Fazenda descarta alterar subsídios e isenções. Meta do ministro “é incluir, nas normas do novo arcabouço fiscal, o máximo possível de despesas”
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, em entrevista à Folha de S. Paulo desta quinta-feira (14), que “é preciso cortar gastos ‘na carne’ e há pressa em anúncio”.
“Se a gente consegue se antecipar e criar uma surpresa positiva para o mercado em termos de choque fiscal, ajuda”, acrescentou Campos Neto.
O mercado precisa de “uma percepção de que, de fato, o governo está fazendo um corte de gastos que seja relevante não só no curto prazo, mas também de forma estrutural para frente”, arrematou o dirigente da instituição, poucos dias antes de terminar seu mandato e voltar a operar no mercado financeiro.
O governo Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, vem postergando, há semanas, o anúncio de um pacote de cortes que está sendo defendido pela área econômica do governo, em atendimento aos reclamos “mercado” e de sua mídia.
Integrantes do governo, inclusive ministros, manifestaram publicamente posição contrária ao pacote de cortes nos programas sociais e investimentos e o partido do governo também se posicionou contra assinando manifesto criticando as medidas. Os autores consideram que elas só atendem aos interesses do sistema financeiro em detrimento do programa de governo de Lula.
Vários economistas apontaram que os cortes deveriam ser feitos nos gastos com juros, que consomem mais de R$ 800 bilhões por ano. Além disso, há cerca de R$ 500 bilhões em isenções fiscais que não estão sendo enfrentadas pela equipe de Haddad.
O ministro da Fazenda segue insistindo nos cortes em programas sociais e em investimentos públicos para buscar a todo custo a redução do déficit público deste ano e do próximo para zero. Para isso, ele já se reuniu com vários ministros para pressionar no sentido de realização de cortes em programas do governo.
Perguntado nesta quarta-feira (13), o ministro Haddad não quis detalhar as medidas previstas no pacote. Descartando medidas que afetem as contribuições de setores privilegiados da sociedade, ele disse que o “princípio” por trás das medidas “é de incluir, nas normas do novo arcabouço fiscal, o máximo possível de despesas”. Ou seja, não haverá mudanças na arrecadação. Serão apenas os cortes nos programas sociais e nos investimentos.
Ele também se somou a Campos Neto na perspectiva de que esses cortes sejam sustentáveis, leia-se, a longo prazo. “A regra geral foi estabelecida no ano passado. E aquilo que está saindo da regra geral, a gente tem que tentar colocar no mesmo guarda-chuva para que ele seja sustentável no tempo. Esse é o princípio”, afirmou Haddad.
“A programação é arcabouço [fiscal], neste momento. Nós estamos trabalhando com o fortalecimento do arcabouço. […] Os subsídios vão continuar sendo enfrentados, mas nesse conjunto de medidas nós estamos trabalhando a questão, a dinâmica do gasto, tá certo?”, disse Haddad aos jornalistas.
A ironia no título da matéria, para alguns fica clara, mas para outros pode gerar a expressão: “como assim?