Presidente do BC defende cortes de gastos e chantageia com elevação de juros
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, saiu em defesa da agenda de “arrocho fiscal” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de cortes de investimentos públicos e de assalto aos direitos sociais. Segundo Campos Neto, as medidas são necessárias para afastar “a falta de confiança de parte do mercado” ante ao “arcabouço fiscal”.
“Está ficando claro que se o Brasil quiser ter juros baixos de modo estrutural, precisa criar algum tipo de choque fiscal positivo em algum ponto do tempo”, afirmou o presidente do Banco Central, em evento realizado pela 20-20 Investment Association, em São Paulo, na segunda-feira (21).
“Isso é muito importante para nós, no BC, para que possamos reduzir os juros de maneira sustentável. Porque nossa missão é entregar a meta de inflação e é muito difícil fazer isso quando não há perspectiva de que o fiscal está ancorado”, afirmou.
Campos Neto, de saída da presidência do BC no final do ano, se orgulha de ter elevado a taxa básica de juros (Selic) de 2% para a máxima de 13,75%, entre 2021 e 2022, num período de crise econômica e em meio à pandemia de Covid-19, que causou a mais grave crise sanitária deste país. Essa ação do BC não só prejudicou o endividamento de diversas empresas, que tiveram que tomar crédito muito mais caro no período para não fechar as portas, mas também agravou o gasto do governo com o pagamento de juros da dívida pública – que hoje já supera os R$ 800 bilhões ano.
Ontem (22), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmou que o governo deve “restringir as despesas“. Segundo ele, as despesa “devem cair como proporção do PIB, se o PIB continuar crescendo acima dos 2,5%, que é o teto do alcance fiscal”.
Desde 2015 são realizados agressivos “ajustes fiscais”, “reformas” da previdência e trabalhistas, além do surgimento de mais regras rígidas em controle de despesas, como o “Teto de Gasto” do governo de Michel Temer, com a justificativa de equilibrar as contas públicas para atrair mais investimento externo, mas que na prática essas ações afundaram o Brasil num ciclo de crise econômica e de baixo nível de investimento, que agravaram a desindustrialização, o nível de desemprego, a precarização do trabalho, o declínio da renda e o aumento da fome no país.
Apesar de quase uma década de “choques fiscais” – sempre em cima do povo – para atrair a benção do chamado “mercado” (isto é, um pequeno grupo de bancos locais e estrangeiros), a equipe econômica do governo Lula decidiu continuar com a prática de austeridade fiscal e agora investe contra os mínimos de investimentos constitucionais para saúde e educação e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) – que atende às pessoas doentes miseráveis – entre outros direitos sociais, para sustentar o arcabouço fiscal vigente (que substitui o teto fiscal) e metas de superávit primário, que ela mesmo criou.