“Não sei por que alguém acredita no que a gente fala”, disse o presidente do Banco Central, depois de passar dois anos defendendo que as taxas de juros tinham que ser as mais altas do mundo porque havia “excesso de demanda”
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vem estrangulando a economia brasileira ao praticar, desde o final do governo passado e no início do atual, as maiores taxas de juros no mundo com o pretexto de que a economia e a demanda estariam superaquecidas.
Mas para espanto dos presentes num evento em São Paulo, nesta sexta-feira (4), ele disse que não sabe porque acreditam nele. “Não sei por que alguém acredita no que a gente fala”, disse Campos Neto.
Ou seja, esse tempo todo ele insistiu que a inflação era de demanda e que tinha que manter os juros altos para desaquecer a economia e, agora, diz que não era para acreditar nele.
Usou as atas do Copom (Conselho de Política Monetária) do Banco Central para repetir a ideia fixa de desaquecer a atividade da economia, de reduzir o crédito e os investimentos e insistia que, para que isso ocorrese, era necessário manter os juros nas alturas.
Agora, simplesmenteu, ele afirmou que “economistas – leia-se ele e seus subordinados – vêm errando há pelo menos três anos as estimativas para o PIB brasileiro”.
É verdade que da parte dele a alegada “demanda excessiva” era só pretexto mesmo, porque seu objetivo real, ao manter os juros elevados, era transferir os R$ 740 bilhões anuais do Orçamento da União (valor pago nos ultimos 12 meses) para o pagamento dos “serviços financeiros” aos bancos, ou seja, era tirar da sociedade, da produção e do consumo para encher os cofres dos banqueiros.
Por isso, inclusive, mesmo com a pressão do presidente Lula, que defende a queda dos juros e a ampliação dos investimentos públicos, ele praticou uma queda “a conta-gotas” dos juros e atrapalhou muito os investimentos. Aliás, com a queda da inflação, os juros reais – descontada a inflação – vêm se mantendo praticamente inalterados e proibitivos.
Em praticamente todas as atas das reuniões do Copom, dirigidas por ele e seus diretores, o argumento era o mesmo. De que o consumo “está muito resiliente”, o emprego “não está cedendo como devia”, a renda “não se retrai no ritmo que é necessário”, etc. A “solução” para o “problema da demanda aquecida” era sempre o mesmo. Mais juros altos, mais arrocho no crédito e mais estrangulamento da produção. Tudo com o objetivo de provocar a recessão e aumentar o desemprego.
O fato é que o Brasil, o seu povo e os empresários são tão duros na queda, que mesmo com toda essa pressão colocada sobre eles, com os juros estratosféricos e a secura de crédito, a economia não afunda como gostaria e pretendia Campos Neto. Por causa disso ele diz que os economistas vêm errando suas avaliações. Para ele, e para os banqueiros que ele representa, o objetivo é especulação. Para isso eles provocam a recessão.
A produção, o emprego, os salários, são “problemas” para essa gente. Eles os combatem porque essas atividades consomem os recursos que eles querem só que para a sua ciranda.
O cinismo é tão alto que Campos Neto confessa que usa qualquer pretexto, mesmo que o que defenda não tenha nenhuma base em estudos econômicos com qualquer tintura de seriedade. “A gente não tem estudo que correlacione o custo de intermediação financeira com o crescimento de PIB potencial”, confessou Campos Neto.
“Mas a gente sabe que uma coisa está ligada a outra. E tem essa conversa sobre se o PIB potencial aumentou”, afirmou. Ou seja, sua conversa é pura enganação e charlatanismo. Sua defesa dessas medidas contra o país não têm nada a ver com qualquer ciência econômica. Têm um único e claro objetivo: o enriquecimento de seus amos e nada mais.
O Governo federal deveria intervir no Banco Central com urgência.