberto.
É verdade, leitor, há quem esteja em situação difícil numa eleição, e nem por isso desande a secretar imundícies contra adversários. Mas não é esse o caso.
Aqui estamos diante de um grave problema histórico, político e moral. Na campanha pelo impeachment de Collor, publicamos uma vez que não tirar o hoje dilmista Collor do governo, seria a falência moral do país. A questão é que o governo já falira moralmente – e o país não podia ou não devia ser infectado por essa falência moral.
Em sua entrevista ao “Bom Dia Brasil” (ver matéria nesta página), a senhora Rousseff, ao responder uma pergunta sobre a campanha de difamação que tem promovido contra Marina Silva, disse que “tudo o que eu falo está no programa da candidata“.
É mentira. Mas, além disso, os ataques que fez ao programa de Marina foram exatamente naquilo que ela, Dilma, concorda – e concorda tanto, mas tanto, que já aplica essa política no país há tempos. Aliás, o que existe de ruim no programa de Marina são exatamente as questões em que esse programa não se separa de Dilma. Mas, como disse Marina, pelo menos há o que discutir. Dilma nem programa tem – logo, tornou a discussão programática inviável.
A peça da propaganda de Dilma a que se referiu a entrevistadora – imagens de uma família e alimentos desaparecendo da mesa – tem um estranho parentesco com “O Judeu Süss”, filme alemão de 1940. O autor deste artigo, durante alguns dias, não conseguiu compreender o sentimento de que havia algo de comum entre essa propaganda dilmista e o nojento filme nazista. Até que percebeu o óbvio: a semelhança está no total descomprometimento com qualquer verdade, na ausência de qualquer limitação moral para mentir, na falsidade em estado quase puro – e esse “quase” é somente porque é um sacrilégio utilizar a palavra “puro” para classificar uma tentativa de estuprar ideologicamente a população. Em suma, a semelhança está no total desprezo pela inteligência do espectador – ou seja, do povo.
Joga-se agora, como naquele triste passado, com a ideia de que a maioria das pessoas, por ter caráter, honra, dignidade – logo, consideração para com a verdade – não vai perceber que a propaganda é completamente vazia dessas qualidades humanas. Portanto, vai acreditar na propaganda por supor que quem a fez tem essas mesmas qualidades, pois é difícil alguém supor que existam pessoas sem caráter, sem honra, sem dignidade, sem nenhuma consideração para com a verdade. Manipula-se, portanto, o que há de melhor no ser humano, para fazê-lo acreditar numa mentira.
É verdade que isso só funciona quando não há ninguém que denuncie a fraude. E, no Brasil, existe quem denuncie essa fraude.
Já se viu, neste país, muitas campanhas eleitorais mentirosas. Mas a campanha atual de Dilma não é apenas mentirosa. Ela é mentirosa a ponto de acusar a adversária de coisas que ela, Dilma, já fez e está fazendo. É mentirosa a ponto de, quando alguém aponta um número ou um fato correto, a candidata insistir que a mentira é verdade – e que a verdade, justamente apontada, é mentira.
Assim, Dilma forçou a entrada da Shell e da Total no maior campo petrolífero do mundo, o de Libra, no pré-sal, sem que houvesse necessidade alguma dessas multinacionais para a exploração do petróleo – até porque a Petrobrás não apenas descobriu o campo, como é a empresa mais avançada do mundo nesse tipo de exploração.
Assim, Dilma promoveu a maior doação, na História do país, de dinheiro público aos bancos, sob a forma de juros. Houve duas escaladas de aumentos de juros – uma de cinco vezes seguidas e a última de nove vezes seguidas. O juro básico no Brasil – e, portanto, todos os demais juros – é o maior do mundo.
Assim, desde a sua posse, em janeiro de 2011, o governo Dilma anunciou que ia reduzir o financiamento dos bancos públicos às empresas. O BNDES, em termos reais, reduziu o valor total de seus financiamentos às empresas, em relação a 2010, em -21,58% (2011), -17,85% (2012), -5,17% (2013) – e, no primeiro semestre de 2014, esses desembolsos já caíram -5% em relação ao mesmo semestre de 2013.
No entanto, segundo a propaganda de Dilma, quem coloca em perigo o pré-sal, quem quer aumentar os juros e quem quer reduzir o financiamento dos bancos públicos é Marina Silva.
Parece o incêndio do Reichstag – pelo menos é o que nos vem à memória, quando se trata de acusar os outros pelos malfeitos do próprio acusador.
Houve, no passado, alguns indivíduos que achavam que na guerra valia tudo – e, pior do que achar, levaram à prática esse repugnante desígnio.
O que isso produziu foi um repúdio tão grande, em todos os lugares da Terra, que levou à assinatura de alguns acordos em Genebra – e, também, a alguns enforcados em Nuremberg.
Hoje, por mais que se cometam crimes de guerra, ninguém defende que eles são parte da guerra, e até os americanos são obrigados a mandar para a cadeia os executores de My Lai ou Abu Graib, quando se descobrem essas aberrações que fazem a espécie humana se levantar em repulsa.
Se na guerra, o acontecimento mais terrível de todos, é assim – se até na guerra há limites que não podem ser ultrapassados -, muito mais é assim numa campanha eleitoral para decidir, de acordo com as leis, de forma pacífica, os governantes do país.
Em síntese, é preciso ter algum, pelo menos mínimo, apego à verdade. Não é possível dizer qualquer coisa – muito menos qualquer porcaria, se os leitores nos permitem o termo.
Nós estamos decidindo o destino do país. Afundar essa questão em mentiras e infâmias para que o povo não possa decidir livremente, somente para tentar se reeleger através da difamação, é não somente ilícito, como ilegal – ou seja, é um crime.
Porém, é um crime que rapidamente será punido. Aliás, já está sendo. No momento, o que Dilma está conseguindo com essa campanha suja é apressar o seu fim político. E, também, levar o seu partido à ruína. Tem, aliás, por seu partido, a mesma consideração que mostrou por seus companheiros, entre os quais alguns dos principais dirigentes do PT, acusados e condenados injustamente.
CARLOS LOPES