Qualquer estudante de segundo ano de economia sabe que a inflação não era de demanda e que caiu por conta do “abrasileiramento” dos preços dos combustíveis
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, criticado por praticamente todos os segmentos econômicos do país, com exceção, obviamente, dos agiotas e operadores do mercado financeiro – que ele defende com unhas e dentes – passou boa parte de sua explanação no Senado, nesta quinta-feira (10), tecendo elogios a si próprio.
Disse que a autarquia “fez um bom trabalho” para que a queda da inflação se desse “com o mínimo de custo possível”. O “bom trabalho” de Campos Neto foram a estagnação da economia, os fechamentos de grandes empresas, a paralisação das montadoras, as concordatas e a explosão da inadimplência das famílias. Já o “mínimo custo possível”, alardeado por ele, foi a transferência de quase 800 bilhões de reais dos cofres públicos para os rentistas só nos últimos doze meses.
O Copom foi obrigado a reduzir a Selic de 13,75% para 13,25% depois de quase um ano nessa loucura e Campos Neto confessou que o objetivo desse tempo todo de juros extorsivos era “contrair” a economia.
“Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, disse um trecho da ata do BC, divulgada nesta quarta-feira (9).
Ao contrário de sua cantilena aos senadores, os seus juros pornográficos não tiveram nenhum papel na atual queda da inflação. Na verdade, pioraram as coisas ao aumentar os custos das empresas em pleno esfriamento e contenção da demanda.
A decisão de Campos Neto de encher as burras dos possuidores de títulos com dinheiro público por um longo período não teve, portanto, a mínima relação com a queda da inflação. Teve, sim, com a bajulação aos bancos.
Qualquer estudante de segundo ano de economia sabe que a inflação não era de demanda e que sua queda se deu, primeiro, por conta do “abrasileiramento” dos preços dos combustíveis e, segundo, porque o dólar caiu e os preços dos alimentos cederam no mundo todo.
A inflação começou a cair assim que o novo presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, anunciou a mudança da política de preços da estatal e se iniciaram as quedas de preços nos combustíveis e no gás de cozinha para os brasileiros.
Aliás, Campos Neto só começou a baixar os seus juros criminosos – o que ocorreu na última reunião do Copom, realizada na semana passada – porque percebeu que quem acabaria “derrubado” seria ele próprio se não começasse a ceder. Tentar capitalizar a recente queda da inflação no Brasil como sendo resultado de seu trabalho, como fez o cara de pau no Senado, beira, portanto, ao ridículo.
A inflação no Brasil e no mundo foi causada pelo choque de oferta resultado do desarranjo produtivo pós-pandemia e pelas sanções impostas pelos Estados Unidos aos produtos da Rússia, em consequência do conflito da Ucrânia. Ela cedeu no Brasil com a queda dos preços dos combustíveis e a queda foi reforçada com a baixa dos alimentos no mundo. Campos Neto, ao contrário do que ele diz, só atrapalhou e muito. Aliás, continua atrapalhando, pois a redução em 0,5% mantém o Brasil como país que, disparadamente, oferece a maior taxa real de juros do mundo aos rentistas e especuladores.