Ainda bem. Afinal de contas, Bolsonaro simplesmente tentou convencer a OMS do ‘sucesso’ de seu charlatanismo medicamentoso e de que sua tese genocida da imunidade de rebanho era o máximo
Jair Bolsonaro usou o cercadinho na quarta-feira (3) para reclamar do diretor da OMS, Tedros Adhanom. Disse que a autoridade mundial em saúde é uma “pessoa controversa”. Ele ficou irritado porque tentou arrastar Adhanom para sua cruzada negacionista contra as vacinas e não conseguiu. Queria que a OMS divulgasse uma nota se posicionando contra a vacinação de crianças.
Como a OMS não é irresponsável, Adhanom, evidentemente, não aceitou a sugestão de Bolsonaro. Até porque, o capitão cloroquina não é referência para ninguém em termos de combate à pandemia. Pelo contrário, ele é visto no mundo todo como um pária aliado do vírus. Além do mais, já há várias agências do mundo, inclusive a americana FDA, recomendando a vacinação de crianças.
A OMS, que estimulou a vacinação em todo o mundo, considera mais recomendável, nos casos das crianças, aguardar os estudos que estão sendo conduzidos em diversos países, para então emitir um parecer definitivo. Bolsonaro queria uma recomendação já contra a vacinação das crianças. E, se dependesse só dele, a ordem seria para proibir qualquer vacinação contra a Covid-19.
A conversa de Bolsonaro com Adhanom se deu durante a reunião do G20 na Itália. Foi, aliás, uma das poucas conversas bilaterais conseguidas pelo capitão cloroquina durante todo o evento.
Ele aproveitou os holofotes da conversa para mentir mais uma vez. Repetiu que o Supremo Tribunal Federal impediu o seu trabalho na pandemia. O seu “trabalho” era simplesmente sabotar vacinas, permitir aglomerações e liberar o uso de máscaras. O diretor da OMS ficou só ouvindo a arenga negacionista. Depois, perguntou se o Brasil podia ajudar de alguma maneira os países pobres com vacinas.
Fazendo o que sempre fez desde o início da pandemia, ou seja, inventar mentiras sem nenhum escrúpulo, apontar “estudos” apócrifos, citar “grandes cientistas” e manipular supostas posições de entidades contra o uso de vacinas, Bolsonaro pretendia usar a posição de expectativa da OMS quanto à vacinação de crianças para reforçar suas posições retrógradas e anticentíficas.
Para isso, ele se referiu a Adanom na conversa do cercadinho. Questionou, de forma retórica, se um apoiador do cercadinho vacinaria seus dois filhos. Antes da resposta, ele interrompeu. “Não responda: você tem duas crianças aqui, vão ser vacinadas? Ouçam o Tedros, da OMS. Ele é uma pessoa controversa também, mas ele fala sobre essas questões”. Uma insinuação clara de Adhanom estaria condenando a vacinação de crianças. O que não é verdade.
Em sua página na internet, a organização afirma que “mais evidências são necessárias sobre o uso das diferentes vacinas contra Covid-19 em crianças para poder fazer recomendações gerais sobre a vacinação de crianças contra Covid-19”.
Ou seja, a posição é de expectativa quanto aos diversos estudos que estão em andamento, inclusive não só os ensaios clínicos como também os estudos que estão sendo conduzidos na própria pandemia.